Com permissão legal para abrir desde segunda-feira, no quadro do plano de desconfinamento gradual do Governo, a maioria dos museus, monumentos, palácios, nacionais e municipais, e galerias e arte abriram hoje ao público, já que a segunda-feira é o habitual dia de descanso nestes espaços culturais.

“Foi muito surpreendente”, comentou à Lusa a diretora do Atelier-Museu Júlio Pomar, Sara Antónia Matos, que inaugurou, na segunda-feira, a exposição “Flora”, com as mais recentes aquisições para a coleção de arte contemporânea da Câmara Municipal de Lisboa.

“Abrimos logo às 11 horas da manhã, e apareceu muita gente, incluindo artistas. Penso que as pessoas estavam com necessidade de ver arte e encontrar outras pessoas. Hoje também temos uma boa afluência”, indicou à agência Lusa.

“Não se chegou aos números anteriores à pandemia, claro que não, mas durante todo o dia foram mais de cem pessoas que visitaram esta nova exposição”, que também assinala o oitavo aniversário do Atelier-Museu de Júlio Pomar, e onde se podem encontrar algumas das obras do artista, entre os 60 criadores contemplados com aquisições nos últimos três anos.

Sara Antónia Matos comentou que, “embora mostrassem grande contentamento, satisfação e curiosidade para ver as novas obras”, de artistas como André Cepeda, João Onofre, Tatiana Macedo, Miguel Palma, Noé Sendas, Patrícia Garrido, Pedro Casqueiro, Pedro Tropa, Rita Ferreira, Rui Calçada Bastos, Sara Bichão e Tiago Alexandre, entre outros, “os visitantes estavam serenos, e foram respeitadas todas as regras exigidas no contexto de pandemia”.

O Atelier-Museu Júlio Pomar é um dos equipamentos tutelados pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) que reabriu também, na segunda-feira, o Castelo de São Jorge e o Padrão de Descobrimentos, e hoje as Galerias Municipais, o Museu de Lisboa (Palácio Pimenta, Santo António, Teatro Romano e Casa dos Bicos), o Museu Bordalo Pinheiro, o Museu do Fado, o Museu da Marioneta, o Museu do Aljube e a Casa Fernando Pessoa.

Questionada pela Lusa sobre as novas aquisições, Sara Antónia Matos indicou que a coleção de arte da CML, “com seis anos de existência, é muito abrangente, e na exposição agora inaugurada são mostradas quase 80 obras de cerca de 60 artistas contemplados nos últimos três anos”, em pintura, desenho, escultura, projeção, instalação de vídeo e instalação sonora.

Juntamente com estas aquisições, a CML fez outras cerca de 20 de Júlio Pomar (1926-2018): “A obra de Júlio Pomar tem sempre atualidade, e deixou sementes, é possível estabelecer cruzamentos muito interessantes de artistas emergentes e outros reconhecidos”.

“Júlio Pomar teria adorado ver-se entre tantos artistas de diferentes gerações, ele sempre foi um artista que viu com bons olhos trabalhar com outros e ver obras de outros ao seu lado”, sublinhou a diretora à Lusa.

Nos museus, monumentos e palácios nacionais, o Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, esteve também na linha da frente da reabertura, entre os tutelados pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), com horários adaptados por cada um dos diretores, devido ao contexto da pandemia.

“Na segunda-feira, antes da abertura, às 10:00 da manhã, já havia visitantes à espera, o que é um bom sinal. Quer dizer que as pessoas estavam atentas e desejosas de entrar no palácio”, relatou o diretor do PNA, José Alberto Ribeiro, contactado pela Lusa, acrescentando que a reabertura “foi um momento de satisfação”.

Algumas dezenas de visitantes passaram pelas salas de grandes dimensões reabertas, antes encerradas, na Ala Nascente, devido às reuniões que ali decorreram no quadro da Presidência Portuguesa da União Europeia, pela Sala do Trono, reaberta depois de restaurada, sendo que até junho deverá reabrir igualmente a Sala Azul, em campanha de restauro.

José Alberto Ribeiro indicou ainda que no final de abril será inaugurada uma grande exposição na Galeria de Pintura D. Luís, dedicada à rainha D. Maria II, em colaboração com o Museu da Presidência da República.

“As pessoas podem vir e sentir-se em segurança, porque há muita coisa para ver e rever. Os espaços são grandes, há controlo de entradas, não há grande aglomerações, desinfetantes, há até máscaras para as pessoas que se esquecem de as trazer. Os visitantes podem vir com calma ver arte e património português”, garantiu o responsável.

José Alberto Ribeiro avaliou que os visitantes são ainda algumas dezenas, número que nada têm a ver com as centenas diárias anteriores da pandemia, sobretudo às segundas-feiras, quando, “em tempos normais”, os museus de Belém estavam em dia de descanso, e havia centenas de pessoas dos cruzeiros chegados aos portos de Lisboa, que procuravam o palácio.

“Toda a experiência virtual de um museu é muito interessante, mas nada substitui a experiência de estar presente nos lugares históricos, e dos objetos de arte com história”, salientou.

Atualmente, o PNA tem patente uma exposição informativa, com painéis, dedicada às vilas Medici, em Itália, realizada em colaboração com o Instituto Italiano de Cultura.

Enquanto vigorar em território nacional a obrigação de recolhimento a partir das 13:00, aos sábados e domingos, os museus, monumentos e palácios nacionais apenas funcionarão durante o período da manhã, com entradas gratuitas para todos os visitantes.

Quando terminar o confinamento, e estes equipamentos regressarem aos seus horários normais de funcionamento, as entradas passarão a ser pagas aos sábados, e gratuitas aos domingos e feriados, o dia inteiro, para residentes em território nacional, segundo a DGPC.

Em São Bento, perto da Assembleia da República, a sede do Centro Português de Serigrafia (CPS) reabriu a galeria própria e a adjacente Galeria António Prates também, acolhendo, nas primeiras horas, algumas dezenas de visitantes.

“Estamos com muita esperança em que não volte a fechar, e que todos consigamos ultrapassar mais esta fase para manter a cultura aberta ao público”, comentou à Lusa o diretor, João Prates, que espera “um regresso gradual à normalidade”.

Perante a incerteza da evolução dos contágios, o responsável diz que “mais vale pecar por excesso do que por defeito”, e tem pedido aos funcionários das galerias para seguirem todas as normas de segurança exigidas pela Direção-Geral da Saúde.

Enquanto esteve encerrado, o CPS continuou os contactos ‘online’ com os seus associados, que fizeram encomendas de obras de arte por via digital, uma vertente que o centro vai continuar a explorar, até mesmo a incrementar, para manter a atividade.