Segundo o Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), José Saramago (1922-2010) “surge assim retratado, pela primeira vez, através da memória que dele ficou nos arquivos”.

Nesta exposição, “José Saramago e uns Documentos do Diabo”, no âmbito das celebrações do centenário do escritor, traça-se o percurso do único prémio Nobel da Literatura em língua portuguesa, inclui os processos da polícia política da ditadura Estado Novo, PIDE/DGS, “movidos no âmbito da vigilância habitualmente exercida sobre quem suscitava suspeitas de não alinhamento aos ideais vigentes”, e documentos pessoais, como uma carta que escreveu à filha, Violante Saramago Matos, em 1973, quando da detenção desta na sequência do seu envolvimento nas comemorações do 1º de Maio daquele ano.

O ANTT destaca ainda uma carta de Paris, escrita pelo músico Luís Cília, a propósito da colaboração entre ambos num trabalho discográfico, em que o cantor e compositor utilizaria letras de Saramago.

Na mostra está também patente o “processo de habilitação do jornal O Diabo, em 1973, com propriedade e edição de José Saramago e direção de Mário Ventura Henriques, e uma carta aberta de divulgação dos objetivos e intenções deste semanário de informação e crítica, cujos signatários eram, de entre outros, José Cardoso Pires, Alice Vieira, Óscar Lopes, Borges Coelho e Orlando Costa”.

Estes dois documentos constam do fundo do antigo Secretariado Nacional de Informação e no arquivo particular do político socialista Tito de Morais, respetivamente.

Do arquivo fotográfico do jornal Diário de Lisboa mostram-se “algumas fotografias de Saramago obtidas ao longo dos anos, individualmente ou em grupo”.

A mostra bibliográfica centra-se “numa panóplia de títulos da sua obra, traduzidos nas mais variadas línguas, tais como japonês, bengali, estónio, romeno, albanês, castelhano, entre outras”.

Estas traduções, como as de outros autores portugueses, resultaram do programa de apoio à tradução, ativo durante mais de 30 anos, primeiro pela Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas, depois pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e Bibliotecas, do universo do ANTT, e, desde 2020, pelo programa LATE – Linha de Apoio à Tradução e Edição.

A exposição, que percorre as várias etapas da vida do escritor português, está patente até 6 de setembro.

José Saramago descende de uma família de camponeses de Azinhaga, no Ribatejo, onde nasceu, tendo-se fixado em Lisboa, com os pais, em 1924.

O autor fez na capital portuguesa os estudos secundários, trabalhando, depois, como serralheiro mecânico. Em 1944 casou-se com Ilda Reis e entrou, entretanto, para a função pública, num organismo da Segurança Social.

Em 1947, quando nasceu a sua única filha, Violante, Saramago publicou o seu primeiro livro, “Terra do Pecado”. Tentou ainda dois outros romances, mas decidiu abandonar o projeto literário que retomou em 1966, quando publicou “Os Poemas Possíveis”.

Ficou desempregado por motivos políticos, em 1949, tendo posteriormente ido trabalhar para uma empresa metalúrgica.

No final da década de 1950, trabalhava na editorial Estúdios Cor. Fez várias traduções, tendo ainda sido, por pouco tempo, crítico literário.

Voltou a editar títulos seus no início da década de 1970.

Em 1970, divorciou-se de Ilda Reis e iniciou uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega. Trabalhou posteriormente no Diário de Lisboa, onde coordenou o Suplemento Cultural e foi editorialista. Em 1975, entrou como diretor-adjunto no Diário de Notícias.

Saramago retomou o trabalho literário em 1980 e, em 1998, recebeu o Nobel da Literatura, sendo até hoje o único escritor de língua portuguesa distinguido pela Academia Sueca.