O acidente vascular cerebral é uma emergência neurológica e uma causa importante de sequelas e mortalidade na mulher. Por definição o AVC isquémico acontece quando o fluxo de sangue do cérebro é interrompido e o tecido morre. Já no AVC hemorrágico ocorre uma rotura dos vasos e o cérebro é lesado pela dispersão do sangue no tecido cerebral associado ao edema e aumento da pressão intracraniana.

É frequente o AVC na Gravidez?

O AVC pode acontecer a qualquer pessoa em qualquer momento da sua vida. Apesar do número de AVCs em mulheres em idade reprodutiva ser baixo, a grávida e a mulher no período pós-parto têm um risco aumentado, devido a um número de diferentes fatores que alteram a dinâmica cardiovascular do organismo e os mecanismos da coagulação. De forma a prevenir a hemorragia no pós parto existe um aumento fisiológico da tendência a formar coágulos, constituindo isto um fator de risco tromboembólico. 

Dados recentes mostram que a incidência de AVC na gravidez está aumentar. Existem fatores de risco que aumentam a probabilidade do mesmo ocorrer na gravidez, nomeadamente a hipertensão, a diabetes, a obesidade, a doença cardíaca valvular, as trombofilias hereditárias e adquiridas, a anemia falciforme, o lúpus, o abuso de tabaco e de outras substâncias e as enxaquecas.

As complicações na gravidez e no parto também podem aumentar o risco de ter um AVC: a hiperemese gravídica, a anemia grave, a trombocitopénia (número baixo de plaquetas), a hemorragia pós-parto especialmente a com necessidade de transfusão de sangue, a infeção, a pré-eclâmpsia e a cardiomiopatia pós-parto. A idade materna avançada, uma situação cada vez mais frequente na sociedade, também constitui um fator de risco de AVC. 

Quais os sinais e sintomas do AVC na Gravidez?

O diagnóstico do AVC na gravidez nem sempre é imediato, por causa do receio dos exames imagiológicos de diagnóstico afetarem o bebé. Perante uma elevada suspeição diagnóstica os benefícios da sua realização ultrapassam os riscos, devendo os mesmos serem realizados (TAC e/ou RMN cerebral, ecocardiograma transtorácico e Eco-Doppler) de forma a permitir uma intervenção imediata e melhorar o prognóstico clínico da mãe.

Existem sinais e sintomas súbitos que são considerados de alarme, fora e na gravidez, e que fazem suspeitar de um AVC: alterações da sensibilidade (dormência) ou motoras da face, dos membros ou de um lado do corpo, descoordenação motora, confusão mental, dificuldades na articulação das palavras ou da compreensão do discurso das outras pessoas, alterações da visão e cefaleias intensas.

Como podemos prevenir o AVC na Gravidez?

É muito importante a prevenção que consiste num estilo de vida saudável, evitando o tabaco, tendo uma alimentação equilibrada, e mantendo uma atividade física moderada mesmo na gravidez. Todas as mulheres deverão fazer uma consulta pré-concecional antes de programarem uma gravidez. Algumas mulheres poderão necessitar de fazer prevenção tromboembólica farmacológica (antiagregação ou anticoagulação) durante a gravidez e no pós-parto.

As mulheres que já tiveram um acidente tromboembólico, mesmo que não tenha sido no território cerebral, ou que possuam os fatores de risco já referidos deverão ser avaliadas de forma multidisciplinar numa consulta que inclua especialistas em patologia tromboembólica de forma a otimizar da melhor forma o desfecho da sua gravidez permitindo assim o nascimento de um bebé saudável. 

Um artigo de Jorge Lima, Médico, Professor Universitário e Responsável pela Consulta de Patologia Tromboembólica e Autoimune da Unidade de Alto Risco Obstétrico do Hospital CUF Descobertas.