Maria (nome fictício) vai dar à luz nas próximas semanas, em plena pandemia, e tem medo. Muito medo. Receia contrair a doença, tem medo de poder estar privada de ver o filho ou de não o poder amamentar, de precisar do apoio do marido no parto e não o ter, de não apresentar o bebé aos avós tão depressa… E como não ter?!

Ser mãe ou pai é uma das experiências mais arrebatadoras das nossas vidas. Com os nossos filhos nascem também novas versões de nós. Porem, para muitas grávidas nem sempre esta é uma experiência tranquila e muitas questionam-se: ”Não deveria estar a passar pelo melhor momento da minha vida? Porque nem sempre me sinto feliz?”

Bem, a resposta é simples: A gravidez é um espaço fértil para muitas expectativas, sonhos, alegrias, medos e até desilusões. É um processo nada simples e pouco linear, onde cabe muito espaço para todas as emoções e sentimentos. Ansiedade, receio, apreensão são só alguns, especialmente para quem vai ter um bebé pela primeira vez.

Sabe-se que, em média, uma em cada dez grávidas tem sintomas intensos de ansiedade, a que muitos especialistas dão o nome de ansiedade pré-natal. Estas mães, e também alguns destes pais, referem que se sentem preocupadas, em stresse e mesmo irritadas na maior parte do tempo.

É comum descreverem a sua mente como um local superpovoado de pensamentos, frequentemente catastróficos, sobre tudo o que pode vir a correr mal com o bebé, no parto, no futuro, na adaptação à maternidade, à relação amorosa, ao seu corpo… A lista podia estender-se, variando de pessoa para pessoa. Algumas mães chegam a ter ataques de pânico, queixas de dores musculares, dificuldade em dormir, entre outros sintomas.

Mas se a gravidez, só por si, pode facilmente gerar ansiedade, imagine-se a gravidez em tempos de pandemia! A vós, futuros pais, partilhamos algumas sugestões que esperamos virem a ser úteis.

Em primeiro lugar, é completamente natural e compreensível que estejam preocupados com a forma como o coronavírus poderá afetar o vosso bebé, a vocês, aos avós, aos profissionais de saúde, ao mundo em que o vosso bebé irá nascer.

Como sabem, há uma equipa imensa de pessoas e profissionais por todo o mundo a correr contra o tempo para encontrar vacinas e medicamentos eficazes. Em breve, o mundo será um sítio um pouco mais seguro para os vossos filhos e para todos nós mesmo que esse futuro não seja agora.

Por outro lado, praticamente todos os pais se preocupam (sempre, para sempre e muito) com os seus filhos. Mesmo quando esta fase passar, a ansiedade e o medo associados ao bem-estar, saúde e segurança deles nunca irão passar. Aprenderão a conviver com essa apreensão de forma duradoura e constante.

Ela representa o vosso instinto protetor de progenitores a dar o seu melhor pela sua cria. Espelha esse amor maior que tudo supera para que nada lhes falte e lhes aconteça, mesmo quando implica grandes sacrifícios, dificuldades e sofrimento aos pais.

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créditos: Unsplash

Pais, mantenham-se bem informados, isto é, recorram a informação fidedigna acerca do coronavírus na gravidez e no pós-parto.

Sites como o da Organização Mundial de Saúde ou Direção Geral de Saúde, por exemplo, têm fornecido informações atualizadas acerca da reduzida probabilidade de transmissão do vírus de mães para filhos, da importância do toque e da amamentação mesmo estando a mãe infetada, dos cuidados a ter durante a gravidez e após o parto, entre outras.

Informações como estas poderão não dar resposta a todas as vossas questões mas, decerto, poderão tranquilizar-vos em relação a muitas delas.

Conversem abertamente sobre as vossas necessidades e receios com o/a vosso/a médico/a, nomeadamente sobre quem pode estar junto das parturientes, caso o acompanhante não possa estar durante o momento do parto vaginal ou da cesariana, e qual o momento do reencontro entre todos.

Para muitos pais, mudar de planos e adaptar-se ao rigor das medidas de contenção durante o internamento não é esperado nem desejado, mas saberem com o que podem contar é fundamental para se sentirem mais confiantes e se organizarem para lidar com outra realidade. Se tudo correr bem, sairão do hospital bem rápido e poderão usufruir de tempo juntos.

Muitos futuros pais também sentem alguma tristeza por não poderem partilhar o nascimento do seu bebé com a família e amigos após o parto. Acolham essa tristeza sem julgamentos ou autocrítica, pois ela faz todo o sentido e é muito ajustada ao contexto.

Com paciência e muita entreajuda, acabarão por ter o tão esperado encontro com os entes queridos e, sem dúvida, uma necessidade redobrada de partilha e união.

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Entretanto, e até ao nascimento do bebé, pratiquem o autocuidado e estejam conscientes quer das vossas emoções, quer das vossas necessidades. Ser realista em relação ao que podemos efetivamente controlar ou decidir poderá também ser importante para evitar frustração e ansiedades constantes.

Lembrem-se, há muitas coisas que estão nas vossas mãos fazer (ex. escolherem as informações e as fontes a que têm acesso e limitarem o acesso a notícias que gerem mais stresse e ansiedade; cumprirem as medidas de isolamento e de proteção pessoal; cuidarem do vosso corpo e da vossa saúde; manterem o contacto e pedir ajuda mesmo que de forma virtual, quando necessário; falarem convosco próprios com gentileza e dedicarem-se ao vosso projeto maior com empenho e esperança).

Procurem comprometer-se com os vossos ideais e valores mais elevados, repetindo “mantras” ou mensagens que vos façam sentir mais apaziguados (ex: estou a fazer tudo isto pela saúde do meu bebé, pela minha e pela de todos) e envolverem-se em atividades que vos façam sentir bem (ex. ouvir música, meditar, fazer exercício, dançar, saborear cada momento de uma bela refeição, ouvir ou sentir o bebé, escrever cartas ao vosso futuro bebé a contar a história que ele um dia conhecerá).

Sempre que os pensamentos vierem e tragam com eles emoções como o medo, a zanga ou a tristeza, parem para os receber, para perceberem que eles vieram só para vos avisar de potencias perigos e deixem-nos ir embora. Afinal, são só pensamentos que, como as nuvens, vêm e vão.

Por último, não podemos deixar de alertar para a importância de estarem atentos a possíveis sinais de ansiedade, depressão e, até mesmo, de pós-stresse traumático que poderão vir a ocorrer em algumas mães e alguns pais. Há imensas evidências científicas de que enfrentar acontecimentos geradores de stresse na gravidez pode ter implicações na saúde mental dos progenitores.

Por esse motivo, muitas mães e pais irão enfrentar experiências de desamparo, solidão, medo intenso, perda diversas, luto, impotência… É fundamental estarem atentos a sintomas de sofrimento persistente, intenso, difícil de gerir e com impacto nas vossas vidas.

Se assim for, não hesitem em pedir ajuda a profissionais de saúde mental. Sabemos que esta pandemia irá passar, mas não como iremos estar quando ela terminar. Por isso, não fiquem sozinhos quando o vosso bebé chegar.

A todos os pais, como a Maria, a enfrentar esta situação, queremos dedicar o nosso maior suporte e respeito. O mundo está ao contrário, mas o vosso coração, esse continuará sempre no sítio certo.

Informações úteis para futuros pais:

Linha de apoio à grávida: 967070590 (todos os dias das 10h-20h)

"Mind the mom" – Página no Facebook que reúne informações, recursos e sugestões que contribuam para dias mais serenos e ajustados de grávidas e mães em tempos de COVID-19.

PANDA National Helpline: Site australiano com informações úteis sobre depressão e ansiedade perinatais e de como auto-avaliar sintomas de perturbação.

Organização Mundial de Saúde: Informações orientadoras sobre COVID-19 e gravidez, parto e amamentação (https://www.who.int/)

Autor: Ana Beato/Consulta de Ansiedade do centro de desenvolvimento PIN- Em todas as fases da vida