Tínhamos metido na cabeça que, quando fôssemos viver juntos, íamos percorrer a Europa de comboio, uma espécie do Inter-rail que não tivemos oportunidade de fazer quando éramos estudantes. E ali estávamos, mais de sete horas depois de sair de Roma, a chegar a Veneza às cinco e meia da manhã.

O SOM PARA ESTE MOMENTO

Vimos Veneza de um modo que nenhum guia ou roteiro nos tinha preparado: uma cidade-fantasma, a sair da escuridão e a ser banhada pelos primeiros raios de sol. Estávamos na década de 90, ainda não havia telemóveis nem selfies, de maneira que até hoje guardo aquela luz e o nosso espanto na melhor parte da minha memória.

Enquanto caminhávamos pela Praça de São Marcos, em direção à Ponte de Rialto, íamos apreciando a vida a despontar na cidade: as lojas a abrir, os cafés e restaurantes a montar as suas esplanadas, o formigueiro de pessoas a crescer.

E a fome que sentíamos, céus! Procurei duas maçãs no meio da mochila, mas claramente íamos precisar de mais qualquer coisa para encher o estômago.

- Sabes o que é que me apetece almoçar? – perguntou ela de repente com uns olhos vivos.

- Almoçar? Mas ainda é tão cedo. Não sei a que horas é que se pode almoçar por aqui. – repliquei.

Não interessava a hora. Ela já se tinha acercado de um café com um letreiro onde estavam escritos os pratos do dia. Quando metia uma ideia na cabeça, nada a demovia.

- Eu sei que é cedo, mas apetece-me linguine al pesto. Vou entrar e perguntar se nos conseguem servir.

Até hoje não sei que conversa ou que olhinhos é que ela fez ao cozinheiro. Mas a verdade é que, daí a pouco, ainda eram apenas dez da manhã, e nós estávamos a regalar-nos com o cheirinho a manjericão do pesto, numa esplanada com vista para os canais e para as vagarosas gôndolas. Sim, a lua-de-mel ia correr bem.

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