Os jovens transitam do Ensino Secundário para o Ensino Superior, com todas as diferenças associadas a esta nova oportunidade, e essa transição pode acarretar inquietações:

  • Final da adolescência e início da idade adulta (com todas as alterações de desenvolvimento associadas);
  • Enquadramento do sistema de ensino com novas exigências e modelos de aprendizagem diferentes do Secundário;
  • Ritmo e complexidade de aprendizagem com estímulos distintos;
  • Abordagens e exigências diferenciadas no contexto de avaliação académica;
  • A socialização com os pares e com a família requer padrões de maior maturidade pessoal;
  • Eventual integração numa cidade desconhecida;
  • As circunstâncias de admissão numa universidade trazem, por vezes, a separação temporária da família e dos amigos, pela distância entre a casa de família e a universidade;
  • A entrada num curso que não foi a primeira opção e, por isso, abarcar outros objetivos e intenções do estudante.

Tendo em conta todos estes fatores, a transição de uma escola secundária para uma Universidade pode ser desafiadora, com todas as dificuldades que são assumidas pelos estudantes. Muitas vezes, estas são transpostas com tranquilidade, mas outras tantas vezes vividas com sofrimento.

O sucesso que o estudante pode ter vivenciado no Secundário não é sempre continuação para a vida académica universitária. Esta pode ser uma dimensão percetível das alterações, mas que pode ser relacionada com o bem-estar psicológico do estudante. Esta é a preocupação evidente, sucesso/insucesso na universidade, mas que pode estar agregada a questões sociais e de identificação com o local escolhido para realizar o curso. O estudante seleciona a faculdade mais conceituada, quando tem as condições de uma boa média de notas escolares, para a construção da sua vida universitária que o levará a uma possibilidade de melhores escolhas/opções para a sua vida profissional. Mas, nem sempre reflete acerca do reconhecimento fundamental de se rever nesse espaço com sentimento de pertença e elaboração de uma construção com o espaço de identidade pessoal.

As expectativas altas dos estudantes para este momento tão aguardado e para o qual lutaram é, provavelmente, um motivo para que o primeiro ano na universidade nem sempre resulte em dias satisfatórios. A esperança depositada neste ciclo de vida pode estar distante da realidade e este confronto, num estudante menos resiliente, pode levar a dificuldades de aprendizagem ou de socialização, de aceitação, de tolerância à diferença, contributivas para uma instabilidade emocional, que termina várias vezes em desistências de um sonho alimentado pelo próprio e pela sua família.

Esta é uma fase onde importa, preventivamente, refletir a importância de o estudante ser autónomo na aquisição do conhecimento, com relevância para os métodos de estudo, a gestão e organização de tempo.

As competências relacionais são um auxílio na adaptação à vida universitária. O estabelecimento de novas relações sociais, novo plano de vida com assumir de objetivos e compromissos pode melhorar a estadia na continuidade equilibrada de um desafio com muitos e diferentes níveis de complexidade, que podem provocar alguns movimentos desconfortáveis. Contudo, se devidamente integrados e abordados são passíveis de significar uma adequada adaptação e o reconhecimento de um crescimento para a fase adulta.

Sandra Helena - Psicóloga clínica e Psicoterapeuta infanto-juvenil

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