No século XVI, nos Países Baixos, a Universidade de Leiden abre um importante hortus em 1590 e Amesterdão, capital da Holanda, seguiu-lhe, praticamente quatro décadas depois, o exemplo em 1638. Após ser vítima de uma praga, esta cidade estava particularmente interessada em ter um espaço próprio para o cultivo de ervas e plantas medicinais. De facto, na sua abertura, o atual Hortus Botanicus Amsterdam, não passava de um mero hortus medicus.

Era, na prática, um espaço dedicado onde botânicos, médicos e farmacêuticos desenvolviam os seus estudos. Este hortus medicus foi conservado até aos nossos dias, sendo também conhecido por jardim de Snippendaal, como lhe chamam muitos habitantes da cidade que o acolhe. O botânico Johannes Snippendaal, que viveu entre 1616 e 1670, foi responsável pelo primeiro catálogo da hortus. Impresso em 1646, está, ainda hoje, na base da organização do espaço.

Nos séculos seguintes, a hortus medicus expande-se, convertendo-se num hortus botanicus quando passa a integrar especiarias e plantas exóticas e ornamentais que são trazidas pela VOC, a sigla da empresa Companhia Holandesa do Este Indiano. E, a partir daí, nunca mais perde essa designação/vocação. Atualmente com cerca de 6.000 plantas de mais de 4.000 espécies botânicas diferentes, tem uma flora que representa cerca de 2% de todas as plantas do mundo.

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O Hortus Botanicus Amsterdam apresenta sete estufas com climas diferentes. Construídas ao longo de vários séculos, permitem verificar como a evolução da botânica se aliou a novas invenções arquitetónicas para garantir uma melhor conservação das espécies. A Estufa das Borboletas, que data de 1896, é aproveitada para os programas educativos. É lá que os que a frequentam encontram plantas económicas, como é o caso da do café, da do cacau, das do chá, das do arroz, da cana-do-açúcar e da que gera a pimenta, por exemplo. Esta estrutura está ladeada por outras duas estufas igualmente simples e pequenas. Uma é dedicada à flora mexicana e à californiana.

Estas instalações contrastam com a Estufa das Palmeiras, com a sua arquitetura vitoriana que data de 1912. Aqui para além de palmeiras encontram-se cícades. Estas variedades botânicas são duas das especialidades do Hortus Botanicus Amsterdam, que atualmente alberga ainda laranjeiras e oliveiras. Inicialmente, estas árvores eram recolhidas durante os meses de inverno na Orangery, o nome pelo qual os habitantes locais ainda hoje conhecem este espaço.

Vai brevemente à Holanda? E se fosse visitar o Hortus Botanicus Amsterdam?

A Orangery foi inaugurada em 1875. Na altura, funcionava como salão de leitura e a sua traça neo-clássica destaca-a das restantes estufas. Hoje em dia, é o café do museu. É também lá que se apresentam exposições temporárias e se realizam variadíssimos eventos. As estufas mais recentes que datam de 1993 e apresentam três climas, um tropical, um desértico e um subtropical. As suas temperaturas são reguladas automaticamente por um sistema interno.

O que pode ver no jardim exterior

O jardim exterior do Hortus Botanicus Amsterdam, que está aberto durante toda a semana, apresenta uma espacialidade pensada no movimento romântico do século XIX com caminhos sinuosos e canteiros arredondados, construídos em 1863. Desta data é também o jardim sistemático em forma de semi-círculo. Neste jardim, pretende-se que as espécies relacionadas se encontrem próximas umas das outras e afastadas das que têm pouco em comum.

Antigamente, a sistemática, a ciência que classifica os seres vivos através do estudo comparativo das suas características, baseava-se na morfologia das plantas mas desde a descoberta do ADN que esta ciência evolui constantemente. Seguindo a classificação molecular, uma das mais recentes atualizações deste semi-circulo data de 2002. O restante jardim está organizado segundo as 40 ordens de Eichler, uma novidade introduzida no fim do século XIX, em 1898.

As plantas expostas estão agrupadas segundo as suas famílias. Há as Berberidaceae, as Fabaceae, as Rosaceae e por aí fora... Para explorarmos o hortus, são-nos sugeridos itinerários como a Rota da Evolução, que nos mostra plantas de diferentes períodos, começando na época dos dinossauros. Outra é a Rota das Árvores, que inclui mais de uma dezena de árvores. Entre elas encontram-se exemplares com mais de três séculos e espécies raras e/ou exóticas.

Este hortus holandês especializou-se ainda em plantas carnívoras e em plantas oriundas da África do Sul. Uma delas é a Victoria Amazonica, um nenúfar gigante que sempre atraiu muitos curiosos, pois a sua flor é branca na primeira noite e transforma-se em rosa na seguinte. Um percurso livre também é possível, pois todas as plantas estão assinaladas com placas informativas que contêm o nome científico, o período em que apareceram e o local de origem.

Durante a visita, é também possível conhecer os hábitos de crescimento e o tipo de uso que o homem faz dessas plantas, entre outros pormenores. Os jardins botânicos europeus foram e continuam a ser espaços de aprendizagem por excelência. Espaços onde se adaptam espécies exóticas a novos climas e tenta-se reproduzi-las continuamente. Outra atividade é a troca de sementes, que pelo seu interesse económico sempre se assumiu como um factor importante.

Um dos cambios que eram feitos no Hortus Botanicus Amsterdam era o das da planta do café. O café sempre foi uma semente cara explorada pelos comerciantes árabes. A partir de 1706, a VOC traz de Batavia, a atual Jacarta, as primeiras plantas de café para a Europa e foi aqui que estas foram depois cultivadas. Em 1714, algumas das plantas são oferecidas ao rei francês Luís XIV e, na década seguinte, são levadas para as colónias francesas da América do Sul.

O reflexo da paixão que se (re)descobre através das plantas

O café foi introduzido no Brasil através da Guiana Francesa. Ainda hoje, o país continua a ser um dos maiores produtores de café. No Hortus Botanicus Amsterdam, redescobrimos espaços que nos contam histórias de plantas de outros lugares e de outros tempos. Este jardim botânico é um pequeno reflexo da paixão que os holandeses têm pela natureza, pelos espaços verdes nas cidades, pelas plantas à janela ou pelas pequenas estufas nos quintais traseiros.

Neste país, conhecido pela indústria das flores, especialmente pela das tulipas, as estufas industriais têm também uma história a contar que daria um interessante artigo. Até lá, para quem passar por terras holandesas, recomenda-se a visita da Hortus Botanicus Amsterdam ou até mesmo de uma estufa industrial. São várias as que existem. Com uma área de 1,2 hectares, este espaço está praticamente aberto todo o ano. Os horários variam consoante as estações.

Vai brevemente à Holanda? E se fosse visitar o Hortus Botanicus Amsterdam?

Texto: Diana Pereira e Luis Batista Gonçalves (edição digital)