A atriz portuguesa Joana Ribeiro, que participa no programa europeu de talentos 'European Shooting Star', da Berlinale, acredita que só o aumento do público nas salas vai conseguir aumentar a produção de cinema português.

"Temos de produzir mais, mas para isso também temos de ver mais (...) Só consumindo e só vendo é que se produzem e se fazem mais filmes. O próprio país tem de investir no cinema e na cultura", defendeu, em declarações à agência Lusa, a atriz de 27 anos.

Joana Ribeiro faz parte do grupo de dez atores no programa 'European Shooting Star', uma iniciativa do European Film Promotion (EFP) que decorre durante o Festival Internacional de Cinema de Berlim e tem por objetivo dar a conhecer novos nomes da representação no contexto europeu.

"Portugal é dos poucos países que ainda não tem nenhum acordo com a Netflix ou com alguma dessas plataformas [de 'streaming], espero que nos próximos anos isso mude. Para isso acontecer também temos de dar mais valor ao que fazemos", adiantou, dando o exemplo de Espanha.

"Os espanhóis têm muita coisa a ser produzida e têm uma relação com a Netflix, porque dão muito valor ao que fazem, antes de verem um filme americano, vêm um filme espanhol", aponta.

A atriz considera que o ano passado foi "muito bom para o cinema português", com a presença em vários festivais, mas acredita que há ainda muito a fazer, nomeadamente reforçar o investimento.

"Mesmo assim falam mais de nós lá fora do que em Portugal, o que é surreal. Acho que a mudança passa por nós, por gostarmos mais de nós próprios (...) Gosto de saber qual é a identidade de um país e o cinema dá-nos muito essa perceção. Por isso é importante investir no cinema e na cultura, porque sem isso não há identidade", sublinhou.

Joana Ribeiro estreou-se no pequeno ecrã em 2012 na telenovela 'Dancin'Days'. No cinema, depois de ter participado em curtas-metragens e na longa-metragem 'A Uma Hora Incerta' (2015), de Carlos Saboga, lançou-se nas produções internacionais com 'O Homem que Matou D. Quixote', de Terry Gilliam.

Depois disso, a atriz fez parte do elenco de 'Infinite', de Antoine Fuqua, de 'Fatima', de Marco Pontecorvo, e da série 'The Dark Tower', produzida pela Amazon, ambos com estreia marcada para este ano.

Acabou de participar ainda nos novos filmes de Bruno Gascon ('A Sombra') e Carlos Conceição ('Um Fio de Baba Escarlate').

À 23.ª edição do 'European Shooting Star' Portugal concorreu com o filme 'Linhas Tortas', de Rita Nunes, que chegou no ano passado aos cinemas. O 'European Film Promotion' teve depois de escolher 10 atores de 28 diferentes países.

"Os olhos são as janelas da alma e, por extensão, a própria alma, escreve Shakespeare. Ao contrário do júri, Shakespeare não viu a atuação de Joana Ribeiro. Se tivesse visto, teria entrado pelas janelas dos seus olhos. Teria descoberto um fascinante universo de encantamento e paixão, raiva e carinho. Um universo que convida a explorar os seus enigmas e riqueza, numa verdadeira odisseia da alma", pode ler-se no comunicado oficial da EFP.

"É a primeira longa-metragem da Rita Nunes e o primeiro argumento escrito pela Carmo Afonso. Fala de uma jovem mulher, a Luísa, que se apaixona no Twitter pelo António, que é um cronista. Dão-se uma série de acasos e coincidências, temos a tendência para achar que há sempre uma razão para tudo e há um destino, e às vezes as coisas acontecem porque sim", contou Joana Ribeiro sobre o filme.

"Através do Twitter podes conhecer as pessoas sem que a primeira impressão seja baseada no aspeto físico ou na idade, mas sim por aquilo que elas têm a dizer. Nos dias de hoje isso às vezes é difícil. No caso da Luísa, ela apaixona-se pelo António através de um perfil falso, apaixona-se pela cabeça, pelos ideais e opiniões dele. Acho isso bonito", partilhou.

Joana Ribeiro admite ter vontade de ver "todos os filmes" da Berlinale, mas confessa não ter tempo.

"Vou poder conhecer os outros atores que estão no programa, falar com os diretores de casting, os produtores e descobrir mais sobre a indústria cinematográfica cá. Tenho muita curiosidade sobre como a indústria funciona nos outros países. Adorava ver filmes, mas não vamos ter tempo (...) Gostava de os poder ver todos", confessa com um sorriso.

Dos 28 candidatos ao 'European Shooting Star 2020', o júri selecionou ainda os jovens atores e atrizes Martina Apostolova, da Bulgária, Pääru Oja, da Estónia, Victoria Carmen Sonne, da Dinamarca, Zita Hanrot, da França, Levan Gelbakhiani, da Geórgia, Jonas Dassler, da Alemanha, Bilal Wahib, dos Países Baixos, Bartosz Bielenia, da Polónia, e Ella Rumpf, da Suíça.

De acordo com a página do Instituo do Cinema e do Audiovisual (ICA), entre 21 e 24 de fevereiro, "os talentos selecionados irão participar em diversas atividades, nomeadamente em reuniões 'one-to-one' com mais de 80 profissionais da indústria cinematográfica e audiovisual, como diretores de casting, produtores e realizadores."

O Festival Internacional de Cinema de Berlim termina a 1 de março.