Ao longo dos últimos anos, Pedro Fernandes tem-se revelado uma das promessas da comunicação em Portugal. Começou a ser notado em 2009, ano em que surgiu como apresentador do programa da RTP1 '5 Para a Meia Noite'.

Antes disso, trabalhou em projetos como 'A Revolta dos Pastéis de Nata' e 'Sempre em Pé'. Foi ainda um dos anfitriões e repórteres do 'Caia Quem Caia', na TVI, programa no qual teve a sua primeira experiência como apresentador.

Entretanto, seguiram-se outros desafios no primeiro canal, destacando-se 'Got Talent Portugal' e o mais recente 'Portugal Mais Perto'.

Dez anos depois, o apresentador e radialista (na RFM há dois anos e meio) regressa à TVI como concorrente no programa de imitações 'A Tua Cara Não Me É Estranha'.

É na família que encontra a 'base' de que precisa para continuar a perseverar. Casado com Rita Fernandes, Pedro é pai de dois rapazes: Tomás, de 10 anos e Martim, de quatro.

Pouco antes de o novo desafio da sua carreira se iniciar, o Notícias ao Minuto esteve à conversa com o Pedro Fernandes que recordou um pouco da sua caminhada até aqui.

O início... na publicidade

Em pequeno já sonhava com o mundo da comunicação?

Sim, quando era miúdo brincava às agências de publicidade. Tinha um dossier e inventava os clientes. A minha irmã era sempre a minha cliente e acabou por ser o meu primeiro emprego. Tudo ao que eu brinquei quando era pequeno acabou por se transformar em realidade em adulto.

Chegou a trabalhar numa agência de publicidade. Quanto tempo é que lá ficou?

10 anos. De 2000 a 2010. Era uma agência pequenina. Trabalhávamos mais com promoção de eventos e decorações de loja.

Ficaram as amizades?

Sim e muito, muito boas. Não era muita malta, apenas o patrão e a secretária. De vez em quando ainda almoçamos [ele e o ex-patrão] e pomos a conversa em dia. É giro ver que ele não mudou nada e continua a ser uma ótima pessoa. Hoje em dia é ele que me procura para dar a cara por eventos que organiza. Eu gosto de deixar amizades por onde passo.

O sonho do pequeno ecrã

Quando é 'dá o salto' para a televisão?

Ainda trabalhava na agência e estava a fazer televisão. Aconteceu na ‘Revolta dos Pastéis de Nata’, foi o meu primeiro programa enquanto guionista e ator. Era o meu patrão que muito amavelmente me deixava faltar ou sair mais cedo. Dava-me sempre esse espaço, desde que estivesse contactável, porque eu trabalhava fora de horas. Até que um dia se virou contra ele e já trabalhava mais fora da agência do que lá. Foi ele próprio a reconhecer isso e a convidar-me amigavelmente para sair [afirma, enquanto se ri].

Como é que surgiu o convite para a televisão?

Na faculdade fiz parte de um grupo de teatro com o qual mantive contacto mesmo depois de sair e começar a trabalhar. Juntámos um grupo de três amigos e participámos num concurso de comédia de improvisação e ganhámos. Como a experiência correu bem voltámos a fazer isso na nossa faculdade num programa de televisão que se fazia lá - o E2. Na plateia estava o diretor de programas da RTP2 que nos viu e gostou muito. No fim, desafiou-nos a fazer um programa piloto ['Revolta dos Pastéis de Nata'], uma vez que eles estavam à procura de gente e ideias novas.

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Depois a partir daí surgem novos programas…

Sim, depois foi o 'Sempre em Pé', ainda também na RTP2, depois passei para o CQC (‘Caia Quem Caia’) na TVI e depois para o convite para o '5 Para a Meia Noite', que fiz durante seis anos e meio.

A magia do '5'

Como é que se sentia no '5 Para a Meia Noite'?

Era o menos mediático. Mesmo na escolha de convidados era muito complicado, porque não me conheciam: “Vou ao programa de quem?”. Mas como há tanta gente porreira neste país, mesmo sem me conhecerem de lado nenhum, acediam ir ao programa.

Passei uma tarde inteira a falar com o António Feio sobre a vida, tudo e mais alguma coisaRecordo-me, e este é dos maiores exemplos de humildade que levo comigo, do António Feio, que sem me conhecer de lado nenhum, não só aceitou ir ao programa como disse: “Então mas anda lá beber um café primeiro para falarmos um bocadinho que eu quero conhecer-te”. Passei uma tarde inteira a falar com o António Feio sobre a vida, tudo e mais alguma coisa. Achei aquilo um gesto tão bonito, de tanta humildade, que me tocou imenso.

Voltaria a fazer o programa?

Voltaria, voltaria. Era um programa que dava mesmo muito trabalho, difícil de fazer. Para já porque tínhamos de escrever tudo, escolher convidados (uma luta que era sempre uma canseira), pesquisar sobre o convidado, portanto, ler os livros, filmes, peças de teatro... fazia questão de tentar ver tudo o que estivesse relacionado com a pessoa.

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Pedro Fernandes na altura em que apresentava o programa na RTP1 © Instagram

Depois tinha a preparação de entrevista, dos sketches... toda uma semana de trabalho muito intenso só para um dia de semana num programa de uma hora. Apesar de todo esse trabalho voltaria a fazer porque foi o programa que mais gozo me deu.

Confesso que sou um bocadinho preguiçoso e também gosto dos outros programas em que é só chegar, ser divertido e improvisar [Por outro lado] Confesso que sou um bocadinho preguiçoso e também gosto dos outros programas em que é só chegar, ser divertido e improvisar. E isso consigo fazer muito na rádio e em outros concursos.

A base: a família

Quando começou a ficar conhecido, como é que a família viu isso? As pessoas abordam-no na rua?

Abordam-me um bocadinho, mas também respeitam muito o meu espaço. Se estou com a família, raramente se intrometem. Mas os portugueses na sua generalidade sabem respeitar o nosso espaço, a menos que esteja num evento. Depois tem sido um processo muito gradual, lá está. Foi uma coisa conquistada passo a passo com muito trabalho e eles foram-se habituando à ideia. O meu filho mais novo nem liga e o primeiro estranhou um bocadinho. A minha mulher foi-se habituando.

Espera que os seus filhos dêem tanto trabalho como o Pedro deu?

Não tenho noção que tenha dado assim tanto trabalho, se calhar a minha mãe tem uma opinião diferente da minha, mas acho que fui um miúdo certinho. Sempre tive boas notas na escola, nunca me meti em encrencas. Espero que os meus filhos sejam iguais.

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Pedro com a mulher, Rita Fernandes, e os filhos Tomás e Luís© Instagram

É fácil gerir e encontrar tempo para estar com eles?

Não é assim muito fácil, há fases mais complicadas do que outras, agora estou numa fase complicada. Sempre que tenho de conciliar a rádio com a televisão é um quebra-cabeças. Quando as coisas acabam tento compensá-los e aproveitar esses bocadinhos para estar com eles.

É claro que não sou um bom exemplo em tudo, eles terão coisas a apontar. Eu próprio sei que não sou perfeito

Quero pensar que sou um bom exemplo para os meus filhos, pretendo passar-lhes tudo que ache que seja bom. O respeito pelos os outros, a boa educação, a igualdade, que são os princípios sobre os quais eu me rejo e me guio. É claro que não sou um bom exemplo em tudo, eles terão coisas a apontar. Eu próprio sei que não sou perfeito.

Não conseguiria fazer o que faz se não fosse o apoio da sua mulher, portanto…

Como é óbvio. Ela tem de estar cá para segurar as pontas, apesar de também ter o trabalho dela – que é uma agência de eventos. Vai-se conseguindo resolver, acho que é mesmo um dia de cada vez tentarmos conseguir fazer tudo.

Neste mundo parece que não há o exemplo de um casal que aguente assim um casamento tanto tempo

E estando juntos há tantos anos, num tempo onde cada vez há mais separações, esse é um lado no qual tenta procurar dar o exemplo?

Sim, não o faço talvez de forma consciente, mas tenho recebido muitas mensagens de pessoas que vêem em mim um exemplo e falam disso mesmo. Neste mundo parece que não há o exemplo de um casal que aguente assim um casamento tanto tempo. Claro que há mais casos, mas esses não fazem capa de revista. Se estou a dar esse exemplo acho que é bom e espero que as pessoas o sigam. Agora, não se deve manter um casamento só para manter recordes de longevidade, deve-se estar casado enquanto se está bem com a outra pessoa.

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Pedro e Rita Fernandes © Instagram

A nova geração

Já recebeu mensagens de jovens que pedem conselhos ou mesmo cunhas?

Há algumas pessoas a enviarem currículos. Depois de ter começado a trabalhar na rádio há o caso das bandas e das pessoas que enviam músicas, como se eu mandasse alguma coisa na playlist da rádio, não mando nada [ri-se]. Aproveito já para fazer este esclarecimento, não sou eu que escolho as músicas, é o senhor António, o senhor António!

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Pedro Fernandes, ao lado de Nilton, com quem trabalha na RFM há dois anos e meio. Os dois fazem o 'Café da Manhã' © Instagram

As pessoas acham que é tudo muito fácil

Que conselhos daria a esses jovens que pretendem seguir uma carreira na comunicação?

As pessoas acham que é tudo muito fácil. Comecei a trabalhar em televisão já passaram 11 ou 12 anos. É muito tempo e as coisas vão-se conquistando com muito trabalho e gradualmente.

Hoje em dia com as redes sociais, os próprios reality shows foram o primeiro exemplo disso: da fama muito rápida sem qualquer base de sustentação, depois tudo acaba tão rápido como começou e há muitas pessoas que não conseguem lidar com isso. Acho que acima de tudo devem continuar a fazer aquilo de que gostam. Se fizermos aquilo de que gostamos, nem que seja como hobby, como foi o meu caso com o teatro, as oportunidades acabam por surgir. Há sempre espaço para quem tem talento e para quem faz as coisas bem feitas.

A competição

Sendo a televisão um meio competitivo sofreu 'golpes baixos'?

Por acaso não me lembro.

Já me aconteceu quebrarem-me promessas e isso magoa um bocadinho

Mas percebem-se atitudes de má fé?

Já me aconteceu quebrarem-me promessas e isso magoa um bocadinho. Mas tens de perceber que se não for aquilo há-de ser uma outra coisa qualquer. Há males que vêm por bem e temos de saber andar para a frente.

Tenho vergonha do cabelo que eu usava no ‘5 Para a Meia Noite’ nas primeiras séries. Aquilo era horrível

Desafios

O que é que diria ao Pedro de há 20 anos?

Epá, corta-me esse cabelo! Tenho vergonha do cabelo que usava no ‘5 Para a Meia Noite’ nas primeiras séries. Aquilo era horrível. Não havia ninguém a dizer-nos como havíamos de nos vestir ou pentear. Mas acho que tem sido um percurso bonito, tenho orgulho nos projetos onde estive. Não tenho assim grandes conselhos para dar ao Pedro porque ele está a sair-se bem por ele próprio.

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O penteado a que Pedro se refere... © Instagram

Uma pessoa que gostava muito de entrevistar…

Eu gosto de entrevistar pessoas polémicas, talvez o Donald Trump. Depois também pessoas que admiro muito como o Eddie Vedder, pessoas da política como Barack Obama e ainda o José Socrates, hoje daria uma entrevista interessante.

Uma pessoa que poria de lado…

Lá está, há pessoas de que nós não gostávamos de encarar no nosso dia a dia, mas se calhar num programa de entrevistas faria sentido. Deixa lá ver o inimigo que vou arranjar… não há assim ninguém que eu odeie.

Acho que o programa foi para o ar muito tarde, ele já não estava para ali virado, só lhe apetecia era deitar no sofá e dormir

Já aconteceu fazer uma entrevista a uma pessoa e sair desiludido?

Já me aconteceu e falei disto até porque foi há muitos anos. Aconteceu com o Ivo Canelas no ‘5 Para a Meia Noite’, correu pessimamente. Acho que o programa foi para o ar muito tarde, ele já não estava para ali virado, só lhe apetecia era deitar no sofá e dormir. A entrevista foi péssima. Depois disso voltámos a encontrar-nos algumas vezes. A primeira vez foi até ele que teve a iniciativa de vir falar comigo e pedir desculpa, porque não se tinha comportado como era esperado. Dessa situação acabou por nascer uma relação, não diria de amizade, porque não somos amigos, mas de maior respeito.

Depois a Ana Bola porque era muito ‘verdinho’ e não estava preparado para um entrevistado que me viesse tirar da minha zona de conforto. Agora à distância acho que foi uma oportunidade perdida minha de fazer um programa melhor.

O que é que ainda falta aprender?

Acho que ainda nem domino a área da televisão, estou sempre a aprender. A rádio então é uma aprendizagem diária, ainda não sei para o que é que servem todos os botões que estão ali. Há sempre margem de manobra para melhorar.

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"10 anos depois do fim do CQC, eis-me de volta à Tvi. Depois de muitos programas de televisão e já de alguns anos de rádio, volto mais maduro, mais confiante e mais preparado", afirmou Pedro sobre o seu regresso à TVI.© Instagram

E o futuro?

Se um dia deixar de trabalhar neste meio sinceramente não tenho um plano B. Não me importava de voltar a trabalhar em publicidade e de realizar o sonho de ser copy publicitário.

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Pedro Fernandes no programa da TVI 'A Tua Cara Não Me É Estranha' © Instagram