A cantora israelita Netta Barzilai, vítima de intimidação desde os tempos de infância devido ao excesso de peso, condena a ditadura da imagem dos tempos que correm. "Até fazer 18 anos, eu nunca comi em público por ser gorda", assume a intérprete de "Ricki Lake", o novo single que foi apresentar a Espanha. No vídeo promocional da canção, a artista judia, que venceu a edição de 2018 do Festival Eurovisão da Canção, em Lisboa, devora tudo o que lhe aparece à frente.

"Fui vítima de bullying desde os seis anos e, quando fiz oito, decidi que queria ser adulta. Vestia as roupas da minha mãe, ia com ela para o trabalho, falava muito alto e tornava-me amiga dos professores. Só quando acabou a escola e deixei de lidar com os abusadores é que me apercebi do mal que me tinham feito. Não me deixaram viver a minha infância", lamentou Netta Barzilai em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, revelando a alcunha que os ex-colegas lhe puseram.

Cabelos cor de rosa, lábios marcantes e corpos esbeltos. As concorrentes do Festival da Canção da Eurovisão de 2018
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"Chamavam-me rinoceronte", recorda a intérprete de "Toy". Apesar de continuar a sofrer com as (muitas) críticas que lhe fazem, a cantora garante que, hoje, aprendeu a relativizá-las. "Sim, sou um animal enorme, poderoso, sem arrependimentos e cheio de amor", desabafa. "Por isso é que, sempre que estou em estúdio com um produtor ou com um realizador de telediscos, quero sempre mais cor de rosa, mais cores e mais tules, para deixar que essa menina fale", acrescenta Netta Barzilai. Apesar de abordar o tema, a cantora e compositora garante que não pretende ser o porta-estandarte de qualquer causa social. "Não me vou pôr agora a fazer canções sobre assuntos importantes. Não tenho qualquer interesse em educar as pessoas", garante a artista de 27 anos.

"Eu apenas falo das minhas experiências pessoais", confessa a cantora, que se diz vítima de racismo e de discriminação desde os tempos em que participou no Festival Eurovisão da Canção, uma situação que, nos últimos anos, se tem vindo a agravar. "É racista boicotarem-me por ser de Israel", critica Netta Barzilai. "A religião judaica condena as relações homossexuais mas, como valorizamos muito a vida e ela é curta, preferimos ser felizes", refere ainda a artista.

"É uma loucura mas [Israel] é um país religioso que está em vias de reconhecer o casamento homossexual", afirma Netta Barzilai. Em junho de 2018, dois meses depois de ter vencido o eurofestival, a cantora israelita viu alguns ativistas espanhóis apelar ao boicote da atuação que tinha agendada para Madrid. Hoje, desvaloriza a polémica. "Poderia entendê-la se as minhas canções fossem políticas. Sou apenas uma tipa que canta com cacarejos de galinha", desabafa.