À semelhança de muitos atores da sua geração, a carreira de Rodrigo Soares começou como manequim. Foi o mundo da moda que lhe abriu portas para a representação, tendo dados os primeiros passos na grande escola que foram os 'Morangos Com Açúcar'.

Aos 40 anos, conta com várias participações em produções nacionais e o ano passado somou ao portfólio o selo da Netflix ao integrar a série espanhola 'Alta Mar'.

O ator esteve à conversa com o Fama Ao Minuto sobre este caminho que teve como ponto de partida o grande êxito juvenil e culminou numa produção original de uma das mais conceituadas empresas tecnológicas da atualidade.

Que sonhos nascem agora? Fomos descobrir.

Começou como modelo, mas ficou conhecido como ator. Como se deu essa transição?

Não foi complicada, já há algum tempo que tenho feito essa transição. Quando és manequim tens acesso a castings para representação. Quando comecei a fazer não tinha formação nenhuma, então fui tirando cursos. Foram começando a surgir castings e houve um dia em que surgiu o dos ‘Morangos [Com Açúcar]’, como quase 90% dos atores em Portugal. Por acaso entrei primeiro numa novela, a ‘Sentimentos’. Depois foi um percurso.

'Morangos Com Açúcar'? Não foi de certeza o meu melhor papel, mas foi uma escola ótima Sente então que os ‘Morangos Com Açúcar’ foram a sua rampa de lançamento?

Sim, foi o primeiro projeto em que tive alguma notoriedade em termos de televisão.

Há muitos atores que recordam a série como uma fase muito marcante. Partilha desse sentimento?

Em termos de experiência, claro que foi especial. Foi a primeira vez que estive a gravar continuamente. Na altura, os ‘Morangos’ estavam na berra e para mim foi uma iniciação, foi aprender o que não fazer. E isso é super importante. Os ‘Morangos’ eram um workshop, que passava na televisão. A maior parte de nós estava a aprender, havia muito pouca gente com experiência. Não foi de certeza o meu melhor papel, mas foi uma escola ótima.

Ter chegado à Netflix é o que se diz estar no sítio certo à hora certa Tendo continuado sempre presente na ficção, que papéis mais o realizaram?

O que gostei mais e que teve maior relevo foi nos ‘Jardins Proibidos’, na TVI, em que fazia de pescador e tinha uma relação em que gostava da mãe e da filha. Trabalhei com o Vítor Norte, a Maria Emília Correia e a Helena Isabel, atores que me acolheram muito bem e com quem aprendi muito. Tínhamos uma ótima relação. Guardo essa novela com muito carinho.

No final do ano passado fez uma participação especial na série espanhola ‘Alta Mar’, da Netflix. Como surgiu o convite?

É o que se diz estar no sítio certo à hora certa. Uma agente estava à procura de um ator português ou que falasse português. Ela estava com uma outra colega minha que lhe indicou o meu nome, essa agente espanhola pediu que eu enviasse um vídeo para avaliar o meu nível de espanhol. Mandei uma ‘self tape’ para Madrid e depois esperei meses. Chegou a dizer-me que já não ia acontecer nada. Já estava completamente relaxado - ela nunca me disse que era uma série da Netflix - e houve uma altura que me disse que provavelmente já tinham escolhido outro ator. Passou abril, maio, junho… Em julho, mandaram uma mensagem a uma quinta-feira a dizer que tinha de lá estar na segunda-feira seguinte para começar a gravar. Foi uma emoção grande.

Como geriu todas essas emoções?

Foi tão pouco tempo que não deu para pensar. Foi organizar a minha ida para Madrid, arranjar tudo o que era preciso e pronto. Meti-me no carro e estive lá duas semanas a gravar. Na altura o meu medo maior era que me mandassem para trás por causa do cabelo, porque estava muito curto. Não me tinham dito que era uma personagem de época.

Fez uma personagem do exército?

Fiz um tenente da polícia brasileira nos anos 40.

O que foi mais desafiante na preparação da personagem?

Não foi muito difícil. Agora vou ser um bocado spoiler: Eles depois acabam por descobrir que eu não sou um polícia verdadeiro. Portanto eu era mais um intrujão que tinha de fingir que era um polícia. Em termos de preparação, sinceramente o que me preocupou mais era saber se estava a fazer o sotaque certo, porque queriam que fosse brasileiro. Mas correu tudo bem.

O mercado internacional é uma coisa que me interessa, devia interessar a qualquer português porque o nosso mercado continua muito pequeno Ficou o bichinho de crescer internacionalmente?

Lógico que sim. Em termos técnicos há uma grande diferença, em termos de orçamento também. Estar a fazer uma série para a Netflix ou uma produção nacional é diferente e não estou a só a falar do cachet, porque claro que são melhores, mas em termos de técnica.

Tenho saudades de passar umas temporadas no estrangeiro porque isso acontecia muito quando eu era manequim. O mercado internacional é uma coisa que me interessa, devia interessar a qualquer português porque o nosso mercado continua muito pequeno.

Em Portugal, ser protagonista numa produção também é um objetivo?

Lógico, fazer cinema, fazer teatro. Não anseio ser protagonista, anseio por bons papéis e se for um protagonista ótimo, mas se não for também não é isso que me move.

Há algum tipo de personagem que gostasse de fazer num futuro mais próximo?

É um bocado cliché, mas gostava de fazer um vilão ou uma personagem cómica à séria. O facto é que os papéis que tenho feito são sempre o menino bonzinho e romântico. Gostava que me testassem noutro registo.

Referiu que gostava de fazer teatro. Muitos atores consideram que é a verdadeira escola da representação.

O teatro é uma ótima escola, sim, mas quem faz muito teatro e vai para televisão também tem de reaprender tudo de novo porque as técnicas são completamente diferentes. Adorava fazer teatro porque é diferente do que já fiz.

Acho que se começa a perceber que os portugueses não querem só ver novelas e futebol, por isso é que a qualidade começa a aumentar. Tudo isso é bom para os atores Estando inserido no meio há tantos anos, como olha para as mudanças que estão a acontecer na televisão?

Com bons olhos. Hoje em dia é bom haver mudanças. Não podemos estagnar. As coisas têm de mudar em todo o lado. Acho que se começa a perceber que os portugueses não querem só ver novelas e futebol, por isso é que a qualidade começa a aumentar. Tudo isso é bom para os atores.

Ao falar de mudanças, é inevitável referir que as redes sociais hoje em dia são essenciais na vida dos artistas.

Sim, são um mal necessário. Sendo sincero, se pudesse viver sem a obrigatoriedade de ter redes sociais, seria melhor. Mas hoje em dia é necessário porque é um complemento. Até gosto de fazer os meus posts quando estou inspirado, mas a obrigação é uma coisa que me chateia muito. Esta loucura dos likes faz-me confusão… tenho 40 anos, vivi 20 sem tudo isto. Lembro-me de como era ir a concertos sem telemóveis, falar de alguém sem querer saber quantos seguidores tem. Tenho que isso não domine a minha vida.

A proximidade com o público já motivou alguma abordagem mais inusitada?

Não me exponho ao ponto de receber abordagens de mau carácter. Quem se mete de uma maneira de que eu não gosto, não sou de bloquear, simplesmente ignoro.

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