A hipnose «não é mais do que uma focalização da nossa consciência que fica como que estreitada, dirigida a um só tema. Este estado que dizemos modificado da consciência e que, assim pensado, pode parecer ser algo estranho, acontece, no entanto, a todos nós no dia a dia, quando deixamos a mente vaguear e nos alheamos do que nos rodeia», esclarece o médico de medicina interna António Pais de Lacerda. Nesse estado, a pessoa deixa de ter o habitual sentido crítico e/ou céptico, aumentando a sua receptividade a sugestões.

Segundo o especialista, «em todas as situações de utilização da hipnose, é a própria pessoa que está a ser tratada que vai ajudar ativamente, encontrando as suas próprias resoluções (mesmo que se estivesse no seu estado de consciência habitual nunca as considerasse possíveis)». «As técnicas utilizadas são o relaxamento profundo, utilizando a respiração, a visualização/imaginação ativa, a regressão, a dessensibilização em relação a medos e fobias e técnicas de modificação da perceção da dor com recurso à utilização imaginária de uma substância anestésica, ou mesmo à visualização da remoção do fenómeno causador da dor», descreve ainda.

«Alguns estomatologistas utilizam desde há muito tempo a hipnose, mas esta também se aplica à dor do parto ou à fibromialgia», exemplifica António Pais de Lacerda. Um estudo apoiado pelo National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) demonstrou que a auto-hipnose diminui os níveis de dor e de ansiedade de mulheres que têm de se submeter a uma biopsia mamária.

Contraindicações

Desde que praticada por um profissional com experiência, a hipnose é uma terapia segura, sendo que sob hipnose clínica a pessoa nunca pode ser forçada (ou sugestionada) a fazer algo que seja contra os seus princípios morais e a sua vontade. «A pessoa mantém o controlo durante toda a sessão, lembrando-se habitualmente de tudo o que se tenha passado, a não ser que haja motivos terapêuticos em contrário. A hipnose processa-se num estado acordado, mas com a atenção focalizada», esclarece.

Os benefícios da hipnose no combate ao tabagismo

A hipnose é apontada por duas prestigiadas entidades norte-americanas como uma boa solução para deixar de fumar. A American Cancer Society defende mesmo a hipnose como uma técnica eficaz para deixar de fumar pois permite alterar crenças e atitudes, apontadas como factores que nos impedem de concretizar objetivos. Os especialistas realçam ainda que pode promover a confiança e a sensação geral de bem-estar, o que motiva o tabagista a não fumar.

Os resultados foram ainda mais notáveis quando a hipnose foi combinada com outros métodos de cessação tabágica. A Ohio State University Green, nos EUA, considera a hipnose um método de cessação tabágica mais eficaz no caso dos homens. Ainda assim, os especialistas aconselham-na também ao sexo feminino pois foi comprovado que quem recorre à hipnose tem maior probabilidade de sucesso do que quem tenta deixar de fumar sem recorrer a ajuda. Alerta-se para o facto de a motivação, para deixar de fumar, ser primordial no sucesso da hipnose.

Texto: Rita Caetano com António Pais de Lacerda (médico de medicina interna)