O ideal é aproveitar uma espécie de janela de oportunidade que existe dos 4 aos 6 meses até ao primeiro ano de vida para dar ao bebé os alimentos saudáveis que quer que ele experimente. Mãos bem lavadas (para evitar as toxi-infeções) e coloque-lhe no prato à frente legumes, fruta e peixe, entre outros alimentos de elevado interesse nutricional, e deixe-o explorar, com a colher ou mesmo à mão. Nesta fase a criança está mais apta a aceitar novos sabores e novas texturas, familiarizando-se com eles.

Se os alimentos saudáveis não forem introduzidos preliminarmente, mais ou menos a partir dos 2 anos existe um período em que as crianças tendem a recusar alterações à sua rotina alimentar, e as birras à mesa passam a ser mais frequentes sempre que se tenta introduzir um alimento novo.

O ideal é criar hábitos alimentares saudáveis até aquela idade. Depois dos 2 anos, os educadores podem dar a volta à situação se tomarem as atitudes certas. A persistência da pessoa que cozinha em casa e que prepara os lanches para a escola é essencial, e as suas opções vão condicionar o que a criança come. No caso dos mais novos, estas escolhas vão estar na base da capacidade de aceitação da comida e da formação dos seus padrões alimentares.

À medida que o tempo passa, as crianças tenderão a aceitar melhor os alimentos mais familiares. Se o tipo de alimentação que está mais presente no seu ambiente for mais saudável, é esse que elas vão querer experimentar. O exemplo é muito importante: é de evitar insistir com o rapaz para comer a sopa quando o pai pode “saltar” esta parte e não devemos evitar o peixe só porque “achamos” que a criança não gosta.

Dez truques que funcionam

As birras que nascem à frente de um prato de peixe estufado com legumes cozidos gerem-se como qualquer outra: as palavras de ordem são manter a calma, dar tempo para a criança se acalmar também e, quando ela voltar a pedir comida, oferecer o mesmo.

  1. Aposte no saudável: é importante que o leque e a variedade de alimentos disponibilizados à criança sejam tão saudáveis quanto possível. Deixe de fora doces e salgados, ricos em gordura, entre outros alimentos de pouco interesse nutricional. Quanto menos contacto a criança tiver com este tipo de produtos, melhor.
  2. Contra a fome, fruta e legumes: tenha sempre em casa fruta fresca, sopa, saladas e legumes que possa oferecer à criança quando ela tiver fome. Ela não se mostra satisfeita com as opções apresentadas? Explique-lhe que a escolha é essa e que não há volta a dar.
  3. O paladar também se educa: é importante, desde tenra idade, insistir com os alimentos de que a criança menos gosta. Tenha paciência: por vezes, é preciso insistir 10 ou 15 vezes para a criança aceitar um alimento. Continue a incluí-lo na refeição, experimentando, por exemplo, receitas diferentes.
  4. É normal haver alimentos preferidos: nem todos temos o mesmo palato. Se vir que existe uma real resistência a um alimento, esteja ciente de que é normal haver alimentos mais do nosso agrado do que outros. Mantenha-se fiel aos seus princípios, mas varie as opções disponibilizadas.
  5.  Se come na escola, come em casa: ele dá-lhe a volta? Seja firme e não se deixe enganar: explique-lhe calmamente que a comida é aquela e não há outra e que quando voltar a pedir comida é aquilo que vai ter. Mantenha-se firme ao prometido e não se deixe levar por birras. Se a criança come na escola um determinado alimento também vai ter de o comer em casa.
  6.  Fomente a curiosidade: incluir desde cedo os mais novos nas compras e na preparação das refeições permite mostrar a composição adequada do prato, com a devida inclusão de carne ou de peixe, legumes e farináceos. É uma oportunidade para tirar partido do sentido lúdico e da curiosidade inatos aos mais novos, por exemplo, apostando em refeições coloridas, com sabores e texturas diferentes e abordando a introdução de cada novo alimento de uma forma “científica”: é amargo ou doce? Estaladiço ou macio? O sabor é semelhante a algum já conhecido? Explore os alimentos com as crianças. Este é um jogo proveitoso que torna a mesa num laboratório de experiências.
  7.  Bom ambiente à mesa: sejam crianças ou adolescentes, peça ajuda para que todos colaborem nas tarefas, como pôr a mesa, cortar legumes, fazer salada, etc. Estes são momentos que permitem a partilha de tempo e são propícios para conversar sobre, por exemplo, como correu a escola, enquanto se faz o reforço positivo sobre os alimentos que queremos que a família, de uma forma geral, consuma, explicando, que os brócolos ou o salmão são fundamentais para crescermos saudáveis e porquê. Para evitar interferências, desligue a televisão ou, pelo menos, baixe o seu volume. Evite conversas fraturantes, por exemplo, sobre maus resultados escolares ou problemas familiares. Para os mais velhos, aposte numa alimentação diversificada e ensine-os a confecionar os alimentos de forma saudável e equilibrada, lembrando-lhes de que aprender a cozinhar é um bom passo para a sua independência.
  8. Varie as receitas: se a pescada cozida não reúne adeptos, experimente estufá-la com verduras. Os brócolos são recusados? Integre-os num arroz. O feijão-verde não agradou? Corte-o em pedaços e misture-lhe um ovo cozido. Se espalhar fruta e frutos secos sobre a salada de alface talvez todos a queiram experimentar. Não gostam de cenoura cozida? Experimente cortá-la às tiras e distribuí-la na forma de snack enquanto veem televisão. As couves enrolam-se-lhes na boca, mas migas com broa talvez se comam melhor.
  9. Aposte nos bons exemplos: fazer chantagem com sobremesas e doces em troca de um prato saudável é absolutamente proibido. Mais vale alargar a todos os elementos da família os bons hábitos alimentares. As crianças experimentarão mais facilmente o que virem os outros comer com satisfação.
  10. Quando a birra continua: e se, apesar dos esforços, a criança se recusar a comer? Se isto acontecer, deve-se explicar, com calma e firmeza, que a comida é aquela e não há outra e que, quando pedir comida novamente, é aquilo que vai ter. E os pais têm de cumprir. A criança tem de perceber que são os adultos que definem as regras. E os educadores têm de ser firmes, sem ser agressivos, e não manifestar ansiedade.

Em suma, ter uma alimentação saudável e variada, cozinhar tendo por base este princípio e disponibilizar fruta e vegetais com frequência gerará miúdos mais adeptos de uma alimentação saudável.