Tinha apenas 16 anos quando aproveitou os tempos livres das férias de verão para testar capacidades em frente a uma câmara, simpaticamente cedida pela irmã. O canal de YouTube de Fábio Lopes - popularmente conhecido como Conguito - nasceu em 2016 e, aquele que era apenas um hobbie, acabou por tornar-se a sua rampa de lançamento.

A rádio não tardou a 'bater-lhe à porta' e, uma vez aberta, não mais se fechou.

O atual radialista da Mega Hits falou-nos do caminho que o trouxe até à apresentação de um dos programas de rádio com mais sucesso entre os jovens.

Mas há mais, muito mais.

Quando nasceu o gosto pela comunicação?

Em casa queria ser sempre o centro das atenções, acho que foi aí que percebi que quando fosse grande também queria estar no spotlight. Aí começou a minha paixão pela comunicação. Comecei também a imitar o que os apresentadores faziam, mas algo muito ligeiro. Fui para o futebol e meti-me noutras aventuras. Até que na altura do secundário pensei que queria seguir alguma coisa relacionada com isto. Foi tudo passo a passo.

Qual foi o primeiro passo?

Estava no secundário e comecei a fazer vídeos para o YouTube [em 2011]. Começou por ser uma brincadeira e tornou-se sério. Comecei a dedicar-me mais e, à medida que o canal foi crescendo, fui tendo mais oportunidades de experimentar outros mundos da comunicação.

Muito antes de todo este ‘boom’.

Quando comecei só existiam quatro canais. Foi num verão em que não tinha nada para fazer. Pensei: ‘Tenho piada e tenho aqui a câmara da minha irmã. Vou começar a fazer uns vídeos’. Comecei com um amigo, depois continuei sozinho.

Que temas abordava?

Temas do meu dia-a-dia, muito diferente do que estamos habituados a ver hoje nos youtubers. A minha ideia era mostrar a realidade de um miúdo de 16 anos: Como lida com os trabalhos de casa, como vive os festivais… Consoante a idade fui crescendo e abordando temas mais sérios.

Estava cansado de fazer vídeos para o YouTube e precisava de um desafio novo, mas não fui à procura da rádio. A rádio é que me encontrou

Nessa altura o YouTube era muito mais orgânico, não existia uma estratégia associada. Ao ver essa evolução quais são as principais diferenças que nota?

Acima de tudo, as pessoas olham para o YouTube como um negócio. Naquela altura era impensável, nem sequer existiam anúncios a rodar. Fazia-se aquilo mesmo por paixão. Não que agora não se faça, mas sinto que agora há certos criadores de conteúdo que fazem vídeos com este ou aquele título, com este ou aquele timeline, para funcionar. A verdade é que funciona, o mercado assim o quer.

Como é que surge a rádio?

Estava cansado de fazer vídeos para o YouTube e precisava de um desafio novo, mas não fui à procura da rádio. A rádio é que me encontrou. Tive oportunidade de ser convidado pela Mega Hits, pela mão do Nelson Cunha, o diretor, que numa conversa muito informal me perguntou o que ia fazer naquele verão. Aceitei logo o convite, tive um período de formação e cá estou no programa das manhãs.

A Mega Hits é das rádios mais ouvidas pelo público jovem. O que é que essa exposição trouxe?

Primeiro, responsabilidade. Fazia vídeos para e trabalhava com algumas marcas, mas a partir do momento que fui para a rádio os meus hábitos mudaram. Deixei de poder sair à noite ou beber um café com amigos às dez da noite porque às 4h50 tenho de estar acordado. Mas foi completamente tranquilo, até porque já estava numa idade em que precisava de ter outras responsabilidades.

Outra mudança foi a noção das pessoas que me estão a ouvir. Ou seja, apesar de no YouTube podermos analisar os números, na rádio temos uma magia muito mais forte. Estás num estúdio com quatro pessoas e estás a ser ouvido por 500 mil pessoas. Dizes alguma coisa e recebes logo uma mensagem no Instagram.

Tivemos sorte porque tornou-se um sítio agradável para as pessoas partilharem coisas que se calhar não partilhariam noutras entrevistas, mas acabou por se tornar um jogo divertido

Lida bem com esse imediatismo?

Aprendi a lidar com isso no YouTube porque há essa proximidade, as pessoas comentam como se o teu conteúdo lhes pertencesse. Quando cheguei à rádio já tinha a noção de que pode haver pessoas que não gostam da minha presença, mas o mais importante é ser verdadeiro.

Lê comentários?

Sim, faço questão. Às vezes há opiniões que são embirração, mas outras vezes ajudam-me mesmo a crescer. Temos de ver o bom e o mau.

Integra o ‘Cala-te Boca’ desde o início. Adivinhava-se tamanho sucesso?

Não. Acho que tivemos sorte porque tornou-se um sítio agradável para as pessoas partilharem coisas que se calhar não partilhariam noutras entrevistas, mas acabou por se tornar um jogo divertido. Colocamos as pessoas à vontade e elas só dizem o que querem dizer.

Queria muito levar o primeiro-ministro, António Costa, ao 'Cala-te Boca'. o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também gostaria

Mais ou menos.

Às vezes não, depende do quão desbocado o convidado é e quantas horas dormiu na noite anterior. Nós sabíamos que podíamos ter uma presença forte na internet. Tanto eu como o Rui Maria Pêgo, que agora já não está no programa, e a Maria Correia vivemos muito no digital e o nosso público alvo também. Se calhar hoje não conseguem ouvir o programa, mas gostavam de acompanhar. O ‘Cala-te Boca’ dá essa oportunidade aos ouvintes. Tem também a componente vídeo. Gosto imenso de fazer o programa, especialmente quando vão amigos e eu já sei de alguma história, já sei para onde é que vão tentar fugir.

A verdade é que começou como um jogo e tornou-se quase como um confessionário de porta aberta.

Lá está, as pessoas falam entre si e percebem que nós não fazemos [as perguntas] com maldade. É num ambiente super descontraído. Como locutores de rádio, produtores de conteúdo, ouvintes, tentamos colocar-nos no lugar do outro. Podemos ir a perguntas muito difíceis mas temos sempre a consciência de que não queremos deixar a pessoa desconfortável.

Até porque só há uma hipótese para dizer ‘cala-te boca’...

Exato. Têm sempre um trunfo.

Que revelação o apanhou mais de surpresa?

Gostei de imensos [convidados], é super difícil escolher um. Mas vou ter de escolher a Jessica Athayde. Ela também é super descontraída e fala, fala, fala. Depois alguns youtubers, como o Miguel Luz. A Filomena Cautela e o Rui Unas também foram muito fixes.

Nós somos mesmo muito amigos e não podemos transformar aquilo no nosso café. Temos de ter noção que temos milhares de pessoas a ouvir e que é um trabalho

Que celebridades mal pode esperar para apanhar num ‘Cala-te Boca’?

Queria muito levar o primeiro-ministro, António Costa, ao 'Cala-te Boca'. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também gostaria. A Rita Pereira, a Daniela Melchior, e um ou outro jogador - não vou apontar o Cristiano Ronaldo porque obviamente que todos gostavam de entrevistá-lo -, mas o William Carvalho, o Bruno Fernandes…

Com a saída do Rui Maria Pêgo ficou acompanhado por duas personalidades femininas bastante fortes, a Mafalda Castro e a Maria Correia. Como está a ser a experiência?

Tem sido giro, mas um enorme desafio. Nós somos mesmo muito amigos e não podemos transformar aquilo no nosso café. Temos de ter noção que temos milhares de pessoas a ouvir e que é um trabalho. Tentamos sempre ter a nossa onda descontraída, até porque é de manhã e sabemos o que as pessoas procuram ouvir quando ligam a Mega, mas ao mesmo tempo temos de definir estratégias para todas as pessoas se sentirem incluídas, mesmo as pessoas que não nos conhecem. É rádio, não é o nosso canal de YouTube.

Além do programa de rádio, tem feito algumas entrevistas para o canal de YouTube do McDonald’s. É alguém a quem as pessoas gostam de fazer confissões?

Sim, esta experiência com a McDonald’s tem sido o melhor dos dois mundos. Adoro comer fast food e, de repente, estou com amigos meus ou com pessoas que admiro imenso a conversar. Ainda vêm aí episódios muito engraçados em que as pessoas não vão estar à espera das respostas.

É muito ousado nas perguntas. Alguma vez ficou embaraçado por ter questionado sobre determinado assunto?

Não, mas com a Bárbara Bandeira - lá está, somos muito amigos - ficámos a falar durante duas horas e na edição tinha de entrar apenas 20 minutos. Quando as pessoas vêem esse episódio, se calhar pensam: ‘Wow! Como assim ele perguntou aquilo?’. Estávamos na conversa, num ambiente super intimista, nunca foi com aquele objetivo [escrutinar].

E por quem é que o Conguito gostava de ser entrevistado?

Gostava de ser entrevistado pelo Tyler the Creator. É a pessoa com quem mais gostava de trocar cinco minutos de conversa. Tenho a certeza de que vai acontecer. É para isso que acordo todos os dias: Uma conversa com o Tyler the Creator.

Quais são as personalidades que mais o inspiram?

Cá em Portugal, as pessoas com mais influência em mim foram o Carlão e o Virgul. Quando estava a crescer, a aprender o que era a vida, ouvia muito os CDs dos Da Weasel e quase que criou a minha ideia de como é o mundo. O Rui Unas, o João Manzarra, o Bruno Nogueira. E lá fora o Tyler the Creator, que é o rei, e mais recentemente são uns miúdos chamados Brockhampton, vêm do Texas, têm um coletivo e fazem tudo, música, vídeos, produzem.

Amanhã isto vai acabar. Sem dúvida. Amanhã alguém se vai chatear com o Instagram e apagar todos os ficheiros que estão lá, vai chegar ao YouTube e dizer que foi vendido e vai apagar tudo. E virá uma coisa nova, virá sempre

Além da rádio, está ligado à música também através da sua revista JAMM [Just Another Music Magazine], que não deve ser “só mais uma revista”. O que nos pode contar sobre este projeto?

É só mais uma revista de música que é exatamente o que não queríamos ser. Há cerca de dois anos e meio estava num concerto em Paris e virei-me para um amigo meu, o António, e disse era importante termos algo palpável além das reviews que já fazíamos a concertos. Era importante que, se amanhã alguém desligasse a ficha da internet, nós conseguíssemos mostrar o que fizemos na nossa adolescência e início da vida adulta.

Apostaram bastante no design.

Foi o João Saúde, que é das pessoas mais épicas no design e acho que o mais importante é que quando tu abres a revista sentes uma identidade.

Este é um projeto em parceria com amigos?

Sim, somos oito. Todos temos uma missão muito bem definida. É uma revista bimestral, a próxima sairá em setembro. É um desafio enorme porque, tudo bem que amamos música, mas não precisamos de físico, numa altura em que toda a gente dizia que tínhamos de migrar para o digital.

Sinto que preciso de ganhar outro tipo de responsabilidade na minha criação. Não quero ser o miúdo que fala sobre os trabalhos de casa ou sobre a minha professora

O que o faz apostar numa revista física estando tão vinculado ao digital?

Porque amanhã isto vai acabar. Sem dúvida. Amanhã alguém se vai chatear com o Instagram e apagar todos os ficheiros que estão lá, vai chegar ao YouTube e dizer que foi vendido e a pessoa vai apagar tudo. E virá uma coisa nova, virá sempre. Nós queremos estar preparados para isso. Podemos ter o disco externo cheio de textos que escrevemos, mas é importante ter algo palpável. É uma revista em que reúno os meus amigos mais talentosos que se calhar não teriam coragem de produzir conteúdos sozinhos. Estou muito satisfeito, é talvez o primeiro projeto em que sinto que tenho total controlo sobre ele. É mesmo o meu bebé.

Numa altura em que o YouTube está a ser tão explorado, gostava de voltar?

Não publico vídeos há dois anos, mas tenho feito imensos vídeos. Tenho imensos no disco externo, é por isso que não apaguei o meu canal. Continuo a gravar, às vezes vou viajar e faço documentário. Tenho tido vários conteúdos que estão prontos para lançar se um dia me apetecer. Neste momento não tenho vontade, mas não estou nada chateado com o YouTube.

A par do YouTube, que perspetivas tem para o futuro?

Acima de tudo crescer, e não é profissionalmente. Sinto-me totalmente bem como estou, na rádio, na revista, como digital influencer. Sinto que preciso de ganhar outro tipo de responsabilidade na minha criação. Não quero ser o miúdo que fala sobre os trabalhos de casa ou sobre a minha professora. Tenho a sorte de estar rodeado de pessoas que me ajudam a crescer. Sei que se quiser ir para o México apanhar plástico no oceano Pacífico, tenho pessoas que me ajudam.

A televisão está nos planos?

Tive a experiência do Curto Circuito, que apresentei durante um ano e meio e que foi fantástico. Neste momento acho que não tenho tempo para fazer um projeto em televisão, a não ser que seja um projeto mais leve. Algo diário ou muito regular, não tenho tempo para fazer. Se me perguntarem, neste momento, se prefiro rádio ou televisão, vou escolher rádio.