A estrutura e funcionamento familiares têm sido flexibilizados ao longo do tempo, permitindo uma maior diversidade de estruturas, com um tendencial ajuste do sistema aos seus vários elementos. Este processo envolve o quebrar de algumas barreiras, para permitir a flexibilidade, mas corre-se o risco de deixar inativos alguns limites que também são fundamentais para um desenvolvimento mais seguro e adequado. Não existem receitas infalíveis que assegurem famílias saudáveis. Resta-nos apenas a reflexão e a ponderação, momento a momento, de cada situação desafiante. De seguida, refletimos sobre cinco armadilhas a que devemos estar atentos.

1. O meu filho é o melhor do mundo

Alguns pressupostos da psicologia positiva podem ser interpretados (enganosamente) como a apologia, tantas e tantas vezes, irrealista das expectativas elevadíssimas que os pais constroem para os seus filhos, fazendo-os acreditar nisso também. Crianças que crescem a pensar que podem e conseguem tudo terão muitas dificuldades a lidar com as (inevitáveis) frustrações e, muitas vezes, também, com a consciência das necessidades dos outros.

2. O meu filho vai conseguir tudo o que quiser

A armadilha desta ideia está diretamente relacionada com o que foi dito acima. É de ressaltar que este pressuposto pode levar tanto a posturas parentais de extrema rigidez e exigência, como de extremo facilitismo. Enquanto pais, é importante a reflexão sobre as expectativas em relação à própria vida e sua eventual projeção no se que espera dos filhos. A aceitação de cada elemento da família como ele é, nas suas características e funcionamento, é um passo fundamental para uma vivência familiar saudável.

3. O meu filho decide as coisas que quer

A escolha é fundamental para a nossa saúde mental e devemos ter acesso a ela na direta medida em que desenvolvemos a capacidade de escolha. É diferente uma criança poder escolher o brinquedo com que quer brincar, do que escolher quantas vezes come fast food por semana. As escolhas têm de estar ajustadas à idade e a função dos pais é ajudar a construir mecanismos de escolha vantajosos para os seus filhos, exercendo o papel que lhes cabe e que pode pressupor contrariar a criança ou adolescente nas suas escolhas menos saudáveis. Pais muito dependentes da aprovação dos filhos terão mais dificuldade em evitar esta armadilha.

4. Eu não escondo nada do meu filho

Sob o argumento da honestidade e clareza, muitas crianças são sujeitas a informação que não precisam, que não conseguem compreender na totalidade e que, algumas vezes, lhes pode ser prejudicial ou mesmo traumática. Tal como exposto acima, a idade da criança deve sempre ser tida em conta para ajustar a informação que lhes é dada. Por exemplo, questões relacionais entre os pais ou problemas que a criança não consiga compreender são tipos de informação que deve ser bem pensada antes de ser revelada.

5. Eu sou o melhor amigo do meu filho

Quando os pais se posicionam para se tornarem os melhores amigos dos filhos, na medida em que com eles partilham excessivamente alguns comportamentos inerentes à sua fase de vida, estão a deixá-los desprotegidos porque inevitavelmente se atenua o papel de pais. A adolescência é um período especialmente perigoso para este tipo de armadilha: os pais, ao não quererem lidar com o movimento de maior autonomia que os filhos possam ter, acompanham-nos, com o risco de poderem confundir os papeis. Consumo de álcool, de cannabis, saídas à noite e híper envolvimento com o grupo de amigos são exemplos de armadilhas que podem dificultar o exercício da função parental.

Catarina Janeiro - Psicóloga Clínica