Parámos no momento de descanso. Já não tinha muito mais para partilhar pois os meus dias eram passados a descansar e esperar pelo dia em que a minha filha decidisse nascer.

Isso aconteceu nos últimos dias de junho, num momento em que os casos de COVID-19 estavam mais controlados, o verão tinha começado, o calor tinha-nos abraçado e os dias esticaram. Tudo parece melhor à luz do verão.

Acreditava que ela iria atrasar-se, que iam passar as 40 semanas, porque não tinha quaisquer sinais de trabalho de parto. A verdade é que tudo aconteceu muito rápido. Tão rápido que nem tive tempo de me preocupar com o tão famoso teste da COVID. Nem eu, nem o pai tínhamos o teste feito quando dei entrada no hospital.

Sempre achei que o trabalho de parto, sobretudo de um primeiro filho, seria algo para levar muitas horas. Não foi isso que aconteceu comigo. Entrei nas urgências pouco depois das 6h e ela nasceu pelas 10h. E também eu fiz parte do rol de mulheres que pariu sozinha. O pai ficou no quarto à nossa espera, pois são essas as vantagens de se escolher um hospital privado. Apesar de ele não ter estado no momento, estivemos juntos no resto do tempo.

E no meio disto tudo, foi o pai que ficou privado de uma série de coisas: não assistiu às últimas consultas na gravidez, não assistiu ao nascimento e não assistiu às primeiras consultas da bebé, tanto no pediatra, como no centro de saúde. O pai passou a ser aquela figura que espera, no carro, no quarto, com o telemóvel na mão à espera de notícias.

O que atenuou um pouco a situação foi a decisão de mudarmos de pediatra. Fomos parar à Clínica Amamentos, em Lisboa, que faz aquilo em que já se devia ter pensado desde o início: o pai pode e deve estar presente. Porque um filho é um projeto a dois, não é – ou não devia ser – um projeto pela metade.

E isto é o que me faz confusão passado um ano. Quando se fecharam as coisas e se impuseram restrições, a ideia que sempre nos foi passada é que seria uma medida de transição, algo temporário. Esta questão das consultas e dos acompanhantes não foi pensada, até ao momento, como algo transitório ou temporário, mas sim como algo permanente, enquanto esta pandemia perdurar. E isso é só triste.

Ao longo destes meses,  fomos revezando-nos e, tanto eu como o pai, já a levamos ao centro de saúde em separado.

Mas, nem tudo é mau. A pandemia e o teletrabalho deu-nos a oportunidade de estar mais presentes na vida da nossa filha, de uma forma que não aconteceria se nada disto se estivesse a passar. Neste momento, o pai continua de licença e eu estou em teletrabalho. Quando a licença do pai terminar teremos um novo desafio, mas a verdade é que estamos juntos em casa e o facto de estar sempre perto da minha filha é o mais importante no final do dia.

Não precisei de me preocupar em fazer stock de leite. Em relação à creche, a verdade é que tínhamos decidido, ainda pré-COVID, que ela só entraria em setembro de 2021, no início de mais um ano letivo. Porque a outra opção seria entrar em janeiro, pico do inverno e das doenças. Mal sabíamos que viria a ser a melhor decisão porque, como se sabe, as creches estão encerradas.

Tenho consciência de que, num possível segundo filho, tudo será diferente. Espero que até lá, o pai não continue a ser visto como uma figura secundária no que a consultas e acompanhamento diz respeito. E espero que, no que for permitido e desde que haja recursos para tal, a pandemia venha realmente flexibilizar a forma como vemos o trabalho e perceber que este se faz em qualquer lado, seja no escritório, seja em casa.