Este mês, a revista americana “Monitor on Psychology”, publicação da APA (American Psychological Association), associação que representa os psicólogos nos Estados Unidos da América e do Canadá, tem como tema central a “Terapia Sexual para o século XXI” (Sex therapy for the 21st century). Salienta que a maior parte da terapia sexual passa por uma intervenção psicoterapêutica, pelo que os psicólogos têm aqui um enorme papel a desempenhar. Os psicólogos têm demonstrado que o foco deve ser colocado em intervenções psicológicas que têm provado serem eficazes.

Tratamento passa pela psicoterapia, mas hoje ainda continua muito baseada na farmacologia

Já passou mais de um século desde que os investigadores William Masters e Virginia Johnson propuseram as primeiras técnicas para o diagnóstico e tratamento da disfunção sexual. Estas técnicas, pioneiras na década de 1960, serviram de base à moderna terapia sexual e muitas delas ainda continuam hoje a ser usadas.

O Viagra, primeiro tratamento oral para a disfunção erétil, veio revolucionar a forma como passaram a ser realizados os tratados dos problemas sexuais. Hoje, duas décadas após o seu lançamento no mercado, o tratamento dos problemas sexuais continua a socorrer-se maioritariamente da farmacologia.

Descobertas recentes, em particular o trabalho de investigação coordenado pela Doutora Marita McCabe, projetam o tratamento dos problemas sexuais numa outra direção. Concluíram que os fatores psicossociais contribuem claramente para os problemas sexuais. Mesmo quando a disfunção sexual incide no homem, e pode ser tratada com medicamentos como o Viagra, ele experimenta consequências psicológicas que também têm que ser abordadas. Daí os investigadores terem proposto que mulheres e homens com problemas sexuais têm que necessariamente receber tratamento psicológico (embora geralmente acompanhado com uma avaliação e tratamento médico).

Razão para que hoje os terapeutas sexuais recorram cada vez mais às técnicas psicológicas como a psicoterapia individual ou psicoterapia de casal, que têm sido os principais pilares do tratamento das dificuldades sexuais.

É necessário a perspetiva do casal e perceber o papel do parceiro

Até agora falámos deste assunto concentrando a nossa atenção no problema sexual ao nível individual. Essa tem sido a perspetiva da maioria dos estudos e, consequentemente, a maioria das técnicas e tratamentos utilizados têm incidido no individuo. Mas é sabido que os problemas a este nível, muitas vezes, é um problema do casal, e como tal, tem que se perceber o papel do parceiro. Quando existe uma disfunção sexual, este problema torna o sexo mais stressante e menos prazeroso para o parceiro, logo não admira que isso afete o desejo sexual.

De facto, as pesquisas que têm sido realizadas sobre o papel dos parceiros no funcionamento sexual e na satisfação são realmente críticas e começam a mudar o modo como os terapeutas sexuais tratam os pacientes e os seus parceiros. Cada vez mais, o tratamento inclui o recurso à psicoterapia de casal.

Ver o sexo de uma outra forma

Apesar de hoje o sexo ser um tema menos tabu do que quando Masters e Johnson iniciaram as suas pesquisas nos anos 1960, muitas pessoas ainda continuam a ficar coradas quando se fala sobre o tema. É que, apesar de vivermos numa cultura muito sexualizada, muitos de nós não fomos ensinados a ter conversas saudáveis sobre a sexualidade. Por outro lado, somos inundados todos os dias com mensagens sugerindo que deveríamos ter uma vida sexual incrível, o que acaba por nos deixar com muita ansiedade e stress. Por tudo isto, muitas pessoas ainda se recusam a procurar ajuda para seus problemas sexuais, quer por vergonha, quer porque não conseguem assumir os seus problemas perante os outros.

Mas há que ver o sexo de uma outra forma. Apesar de se saber que os problemas sexuais podem ter uma componente física, e que questões como o género, efeito de outras doenças e envelhecimento, têm que ser consideradas, maioritariamente o tratamento passa pela psicoterapia. De facto, os psicólogos têm aqui um papel fundamental. Eles garantem um ambiente de confiabilidade e confidencialidade, necessário numa relação psicólogo-paciente, e estão tecnicamente habilitados para um tratamento eficaz dos problemas ao nível sexual, que passa geralmente pelo recurso à psicoterapia individual e de casal.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

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