Metade dos millennials (25 a 34 anos) e da geração Z (18 a 24 anos) já sofre o impacto da crise da saúde nos seus bolsos, de acordo com um estudo da consultoria Kantar publicado em maio.

É o caso de Pierre, de 26 anos, que foi demitido a 23 de março, dia em que o Reino Unido impôs o confinamento, pela empresa de recrutamento para a qual trabalhava há um ano.

Pela manhã, por telefone, a gerência "explicou a nova organização em regime de confinamento e disse que não precisava de me preocupar com uma demissão, que qualquer decisão seria tomada depois", conta à AFP.

Mas, naquela mesma tarde, "o presidente da empresa escreveu-me dizendo 'precisamos de conversar'", lembra ele. "Entendi imediatamente, foi bastante brutal", acrescenta. Cerca de 15% dos funcionários foram demitidos naquele dia.

O caso de Pierre está longe de ser único no Reino Unido: 640.000 jovens entre 18 e 24 anos poderiam ficar desempregados este ano, somando-se aos 408.000 já sem emprego, de acordo com uma avaliação da Resolution Foundation.

Esses números são corroborados por uma investigação do Instituto de Empregadores Estudantis (ISE), segundo a qual mais de um quarto das empresas estão a reduzir o número de jovens licenciados que recrutam este ano.

Os estágios também estão a ser cortados em quase um terço, segundo a pesquisa com 124 empresas.

"Em todos os lugares, o confinamento reforçou as desigualdades entre trabalhadores" e os jovens e pessoas menos qualificadas estão "na linha de frente", afirmou na quarta-feira a economista-chefe da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Laurence Boone.

Alguns dias antes, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) havia enfatizado a precariedade dos jovens devido à pandemia.

De acordo com um estudo realizado entre menores de 29 anos, um em cada seis jovens parou de trabalhar desde o aparecimento da COVID-19 e aqueles que mantiveram os seus empregos tiveram as suas horas de trabalho reduzidas em 23%.

Adicionado a isto está a perda de confiança no futuro.

O estudo de Kantar mostra que três em cada quatro jovens esperam sofrer as consequências da crise no futuro, mais do que qualquer outra geração.

As mulheres jovens são particularmente vulneráveis. De acordo com um estudo da associação British Young Women's Trust, 36% das mulheres jovens trabalham em setores severamente afetados, como restauração, varejo, lazer e turismo, em comparação com 25% dos homens jovens.

Estes setores também são os principais fornecedores de empregos de meio período, preferidos pelos estudantes.

"Ficamos sem poupanças, ficamos sem dinheiro, por isso é muito angustiante", disse à AFP David Hernández, 35 anos, nadador-salvador num clube de natação de Madrid que foi demitido a 13 de março.

"Tinha uma pequena poupança, mas já está a acabar e serão os meus pais que terão que me ajudar", acrescenta.

Em Espanha, o desemprego juvenil atingiu 50% após a crise financeira de 2008, cunhando o conceito de "geração sacrificada" em referência aos trabalhadores com formação universitária.

Agora, "praticamente 50% da destruição do emprego que ocorreu desde o início da crise está concentrada em pessoas com menos de 35 anos", reconheceu recentemente o ministro da Previdência Social, José Luis Escrivá.

A taxa de desemprego para menores de 25 anos em Espanha atingiu 33% no primeiro trimestre de 2020.