No inquérito, cerca de dois terços dos alunos entende que trabalhava mais em situação de aulas na escola do que a partir de casa mas a grande maioria (75%) diz que tem conseguido realizar todos os trabalhos enviados pelos professores desde que a escola encerrou, refere o relatório sobre o impacto da pandemia da covid-19 no sistema de ensino português realizado pelo OP.EDU, que junta o Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona, e o Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra.

A amostra para este relatório a que a agência Lusa teve acesso conta com 453 respostas de alunos com menos de 16 anos, de mais de 60 concelhos do país, sendo que os investigadores responsáveis pelo estudo alertam que, tendo o inquérito sido aplicado ‘online', "deixa de fora alunos que não têm acesso à internet". 

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O estudo refere que os 25% dos alunos que não conseguiram realizar todos os trabalhos de casa apontam sobretudo como justificações a falta de tempo (42,1%), dificuldade em perceber o que é pedido pelos professores (33,7%) ou ausência de apoio (24,2%).

Cerca de 15% dos alunos declara que precisa de ajuda diária para realizar os trabalhos, mas muitos tiveram algum apoio durante este período com aulas em casa, sendo a mãe a pessoa a quem mais recorrem "de longe", sendo indicada em 78% das ocasiões, refere o relatório realizado pelos investigadores Ana Benavente, Paulo Peixoto e Rui Machado Gomes.

Um quinto dos alunos diz não estar preocupado com as avaliações do final do ano letivo e a grande maioria afirma que prefere estudar na escola, apesar de haver uma variação entre alunos do 2.º e 3.º ciclo, em que três quartos preferem a escola, e alunos do secundário (apenas dois terços).

Os investigadores ficaram impressionados com "a diversidade de plataformas e instrumentos que estão a ser usados", sendo frequente que uma mesma turma use várias.

Tendo a maioria crescido habituada a utilizar meios digitais, cerca de dois terços continuam a falar diariamente com os colegas, sendo que o WhatsApp é o meio mais usado nesses contactos.

"Apesar de não estarem na escola, nota-se a manutenção da importância social que a escola tem. No entanto, a maioria diz que estará o tempo que for necessário assim até poder regressar à escola", afirmou à agência Lusa o investigador Rui Machado Gomes, considerando que tal disponibilidade pode dever-se, em parte, à compensação da simulação social através de meios digitais, que usam desde muito cedo.

Para Rui Machado Gomes, esta experiência pode também dar algumas sugestões de alteração ao ensino, recorrendo a meios digitais.

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"Esta experiência imposta acabou por demonstrar que estes meios podem ser um instrumento não de substituição mas complementar e que pode e deve ser usado", vincou, considerando que pode ser aplicado em situações de apoio extra escolar ou do chamado ensino programado, em que os alunos fazem tarefas orientadas à distância pelos professores.

"Uma parte importante do ensino presencial pode ser substituível por pedagogia de projeto, com aprendizagens autónomas, mas não houve tempo suficiente de substituir uma pedagogia para todos os efeitos tradicional por pedagogias mais centradas no aluno com a presença do professor enquanto gestor e recurso de aprendizagem", disse Rui Machado Gomes.

O investigador salienta ainda que uma parte dos alunos acaba por não estar representada neste estudo - agregados sem acesso à internet -, considerando que aí, para além de todas essas complicações, também haverá um acentuar das desigualdades no apoio prestado pelos pais, porque terão, à partida, menos capital escolar e, portanto estarão "menos familiarizados com os códigos escolares".

O estudo desenvolvido pelo OP.EDU, com base num inquérito online disponível desde 23 de março, conta também com respostas dos encarregados de educação, já divulgadas, e os alunos maiores de 16 anos que estão no ensino secundário ou superior, cujos resultados serão apresentados em breve.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 89 mil.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 409 mortes, mais 29 do que na véspera (+7,6%), e 13.956 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 815 em relação a quarta-feira (+6,2%).