As investigações apontam que, nas famílias em que existe uma comunicação aberta sobre a morte, as crianças tendem a ter um conceito mais adequado deste fenómeno natural da vida, bem como uma menor ansiedade de separação, isto é, medo que a figura parental desapareça ou não regresse.

Um princípio fundamental para a morte ser percecionada como um evento natural, universal e irreversível é que, ao longo da vida e desenvolvimento das crianças, os adultos aproveitem episódios do quotidiano para explicar a morte. Tomem-se como exemplos a morte de uma flor, de um pássaro ou de um animal de companhia.

Consequentemente, a vivência destes episódios irá igualmente servir para aumentar o reportório de experiências e, sobretudo, de estratégias das crianças para gerir as suas emoções.

Contudo, é importante que este diálogo não seja apenas focado nas características da morte – natural, universal/inevitável e irreversível – mas que, simultaneamente, seja adequado à fase do desenvolvimento infantil em que a criança se encontra, permitindo a expressão emocional e as dúvidas da criança.

Neste âmbito, a literatura da especialidade tem vindo a estudar o diferente entendimento das crianças acerca da morte ao longo do seu desenvolvimento. Ora vejamos:

Entre os 4 e os 6 anos de idade

Neste período do desenvolvimento, as crianças lidam com a morte com alguma indiferença, dado que a percecionam como um fenómeno reversível. Por conseguinte, torna-se particularmente importante explicar e reforçar a irreversibilidade da morte às crianças desta idade.

Os cuidadores devem estar preparados para que a criança questione, repetidamente, acerca do regresso da pessoa perdida até aceitar o seu não regresso (“Onde está a mãe?”; “O pai vai voltar?”). Nestas situações, é importante providenciar, sempre, a mesma explicação à criança, para que esta sinta segurança na resposta do adulto – a qual deve reforçar que a pessoa perdida não vai voltar (por exemplo, dizer “O avô morreu. Não vais voltar a vê-lo”).

Por exemplo, para as crianças que não chegaram a conhecer os pais ou avós e perguntam repetidamente pelo seu paradeiro, a explicação da morte e da sua irreversibilidade deve ser acompanhada por alguns rituais do luto: colocar flores junto da campa, jazido ou fotografia, acender uma vela, ver um álbum de fotografias e deixar a criança fazer todas as perguntas que necessite sobre a pessoa perdida. Mais uma vez, é imperativo que a criança compreenda e reconheça quem era a pessoa perdida (por exemplo, com recurso a fotos) e, simultaneamente, que esta morreu e que não vai regressar (por exemplo, mencionar que “A mãe morreu, mas podes conhecê-la a partir destas fotografias e de todas as histórias que temos para te contar sobre ela. O que queres saber sobre a tua mãe?”).

Contudo, se a criança não aceitar as explicações dos adultos e as questões continuarem, repetidamente, torna-se imperativo pedir ajuda especializada.

Entre os 7 e os 12 anos de idade

As crianças encontram-se na fase do pensamento lógico e, por isso, focam-se nos aspetos mais concretos, físicos e mecânicos do mundo. Por conseguinte, estas tornam-se mais curiosas acerca dos detalhes da morte, surgindo questões como “o que acontece ao corpo?”. Nesta fase, a morte começa a ser percecionada como real e finita, mas persiste uma tendência a acreditar que a morte apenas atinge os outros. Não raras vezes, é também nesta fase que surge o medo da morte, dada a tendência a imaginá-la como uma personagem assustadora.

Em particular, entre os 7 e os 8 anos, surge o pensamento mágico (a criança fantasia que pode mudar o mundo através dos seus pensamentos) e a crença de que a morte é um castigo pelo seu mau comportamento. Por isso, são importantes as seguintes tarefas: sublinhar que a morte não é uma personagem assustadora como apresentada nos filmes ou jogos; explicar que a morte não é um castigo e que, por isso, seria impossível a criança ser culpada; e, por fim, reforçar a irreversibilidade e universalidade da morte.

A partir dos doze anos

É na pré-adolescência que, salvo exceções, surge um entendimento da morte semelhante à conceção dos adultos. Ainda que a compreensão da morte seja facilitada pelas maiores competências emocionais e cognitivas desta fase do desenvolvimento, por vezes, é quando surgem os comportamentos de reação à perda mais intensos: irritabilidade, zanga, tristeza, dificuldades de concentração na escola e na interação com os colegas, amigos e professores.

É importante “dar colo” ao seu filho, ainda que este considere que é “demasiado crescido” para isso: incentive-o a expressar as emoções e a partilhar o que seria importante para ele no sentido de homenagear a pessoa perdida e sentir-se mais próximo, em termos emocionais e simbólicos, da mesma.

Se sentir que as questões (por exemplo, relativas à morte, ao paradeiro e/ou ao regresso da pessoa perdida) ou as reações à perda estão a limitar o bem-estar da criança e, por sua vez, da sua família, peça ajuda especializada. Não se encontra sozinho(a)!

As explicações são de Sofia Gabriel e Mauro Paulino da MIND – Instituto de Psicologia Clínica e Forense.