Em nome da laboriosa e sempre interessante rotina evolutiva do homem sobre o solo terráqueo, gosto de confrontar os leitores com ideias e alegações aparentemente dissemelhantes para que possam tirar daí alguma ilação pessoal e, com isso, evoluir apropriadamente e de forma livre. Hoje não vai ser diferente. Portanto, vamos a isso mesmo!

A maioria saberá que a palavra “ciência” vem do latim scientia, e pode significar: 1) Conhecimento. 2) Saber que se adquire pela leitura e meditação. 3) Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objecto, especialmente aos obtidos mediante a observação, a experiência dos factos e a um método próprio.

Tudo isto para lhes dizer, que a ciência em si mesmo não tem sido nem boa nem má. Positivas e negativas, boas e más, enquanto dicotomias usadas para se falar de coisas distintas, embora muitas vezes complementares, são todas as formas que utilizamos com o nosso conhecimento adquirido no empenhamento do método em questão, seja ele qual for. A esse respeito, Albert Einstein afirmou um dia: “Tudo o que os homens fazem ou pensam está associado à satisfação das suas necessidades ou à fuga da dor que comummente o aflige”.

Normalmente, na ciência que se conhece e que se pratica, o que verdadeiramente impera é a verdade relativa, momentânea, adogmática, impermanente. Ela aparece de certo modo aberta a futuros questionamentos, quando não, à total alteração de seus conceitos.

Hoje mais do que nunca - a maioria dos homens caminha para uma compreensão muito mais apurada da sua dependência da fé, da fé religiosa, da crença em algo infinitamente superior. A propósito, a palavra fé vem do latim fides, que significa “fiar-se de”, “ter confiança”. Pois, essa confiança pode inúmeras vezes ir muito além da própria religião. Exactamente, no momento em que o homem opta por algo de importante na vida, entrega-se ele a esse algo confiando plenamente que esse caminho possa conceder-lhe alegria e felicidade.

Veja na próxima página a continuação do artigo..

Muito recentemente, um radiologista muito conceituado chamado Andrew Newberg e um psiquiatra não menos acreditado de nome Eugene d’Aquili, conduziram experiências fantásticas na procura por bases biológicas da fé religiosa. Ambos os pesquisadores submeteram freiras franciscanas e monges budistas tibetanos a exames de imagens encefálicas. A pesquisa foi feita durante um período de orações das freiras e durante as meditações dos monges budistas. Os resultados foram muito interessantes e grandemente reveladores. As imagens encefálicas mostraram reduções das actividades eléctricas da região do “lobo parietal” de ambos os grupos estudados. Essa região cerebral é responsável pela nossa orientação espacial, ajudando-nos a distinguir distâncias, ângulos e, até mesmo, a diferenciar os limites impostos pelo nosso próprio corpo no espaço. Sem ela, tornar-se-ia impossível situarmo-nos espacialmente, nem física e nem mentalmente. Ainda, segundo os pesquisadores, a diminuição dessa actividade no cérebro poderia ser responsável pela produção das sensações de unidade com um todo maior, de transcendência espiritual, experiências místicas comummente relatadas pelos religiosos mais fervorosos. Andrew Newberg é, actualmente, um dos maiores expoentes do novo ramos das neurociências, a neuroteologia.

Nas últimas duas décadas se tem tornado mais evidente o crescente interesse que os Ocidentais nutrem pela busca e prática do Yoga, Meditação e pelas experiências místico-religiosas. O Yoga foi desenvolvido na Índia, e os seus mais antigos textos afirmam que o seu objectivo principal é o desenvolvimento de uma consciência mais ampla, uma auto-consciência ou uma hiperconsciência. Um texto designado por “Yoga-Bhãsya de Vyasa, considerado sagrado pelos hindus, resume essa orientação essencial na seguinte fórmula: “Yoga é êxtase”. Esta aspiração ao êxtase e à transcendência é tão antiga quanto a própria humanidade, e podemos encontrar esse desejo de superar a consciência mundana e o próprio ego em inúmeras obras erigidas nas mais diversas civilizações, como as pinturas rupestres da Europa Meridional, ou ainda, nos túmulos paleolíticos do Oriente Médio.

A Meditação, que também faz parte do sistema filosófico do Yoga, tem por si mesmo atraído a atenção do mundo Ocidental, tornando-se cada vez mais popular nas últimas décadas.

Até há muito pouco tempo atrás, falar de consciência era quase proibido nos meios científicos mais ortodoxos, pois, sendo tão impalpável e imponderável, tal conceito constantemente fugia do escopo académico tradicional, tornando-se, quando muito, um vago objecto de divagação filosófica.

A conclusão que podemos chegar neste nosso actual estágio das chamadas neurociências é que, qualquer evento por nós realizado, qualquer mínima actividade ou qualquer ínfimo pensamento que cruze os céus da nossa mente, está sempre associado à activação de complexos circuitos neuronais, e isso talvez inclua todas as nossas supostas experiências místico-religiosas e espirituais. Ora, tais evidências, compelir-nos-á a crer que se Deus, ou seja lá como chamem a “Força Motriz” do Universo, realmente existe, e o único lugar onde Ele poderia manifestar a sua existência para todos nós humanos seria dentro dos complexos padrões neuronais pertencentes às estruturas fisiológicas do nosso encéfalo.

Prometo: abordarei mais tarde esta tão importante matéria!

Bem Hajam!

CARLOS AMARAL

Veja as entrevistas com o autor no Programa SAPO Zen:

Convidado Carlos Amaral

O Autor:

Carlos Amaral, Venerável Lama Khetsung Gyaltsen

Mestre em Naturopatia;Especializado em Medicina Ortomolecular; Medicina Homeopática; Medicina Homotoxicológica; Medicina Ayurvédica e Tibetana;Doutorado em Religiões Comparadas e em Metafísica;Investigador em Psicologia Transpessoal & Regressão Memorial;Professor de Budismo, Meditação Tibetana, Raja-Yoga, Kryia-Yoga e Karma-Yoga; Autor e Palestrante.

Contactos:

email:carlos.amaral@netvisão.pt

http://www.tsong-kha-pa.com/index.hmtl

967 552 386
912 120 868

Coordenação de Conteúdos:
Heloisa Miranda
email: sapozen@sapo.pt
Veja o programa SAPO Zen: zen.sapo.pt