John Cena tornou-se a última celebridade a enfrentar a fúria dos nacionalistas chineses.

Num vídeo curto, difundido na terça-feira na rede social chinesa Weibo, o equivalente ao Twitter na China, o ator não mencionou Taiwan nem deu detalhes sobre o incidente, que ocorreu no início do mês quando promovia o filme "Fast & Furious 9" num canal de televisão de Taiwan.

"Cometi um erro numa entrevista", disse, em chinês. "Preciso de dizer agora que isso é muito, muito, muito, muito, muito importante. Eu amo e respeito a China e o povo chinês. Eu sinto muito mesmo pelo meu erro", acrescentou.

Na sua entrevista ao canal de Taiwan TVBS, Cena afirmou que Taiwan era o primeiro "país" a poder ver o filme.

Isto gerou um alvoroço na China, que considera a ilha parte do seu território, apesar de funcionar como uma entidade política soberana.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.

No entanto, Pequim considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força caso a ilha declare independência.

Não é claro se o pedido de desculpas de Cena funcionou, já que muitos comentários nas redes sociais chinesas em resposta ao seu vídeo foram negativos.

Nos Estados Unidos, Cena também enfrentou desprezo. O senador Tom Cotton considerou o pedido de desculpas "patético".

As multinacionais e celebridades que querem manter o acesso ao lucrativo mercado chinês têm que ter cuidado em questões politicamente sensíveis, já que a indignação nacionalista, alimentada pelos órgãos estatais, gera muitas vezes boicotes.

A China tem pressionado cada vez mais empresas estrangeiras por causa das suas declarações sobre Taiwan, Hong Kong, Xinjiang, Tibete, Mar do Sul da China e outras questões que considera delicadas.

Companhias aéreas e outras empresas multinacionais foram pressionadas a referirem-se a Taiwan como parte da China nos seus portais oficiais.

A emissora estatal chinesa CCTV cortou relações com a NBA por um ano em resposta à mensagem difundida no Twitter pelo diretor-geral da equipa de basquetebol Houston Rockets, Daryl Morey, a apoiar manifestantes pró-democracia em Hong Kong.

Notícias sobre Chloe Zhao, diretora chinesa que venceu o Óscar este ano, foram censuradas, em abril, devido a declarações feitas há vários anos.

Numa entrevista, em 2013, a cineasta disse que, na China, "há mentiras por todo o lado", referindo-se ao sistema político.

Marcas de têxtil como a H&M, Adidas e Nike foram alvo de boicotes por parte dos consumidores depois de a imprensa estatal as ter criticado por expressarem preocupação com relatos de trabalho forçado na região de Xinjiang, no extremo oeste da China.

Leia Também: "O conceito 'só se estraga uma casa' é o realojamento em Portugal"