As divergências entre um casal são inevitáveis ​​em qualquer família, mas é importante gerir esses conflitos de forma a evitar que as crianças sofram as consequências. “Não temos consciência do mal que podemos causar aos nossos filhos”, explicou Silvia Álava, especialista em Psicologia Educacional e Familiar, ao El Pais.

A primeira coisa que os adultos devem compreender é que o seu modelo de relação é considerado um exemplo para a criança. “Assim, em vez de aprender a gerir conflitos de uma forma racional e afetiva, ela aprende um modelo agressivo em que prevalecem as discussões e até a falta de respeito”, prossegue a especialista, revelando que, mais tarde, os miúdos tendem a adotar esse comportamento como natural e a reproduzi-lo em casa, na escola e para o resto da vida.

“Os pais são os seus valores de referência e a sua primeira linha defensiva; verificar que não são respeitados pode causar insegurança, baixa autoestima e outros problemas como a falta de concentração, o fracasso escolar, dificuldade em controlar as próprias emoções e facilidade em sentir frustração perante qualquer contrariedade”, diz Álava.

“Muitas vezes as crianças têm uma atitude mediadora para que o conflito desapareça”, conta o psicólogo clínico e terapeuta familiar Juan de Haro, no mesmo artigo. “No início isso gera um efeito de travão nos pais e facilita a reconciliação. Mas à medida que a relação se deteriora e a frequência das discussões aumenta, as crianças deixam de conseguir impedi-las, e isso pode produzir um sentimento de culpa e desamparo”, defende, prosseguindo: “É um processo subtil e silencioso; eles tentam escapar do desconforto, mas o problema parece cada vez mais entranhado neles. Nessa altura podem sentir medo, desmotivação, transtornos de ansiedade e depressão”.

Nem todas as crianças reagem da mesma forma aos conflitos constantes dos pais. Isso depende da sua idade, sexo e personalidade. “A idade é importante. Uma criança mais nova tenta ser fiel ao pai e à mãe e quer que se reconciliem; na adolescência, ela está a formar a sua opinião e sentido de justiça, tendendo a tomar partido por um lado – aquele que julga ter mais razão. É sempre uma situação de stress”, avança Juan De Haro. Álava explica que “as crianças mais inibidas podem ficar mais caladas e inseguras; as outras talvez exibam comportamentos exaltados como bater, gritar, chorar ... E à medida que crescem, os problemas emocionais tendem a aumentar”.

Silvia Álava e Juan de Haro fizeram uma lista de boas práticas para o El Pais. Veja se lhe podem ser úteis:

  1. Certos assuntos devem ser evitados na presença das crianças. Elas podem ver que os pais não concordam com pequenas questões quotidianas, mas não é bom que percebam grandes divergências no que toca à educação ou assuntos complexos do casal.
  2. Nunca repudie o seu parceiro, isso dá à criança um poder que não ajuda nada na sua educação. As divergências precisam de ser esclarecidas em particular. Nunca desautorize o outro adulto.
  3. Todos os pais já discutiram alguma vez em frente dos filhos. Então, é importante que depois de isso acontecer haja uma reconciliação “pública”. Desta forma, a autoestima da criança não é prejudicada e ele aprende que, se os pais erraram, ela também pode errar e, acima de tudo, aprender com os erros.
  4. Não generalize: fale sobre o problema concreto e evite cair no erro de "é sempre a mesma coisa”.
  5. Expresse os sentimentos e emoções que o comportamento do outro provocou sem gritar ou levantar a voz.
  6. Tente manter um ponto de vista construtivo. Não procure o culpado, mas sim de que forma podem resolver o conflito.
  7. Evite o silêncio. As coisas não funcionam sozinhas, e ficar em silêncio geralmente não é uma boa solução, porque o desconforto não desaparece. Claro que é preciso escolher um bom momento para conversar. Não se deve fazê-lo quando as emoções ainda estão descontroladas, sob pena de se vir a arrepender do que disse.
  8. Comunique assertivamente, reconhecendo que a outra pessoa pode ter um ponto de vista e emoções diferentes e respeitando essa diferença. Coloque-se no lugar do outro.
  9. Estabeleça uma linha vermelha que não se pode ultrapassar - respeito mútuo é obrigatório.
  10. É importante que cada dia tenha um momento familiar, por exemplo, durante o jantar, em que o objetivo é tão somente comunicar; um momento de diálogo e escuta sem juízos de valor, em que o que cada um diz é respeitado.