A espécie humana é a espécie de mamíferos que maior dependência apresenta de cuidados maternos (e paternos). A independência da família é uma das tarefas centrais na adolescência, sendo que podem ser sentidas dificuldades na sua compreensão se não estivermos atentos e conscientes de que serão avassaladoras as transformações, tais como:

  • Além das alterações físicas do adolescente, existem outras mudanças como os comportamentos, os impulsos e/ou as explosões emocionais;
  • A descoberta como indivíduo separado dos pais que gera curiosidade, mas também medo e sofrimento;
  • A procura de exemplos de pessoas (ídolos artísticos ou desportivos, por exemplo) para construir a sua identidade;
  • A necessidade de contrariar as ideias e recomendações dos pais (construção de si próprio, separando-se deles);
  • A ambivalência na separação dos pais (necessidade e medo), podendo levar a uma fase de intensa confusão de sentimentos.

Algumas culturas adiam o término da adolescência, havendo a necessidade de mais tempo para cumprir as tarefas desta fase, resultado, também, da maior exigência dos estudos e especialização nas áreas escolhidas para ingressar no mundo do trabalho. Os adolescentes demoram, atualmente, mais tempo para iniciar a sua atividade profissional e a definição de carreiras estende-se por um período mais longo.

Os pais devem refletir e recordar a sua própria adolescência pois muitas das etapas têm as mesmas características. O facto de pensarem sobre si mesmos nessa fase, promove uma maior empatia com as necessidades, problemas, desafios, vivências, dinâmicas dos seus filhos na relação com os pais, com os outros e consigo mesmos. Por outro lado, o diálogo com os filhos acerca das suas dificuldades em etapas iguais pode facilitar a exteriorização de sentimentos, emoções, receios, pensamentos dos adolescentes.

Nesta fase, a descoberta de competências sociais e características pessoais é essencial, mas neste caminho também surge oportunidade para inquirir as funções e os papéis dos outros. É muito importante para pais e filhos compreenderem que este pode ser um momento crucial fazer escolhas que podem influenciar positivamente ou comprometer o seu presente e futuro. Mas estes são passos que devem ser dados pelos próprios nesta transição da infância para a idade adulta. O seu crescimento pessoal é marcado por tudo o que experienciavam desde sempre, com quem e como viveram essa experiência.

A gestão do futuro deve ser empreendida desde o passado em conjunto com as aspirações do presente. Na equação acerca do que o adolescente pensa sobre o seu futuro, a família deve ser considerada como uma eterna referência no desenvolvimento do sujeito, mas não pode ser a família a providenciar todas as necessidades. A dinâmica familiar pode e deve preparar os recursos para o adolescente pensar, refletir, ponderar e experimentar. Ao longo do crescimento, os pais fomentam as vivências com riqueza emocional, intelectual e social para que o filho tenha oportunidade de descobrir as suas potencialidades, permitindo-se errar, mas seguir em frente na busca do seu sentido de vida.

A família deve ser cooperante, consciente e com padrões de comunicação eficazes e é essencial que os pais estejam disponíveis e presentes no desenvolvimento dos seus filhos. A adaptação a esta fase de vida é, para ambas as partes, processo de desenvolvimento. O medo, as quedas, os erros, os obstáculos, a insegurança existem do lado dos pais, mas também do adolescente.

Sandra Helena - Psicóloga clínica e Psicoterapeuta