Nunca quis tornar a doença pública e conseguiu-o. A notícia da morte inesperada da apresentadora Helena Ramos aos 64 anos, vítima de cancro, apanhou, por isso, muitos de surpresa. "Estou muito triste. Não sabia de nada. Ela deu umas indiretas mas apenas isso. Manteve o segredo até ao fim e partiu com uma enorme dignidade", afirmou ao Modern Life/SAPO Lifestyle uma ex-apresentadora de televisão.

Em maio de 2017, à margem da apresentação da edição desse ano da Gala Solidária Amigas do Peito, um evento de beneficência para angariar fundos para apoiar mulheres com cancro da mama, acedeu a dar aquela que seria, com grande probabilidade, a sua derradeira entrevista. Uma conversa onde teceu fortes críticas ao atual panorama televisivo e, ironicamente, falou da doença que a viria a matar.

"Qualquer dia, vou pensar em reformar-me. Ainda estou longe da idade da reforma mas já passei dos 60. Tenho 62 anos. Um dia destes, vou começar a pensar nisso", admitia Helena Ramos. "A mim, motiva-me, acima de tudo, viver um dia de cada vez e ser feliz todos os dias. Ponto!", garantia. "Procuro fazer isso diariamente. Gosto de olhar para os outros e de ajudar. Gosto de estar disponível para o que for preciso", revelou.

"Temos de viver momento a momento"

"A vida é muito curta e nós não sabemos quando é que nos vamos embora. Por isso, temos de viver momento a momento. Isso é que é importante!", sublinhava a apresentadora de televisão da RTP que, apesar de continuar em antena, estava dececionada com o atual panorama televisivo. "Olhe, quer que lhe diga uma coisa? Nem vale a pena falar sobre esse assunto! Acho que não vale a pena", começou por dizer.

"Eu tenho a minha opinião e ela não vai mudar em nada a filosofia das televisões. Tenho pena que não tenham uma política à semelhança das televisões estrangeiras. Mas, sinceramente, isso, a mim, já não me toca muito, percebe? Nunca me tocou", garantia. "Felizmente, tenho vários cursos [duas licenciaturas, uma pós-graduação e um MBA em direção de empresas] e estou apta a fazer várias coisas", lembrou.

"Tenho, acima de tudo, pena que as pessoas tenham pouca formação. Dizem muitas asneiras. Algumas não sabem falar português… Não são todas, felizmente! Quem está à frente é que ganha o dinheiro e é quem manda e tudo isto é político. Portanto, não vale a pena… Muitas vezes, quem lá está à frente também não tem grande mérito. Já não é uma preocupação minha", assumia a apresentadora de televisão.

"A gente nunca sabe o que nos pode acontecer amanhã"

"Também nunca fiz grande frente a isso porque também não resolveria nada", admitia, com mágoa. Na altura, a poucas semanas da edição de 2017 da Gala Solidária Amigas do Peito, quando questionada sobre o cancro da mama, Helena Ramos não fugiu às perguntas. "Sim, felizmente, ao contrário de muitas mulheres, esta doença é uma realidade que me tem passado ao lado", confirmava a funcionária da RTP.

"Mas, como disse há pouco, não tenho cancro da mama… ainda! Porque a gente nunca sabe o que nos pode acontecer amanhã, não é? Não tenho este problema na família mas isso não quer dizer nada hoje em dia", afirmou. Apesar de ter essa noção, reconhece que, por vezes, facilitava. "Sou muito pouco atenta e muito pouco vigilante. Agora, estou um bocadinho mais cuidadosa mas acho que todas devemos ter este cuidado", disse.

"Felizmente, hoje em dia, os tratamentos do cancro da mama estão tão avançados que esta passa, em muitos casos, a ser uma doença crónica. Há, neste momento, outros cancros que são mais perigosos que o da mama. Agora, em qualquer tipo de doença, a nossa cabeça manda tudo e, neste caso, em que esta palavra em si já é tão assustadora, a nossa cabeça ainda manda mais. Ainda tem que mandar mais!", defendia.