Dizem que não há coincidências. Há dias recebi um mail da Helena. A Helena foi a minha grande paixão durante a faculdade, e com quem vivi algumas das aventuras mais alucinantes dos meus vinte e poucos anos.

O SOM PARA ESTE MOMENTO

Não falávamos há anos... Na verdade, já nos tínhamos reencontrado através das redes sociais, mas claro, a distância dos anos acaba por colocar um travão nas tentativas de reaproximação. Cada um de nós tinha agora a sua família, filhos...

Mas a Helena não teve pudores. Ia mudar de casa e, durante as arrumações, encontrou numa gaveta um rolo de fotografias que nunca tinha sido revelado. Eram fotografias da nossa primeira viagem a Marrocos. Enviava-me, então, cópias digitais daquelas memórias nunca vistas.

Ali estávamos nós, tão jovens, de olhos brilhantes, algures no meio do deserto do Saara, iluminados por aquele sol tão quente e amarelado. Numa das fotos, a Helena estava dentro de uma grande tenda onde bebíamos chá, acompanhada pelo nosso guia, o Hamid. A pele curtida pelo sol do Hamid contrastava com os cabelos alourados e os olhos verdes da Helena, belíssima, vestida com uma djellaba, uma túnica típica marroquina.

Ela estava genuinamente feliz, a ajudar o Hamid a preparar couscous com amêndoas e especiarias. De repente, senti-me transportado para aquela tenda, onde o cheiro das especiarias se misturava com o odor das areias quentes. Lembro-me que, quando regressámos, a Helena andou meses obcecada com chá de menta e pratos de couscous.

Ontem, ao ver então o “Casablanca” pela primeira vez, fiz pausa quando a personagem de Humphey Bogart diz “We’ll always have Paris”. Sim, também eu e a Helena, apesar de afastados pela vida, teríamos sempre Marraquexe e a memória do sol quente na pele.

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