Sabe-se que Portugal, em 2016, foi considerado o país com mais divórcios da Europa e, por isso, inevitavelmente, surge a questão: porque é que as pessoas são infiéis?

A ciência psicológica tem vindo a identificar alguns fatores de risco para a infidelidade. Tomem-se como exemplos:

  • Insatisfação na relação: este é o maior fator preditivo da infidelidade ou, no mínimo, do desejo de trair. Segundo a literatura, pessoas que revelam uma reduzida satisfação relacional são quatro vezes mais propensas a ser infiéis. Por insatisfação na relação entende-se uma reduzida intimidade sexual, emocional ou ambas.
  • Sexo de vingança: para pessoas que foram traídas pelo(a) companheiro(a) no passado, recorrer a uma traição como vingança é um comportamento considerado frequente pela literatura, o designado sexo de vingança (revenge sex).
  • Desejo de novas experiências: ainda que uma relação seja vivida com satisfação e plenitude em termos emocionais e sexuais, o desejo por novas experiências sexuais (por exemplo, com pessoas diferentes ou para satisfação de fetiches) pode ser uma forte motivação para a traição, sobretudo se associado a determinadas características de personalidade (por exemplo, maior extroversão).

Neste sentido, é importante referir que, ao longo dos anos, a literatura tem vindo a distinguir dois tipos de infidelidade, nomeadamente:

  • Infidelidade sexual: traição que envolve comportamentos de natureza sexual. Por exemplo, quando um dos membros do casal tem relações sexuais, ocasionais com diferentes pessoas ou no contexto de uma relação extraconjugal com uma determinada pessoa.
  • Infidelidade emocional: traição que integra um envolvimento emocional com uma terceira pessoa, ainda que sem contacto sexual com a mesma. Por exemplo, quando um dos membros do casal se apaixona por outra pessoa.

Estes dois tipos de traição encontram-se associados a diferenças de género. Enquanto o género masculino apresenta um risco mais elevado de cometer uma infidelidade sexual, a infidelidade emocional é mais prevalente no género feminino.

Neste sentido, as investigações apontam que os homens têm uma maior dificuldade em gerir a traição das companheiras quando a infidelidade envolve comportamentos sexuais, enquanto as mulheres vivenciam uma maior dificuldade em gerir traições ditas emocionais.

Quanto ao género que comete mais traições é, segundo a psicologia das relações interpessoais, o masculino. Sabe-se que os homens apresentam níveis mais elevados de socio-sexualidade. Este conceito, socio-sexualidade, diz respeito ao nível de aceitação e de conforto relativos a comportamentos sexuais fora da relação de compromisso em que estão envolvidos.

É importante referir que, ao longo dos anos, os níveis de socio-sexualidade têm vindo a crescer exponencialmente nas gerações mais jovens, o que justifica, em parte, o desenvolvimento de novas tipologias de relações interpessoais (por exemplo, as relações abertas), assim como uma maior aceitação social da poligamia.

Há consequências?

Para a pessoa que é traída, a infidelidade despoleta inseguranças associadas a uma redução na autoestima (por exemplo, pensar “eu não fui suficiente para ela”) e na valorização pessoal, facilitando a vivência de sintomas de depressão (por exemplo, tristeza, sensação de vazio, choro constante, irritabilidade) e uma tendência a responsabilizar-se a si próprio pela traição (“se eu estivesse estado mais presente”; “não vi os sinais dele”). Não raras vezes, estas inseguranças dificultam a capacidade de confiar novamente no(a) companheiro(a) e em potenciais parceiros, aquando da construção de novas relações.

Para a pessoa que comete a traição, existem igualmente consequências, tais como sentimentos de culpa, arrependimento e falha, assim como de medo (por exemplo, que a infidelidade seja descoberta). Quando a traição é assumida, não é apenas a relação com o(a) companheiro(a) que sofre uma rutura, mas também com outras pessoas significativas, como os filhos do casal ou os familiares da pessoa traída.

Nos casos em que a pessoa reconhece que a traição foi um erro é, simultaneamente, frequente a pessoa sentir-se sozinha e alvo de estigma social, como o (a) traidor(a).

A psicologia integra, para além da terapia de casal para a gestão da traição, sessões individuais, sendo que estas intervenções, ainda que distintas, são complementares. As sessões individuais acontecem num espaço seguro e isento de qualquer tipo de julgamentos, em que o objetivo é explorar as emoções, pensamentos e comportamentos que prejudicam o bem-estar e, simultaneamente, compreender que significados e mudanças internas foram proporcionados pela traição.

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, da MIND – Psicologia Clínica e Forense.