Maria Isabel Rebelo do Couto da Cruz Roseta, mais conhecida como Cuca Roseta, está mais bonita do que nunca. Trabalha todos os dias o corpo, a voz e a mente, em busca da verdade das coisas. Aquela que depois nos conta quando canta o fado e se encontra a si mesma, como revela em entrevista à Prevenir. «Quanto mais encontrarmos a nossa verdade, mais a vamos conseguir dar aos outros», afirma a cantora de «Raízes» e «Riû».

É mãe, foi jurada do programa «Got Talent Portugal» e vai lançar, em breve, um novo trabalho. Como é hoje um dia na sua vida?

Entre ser mãe, compor e escrever para o disco, fazer concertos, ter reuniões de preparação e participar no «Got Talent Portugal», é difícil organizar-me, mas tudo vai fluindo. Há algo de que não abdico e que me ajuda, que é fazer exercício. Pratico ioga de manhã, diariamente. Dois dias por semana, faço taekwondo e, uma vez por semana, vou ao ginásio.

O que aprendeu com o programa «Got Talent Portugal»?

Foi uma experiência fantástica. É um programa com muitas emoções, não só para as pessoas que vão mostrar o seu talento como para nós, que avaliamos e temos de o fazer em coerência com a nossa experiência. É uma responsabilidade aconselhar concorrentes para quem este tipo de experiência significa tudo e penso que o facto de eu ser licenciada em psicologia me tem ajudado muito, porque é preciso saber dizer não sem deixar nenhum trauma em quem o ouve.

Também nós, jurados, ouvimos vários nãos até o sim acontecer e sabemos que o mais importante é não desistir. O programa deu-me também dado a possibilidade de ser eu mesma e de me conhecer a mim própria. É tão interessante ter a nosso lado duas pessoas que pensam de forma diferente. Para além de tudo isto, foi uma oportunidade de passar dias inteiros a ver arte, o que é incrível.

Este tipo de programas revela, na sua opinião, que o talento é inato ou que é algo que se constrói, trabalhando muito para se lá chegar?

É um pouco dos dois. Qualquer pessoa que tem um talento tem de ser disciplinada. A disciplina é o mais importante de tudo. Devemos definir prioridades e, se realmente queremos evoluir, [devemos] manter a persistência de trabalharmos todos os dias, mesmo quando não nos apetece, até mesmo quando estamos doentes. Nas audições, perguntava às crianças quantas horas é que tocavam por dia ou quantas horas é que ensaiavam e quase todas elas diziam cinco horas. É impressionante.

Tem um talento que ninguém conhece?

Toco vários instrumentos de ouvido desde pequenina, o que nunca tornei público, como por exemplo o piano. Aprendi sozinha, componho ao piano. Toco todos os dias. Comecei agora a ter aulas particulares porque quero conseguir tocar peças mais elaboradas.

Há pouco falava da influência do seu curso de psicologia na forma como lida com os outros. Por que escolheu essa licenciatura?

Desde criança, sempre me interessei muito pelo comportamento humano. Escrevia muito sobre sentimentos, o mundo, as pessoas… Observava-as muito! Achava que era o curso certo para mim e demorei imenso tempo a perceber que poderia só cantar, porque achava que a minha vocação se concretizava na psicologia.

Chegou a exercer?

Fiz um estágio e comecei a perceber que era demasiado sensível para lidar com os problemas que surgiam. Em casos de maus tratos a crianças, ficava completamente arrasada, sem dormir, com pesadelos… Percebi logo que não poderia trabalhar em psicologia clínica.

Fui tirar uma pós-graduação em marketing, porque me interessava pela área do comportamento do consumidor, mas depois não me identificava com o lado das vendas. Ainda pensei fazer um mestrado em antropologia mas, aí, surgiu o fado e percebi que tinha nascido para cantar. O fado tinha a ver com todas as minhas paixões, o comportamento e as culturas, e correspondia à minha sensibilidade.

Veja na página seguinte: O momento em que Cuca Roseta teve de optar

Quando e como percebeu que essa era a decisão certa?

Tinha 22 anos, já tinha feito parte dos Toranja e, um dia, o Gustavo Santaolalla, considerado um dos maiores produtores do mundo, sentou-se à minha frente e disse «Cuca, tenho uma proposta para ti que é de fazeres vários espetáculos lá fora, mas tens de fazer uma escolha, porque não vais conseguir trabalhar em psicologia e levar o fado ao mundo. Tens de tomar uma decisão».

Fui pensar e, dois dias depois, aceitei. Foi muito importante para mim que ele me tivesse colocado essa questão porque as coisas só resultam se estivermos inteiros nos projetos.

O fado exige essa entrega? O que é o fado?

Se tiver de definir o fado numa palavra, defino-o como verdade. Quanto mais encontrarmos a nossa verdade, mais a vamos conseguir dar aos outros. Esse é o objetivo e é um caminho extraordinário que me fascina. É por isso que o fado precisa de letras próprias e de músicas com que nos identificamos, porque só é verdade quando contamos uma história que sentimos.

Cantar mexe com a nossa energia, porque cantamos histórias que vivemos na nossa vida. Estamos  permanentemente a fazer uma catarse das boas e das más emoções. Dar aos outros e fazer passar a emoção é algo que exijo muito de mim, até porque sei que, quando recebo alguma coisa da arte, isso muda a minha vida. A arte faz-nos parar, meditar sobre a vida, de maneira mais triste ou mais alegre.

E, por isso, também eu, como seu instrumento, tenho a responsabilidade de passar a emoção aos outros. Antes de um grande concerto, tenho um ritual, ver o filme «Iberia», de Carlos Saura. Inspira-me imenso para me entregar. É um filme que passa por todos os tipos de dança e música de Espanha com artistas sublimes à procura da verdade, que o fado também tem, de que a beleza não é exterior. A beleza da arte é totalmente interior.

No início da nossa conversa, contava que, no dia a dia, não abdica da prática de ioga. Porquê? E que tipo de ioga?

Todos os dias, pratico duas horas de ashtanga ioga, um tipo de ioga cuja aprendizagem se faz com um professor, mas que se pratica individualmente, evoluindo progressivamente. É um ioga que se faz no silêncio, um encontro individual que nos permite lidar com o stresse e as emoções. O foco é a respiração, vamos respirando a nossa vida através do nosso corpo, o que inicialmente não é fácil.

Em cada posição, respiramos cinco a dez vezes. Acredito que tudo o que vivemos acaba por deixar marcas no nosso corpo e no ioga respiramos todas essas experiências, ficamos a conhecer o nosso corpo, de uma ponta à outra, todos os nossos músculos.

A base é a respiração e, através dela, tudo vai fluir. É essa respiração e a própria evolução das posições que nos permite um encontro connosco mesmos e aprendermos a lidar com os medos e as emoções.

Que impacto tem o ioga na sua saúde física e mental?

Sinto-o principalmente na rapidez de raciocínio. Quando saio do ioga, sinto-me com muita energia. Muito criativa!

Veja na página seguinte: O que a fadista mudou na alimentação por influência do marido

E quando é que começou a praticar taekwondo?

As artes marciais estiveram sempre muito presentes na minha vida. O meu tio foi o primeiro quarto dan em karaté em Portugal e pratiquei esta modalidade desde criança. Sou cinto verde em judo e cinto verde em karaté. Depois, parei na adolescência, fiz dança e, aos 22 anos, descobri o taekwondo.

Já pratico há 12 anos, sou cinturão negro. Tem uma base espiritual muito grande, assenta em valores fortíssimos de respeito pelo outro, de disciplina, de atitude, de coragem, de enfrentar os medos, de aprender a controlar as nossas emoções. Há crescimento da parte espiritual e filosófica a par dos movimentos que aprendemos.

Para além disso, ainda vai ao ginásio…

Sim, vou ao ginásio uma vez por semana, onde sou acompanhada por um personal trainer. O objetivo é trabalhar diversas áreas do corpo, manter-me em forma e saudável. Mas, para se obterem resultados, a alimentação é o mais importante. O meu marido, que é preparador físico, está sempre a dizer que, para se estar em boa forma, primeiro é preciso alimentarmo-nos bem e depois fazer exercício físico. O exercício físico ajuda, mas sem uma boa alimentação é impossível ter resultados.

O que mudou na sua alimentação, por influência do seu marido?

Ele mudou completamente a minha forma de ver a alimentação. É extraordinário, está sempre a estudar, faz experiências na alimentação dos jogadores e vai avaliando os resultados. Recentemente, lançou um livro [«Estilo de Vida – A dieta que resulta»]. Eu achava que me alimentava muito bem, antes de o conhecer, mas percebi que isso não era verdade.

Por exemplo, deixei de beber refrigerantes, passei a ler os valores dos rótulos dos alimentos. Hoje, sei que é mais importante consumir vegetais às refeições do que hidratos de carbono.

Ao pequeno-almoço, passei a beber mais batidos de vegetais e a comer papas de aveia, em vez de cereais, aparentemente saudáveis, mas cheios de açúcar. Reduzi a quantidade de pão, troquei o branco pelo escuro e evito os fritos. Não bebo nada a não ser água. E, com isso, o meu corpo mudou muito.

Texto: Nazaré Tocha com Carlos Ramos (fotografia)