O Duque de Edimburgo morreu esta manhã, de forma serena, no Castelo de Windsor, em Londres, anunciou o Palácio de Buckingham.

"É com profunda tristeza que Sua Majestade a Rainha anunciou a morte de seu amado marido, Sua Alteza Real o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo", lê-se na nota oficial.

"Sua Alteza Real faleceu pacificamente esta manhã no Castelo de Windsor", lê-se no tweet.

Palácio de Buckingham
créditos: Photo by Tolga Akmen / AFP

Tal como manda a tradição, o Palácio de Buckingham, em Londres, colocou a bandeira do Reino Unido a meia-haste.

De acordo com a BBC, o povo inglês começou a juntar-se em frente ao Palácio de Windsor, Berkshire, como forma de prestar uma última homeagem ao duque de Edimburgo, deixando ramos de flores.

Windsor Castle
créditos: Adrian DENNIS / AFP

Recorde-se que Philip e Isabel II estiveram nos últimos meses a cumprir isolamento naquela que é uma das suas residências reais.

O funeral

Respeitando o seu desejo, a cerimónia fúnebre do duque de Edimburgo não vai ter honras de Estado e terá lugar na St George’s Chapel, local onde foram realizados os serviços religiosos do funeral da rainha Vitória e do rei George VI e onde o corpo de Diana Spencer esteve em câmara ardente.

Tendo em conta a pandemia da COVID-19, os planos fúnebres sofreram alguns ajustes. No comunicado emitido pelo College of Arms "pede-se que membros do público não tentem assistir ou participar em algum dos eventos que envolvem o funeral." Em situações normais, sem medidas de contingência de saúde pública, seria a bem-vinda a participação do público nas cerimónias que vão ter lugar nos próximas dias.

Todas as bandeiras do país deverão ser içadas a meia-haste até às 08:00 no dia após o funeral. A BBC refere que o duque será sepultado no Castelo de Windsor.

Os problemas de saúde ao longo dos últimos anos

Após um mês de internamento, Duque de Edimburgo tem alta hospitalar
créditos: JUSTIN TALLIS / AFP

O duque de Edimburgo foi internado na noite de 16 de fevereiro, por recomendação do seu médico pessoal e como “medida de precaução”. Mais tarde foi admitido no hospital privado King Edward VII, em Londres.

Acabou por ser transferido no início dessa semana para outra unidade, o Hospital St Bartholomew, devido a uma infeção e uma condição cardíaca pré-existente.

O príncipe Philip foi operado ao coração a 3 de março. Num comunicado emitido pelo Palácio de Buckingham o procedimento, que teve lugar no St Bartholomew's Hospital, "foi um sucesso".

Após 28 noites internado no King Edward VII's Hospital, teve alta a 16 de março. De acordo com a BBC, esta foi a sua "estadia mais longa" no hospital.

Nos últimos meses a rainha Isabel II e o príncipe Philip passaram grande parte do confinamento na sua residência em Windsor, sendo que no mês de janiero o casal foi vacinado contra a COVID-19.

Recorde-se que em dezembro de 2019, dois anos após retirar-se da vida pública, o marido de Isabel II foi hospitalizado também como medida de precaução para tratar uma condicao pré-existente.

A vida e a infância atribulada de Philip

Philip Mountbatten Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glucksburg, príncipe da Grécia e da Dinamarca, nasceu a 10 de junho de 1921 na ilha grega de Corfu.

Apesar do seu estatuto social e de ter nascido no seio da família real grega, com fortes ligações às Casas Reais da Dinamarca e da Prússia, não teve uma infância muito fácil.

Fruto do casamento da princesa Alice de Battenberg (filha de Lord Louis Mountbatten e bisneta da Rainha Vitória.) com o príncipe André da Grécia e da Dinamarca (mais novo do Rei George I dos Helenos), uma revolução obrigou a família a deixar a Grécia e a exilar-se em França.

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A sua infância e adolescência foram passadas entre Inglaterra e Alemanha, tendo-se mudado para a Escócia em 1933 onde frequentou a escola Gordonstoun até ser admitido na Britannia Royal Naval College (BRNC). Foi nesta escola em Dartmouth que viria a conhecer Kurt Hahn - um pedagogo alemão que viria ajudá-lo a fundar o galardão DoEf - e a sua futura esposa, a princesa Isabel II, durante uma visita à instituição.

O início da carreira naval

Durante os 12 anos em que esteve ao serviço da Marinha britânica, Philip recebeu diversas distinções e promoções, entre elas a “Greek War Cross of Valour”, uma das mais altas condecorações militares que distingue atos de bravura e liderança notável no campo de batalha. Aos 21 anos bateu um recorde ao tornar-se no Primeiro Tenente mais novo do navio de guerra HMS WALLACE. Para além da participação na batalha naval do cabo Matapan, presenciou a rendição do Japão na Baía de Tóquio e que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial.

Após o seu enlace com a princesa Isabel II, foi destacado pela Marinha Britânica para servir em diversas partes do mundo, o que o obrigou a estar longe da família. Mas aquela que tinha tudo para ser uma carreira naval promissora, terminou de forma abrupta com a morte repentina do rei George VI. Após a coroação de Isabel II, Philip deixou a carreira naval e sucedeu ao sogro ao ser nomeado Capitão Geral da Marinha Real.

O casamento

O casal começou a namorar à distância, trocando correspondência enquanto Philip ainda estava na Marinha. De acordo com o perfil do The Independent, na altura o romance não foi muito bem visto pelo pai da princesa, o que obrigou a uma série de mudanças na vida do futuro duque de Edimburgo: naturalizou-se, fez a sua conversão religiosa e renunciou ao seu título real.

“Perdeu o que é seu por nascença, a sua casa, nome, nacionalidade e igreja”, refere o jornal britânico sobre o romance com aquela que, em 1952, viria a tornar-se na futura rainha de Inglaterra. Ao tornar-se cidadão britânico, Philip adotou o seu apelido de família: Mountbatten.

Príncipe Philip
créditos: AFP and licensors

Depois de um noivado relâmpago, subiram ao altar na Abadia de Westminster a 20 de novembro de 1947. Aquando do enlace recebeu três títulos reais: o de duque de Edimburgo, o de Conde de Merioneth e o de  Barão de Greenwich. Juntos tiveram quatro filhos: Carlos, Ana, André e Eduardo. De acordo com site da Casa Real, o título de Príncipe só lhe foi atribuído por Sua Majestade em 1957, ou seja, 10 anos após o casamento.

O príncipe Philip casou com a Rainha Isabel II em 1947, cinco anos antes de a monarca ascender ao trono, e foi o consorte real mais antigo da história britânica. O casal teve quatro filhos, oito netos e 10 bisnetos.

 A vida pública

Com a coroação de Isabel II, Philip foi obrigado a colocar um ponto final na sua promissora carreira naval. Esta mudança fez com que tivesse de encontrar o seu lugar dentro da família real.

“Ele criou uma muito vida agitada e extremamente influente para si. E isso, mais do que qualquer coisa, é uma lição em dever”, afirmou o secretário pessoal do Duque de Edimburgo, Brigadier Sir Miles Hunt-Davis no documentário The Duke: A Portrait of Prince Philip.

A preservação ambiental e a vida selvagem tornaram-se nas suas grandes causas, tendo assumido a presidência da World Wildlife Fund (WWD) durante 15 anos. A instituição, atualmente presidida pelo príncipe Carlos, criou um prémio com o seu nome – o Duke of Edinburgh Conservation Award - que todos os anos premeia indivíduos que tenham contribuído para a conservação da vida selvagem e recursos naturais.

Enquanto príncipe consorte acompanhou Sua Majestade em grande parte das digressões reais pela Commonwealth e Reino Unido assim como nas suas visitas de Estado ao estrangeiro. Conhecido pelo seu sentido de humor politicamente incorreto, algumas destas visitas e encontros ficaram marcados pela mordacidade e irreverência das suas intervenções.

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Descrito pela prima, Countess Mountbatten of Burma, como um homem sem “qualquer tipo de tato”, Philip admite que dizer aquilo que pensa lhe trouxe alguns dissabores, principalmente com a imprensa que acabou por criar uma ideia errada a seu respeito. “Acho que, ocasionalmente, sim, mas acho que têm a sua própria agenda e, é assim. Temos que aprender a viver com isso”, disse o duque de Edimburgo que, em 1961, se tornou no primeiro membro da família real a dar uma entrevista televisiva ao programa Panorama e a autorizar o primeiro documentário sobre a realeza, intitulado ‘Royal Family’ (1969).

De acordo com o site oficial da Família Real, ao longo da sua vida realizou 22.219 compromissos a solo, 637 visitas ao estrangeiro a solo e fez mais de 5400 discursos.

“Acho que fiz a minha parte, por isso quero aproveitar um pouco, com menos responsabilidade, menos correria, sem ter que pensar no que dizer. Para além disso tenho perda de memória, não me lembro de nomes e coisas”, disse no documentário The Duke at 90, altura em que começou a abrandar o ritmo da sua agenda. “É melhor retirar-me antes de atingir o prazo de validade.”

Em 2017, a Casa Real anunciou que a partir do outono desse ano “não iria dar continuidade ao seu programa de compromissos públicos, apesar de poder escolher estar presente em certos eventos, juntamente com a Rainha, de tempos a tempos.”

Em 2009, bateu o recorde de Charlotte de Mecklemburgo-Strelitz, rainha consorte do rei George III, ao tornar-se no “consorte com o reinado mais longo da história britânica”.

Trabalho filantrópico

Desde que se tornou membro da família real, Philip passou a dedicar parte do seu tempo a projetos de caridade e a apoiar causas que lhe são próximas. Apesar de nos últimos anos já não ter realizado compromissos públicos, continuou a ser patrono e membro de 780 instituições, tendo especial interesse em causas relacionadas com o exército, pesquisa científica e tecnológica, conservação ambiental e desporto, pode ler-se no site da Família Real.

Foi ainda responsável pela criação do The Duke of Edinburgh's Award. Lançado em 1956, o DofE é um programa que, alicerçado em quatro áreas distintas (voluntariado, parte física, competências e expedição), tem como objetivo ajudar a preparar jovens, entre os 14 e os 24 anos, para a vida e mundo profissional.