Esta é, de acordo com a diretora da ModaLisboa, Eduarda Abbondanza, “uma edição completamente diferente, pensada a partir da conjuntura que se vive atualmente”.

A edição anterior da ModaLisboa decorreu no início de março, quando já tinham sido confirmados os dois primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus em Portugal, poucos dias antes de ser decretado o estado de emergência devido à pandemia da covid-19, e “foi pensada como qualquer outra, mas já com uma carga de protocolo de saúde muito grande em cima”.

Nas antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento (OGFE), no Campo de Santa Clara, a organização criou uma sala de isolamento e foram espalhados pelo recinto vários frascos de ‘álcool gel’, mas tudo decorreu como habitualmente.

“Nesta edição [marcada para o Parque Eduardo VII], toda a programação que vamos ter, quando é física, é ao ar livre, com uma assistência muito reduzida e com muitas precauções”, disse Eduarda Abbondanza, em declarações à Lusa.

As apresentações das coleções serão “todas ao ar livre, nos jardins à volta do Pavilhão Carlos Lopes, que será um enorme ‘backstage’ [bastidores, em português]”, para que haja “mais precauções do que aquelas que foram pedidas” à organização.

Além disso, e ao contrário do que costuma ser habitual, com desfiles marcados para as 23:00, “todas as atividades são diurnas, nenhuma acaba mais tarde do que as 19:00”.

Ao todo, haverá “24 momentos” de apresentações das coleções de 33 designers de moda: “Uns serão desfile, outros mais ‘happening’, outros mais performativos”. A assistência em cada uma, que costuma ser de “cerca de mil pessoas”, será reduzida em 80%, para cerca de 200.

A 55.ª edição da ModaLisboa ficará para a história também como a primeira “sem estação”. “Porque houve uma interrupção do ciclo da moda, ao nível das entregas, das vendas, das compras, etc., de duas estações, achámos que, por questões de sustentabilidade, rentabilização, esta edição não deveria ter estação e que os designers deviam escolher o que é que vão apresentar, maximizando os recursos de cada empresa, visto que os designers são todos microempresas, mas todas muito diferentes umas das outras”, explicou Eduarda Abbondanza.

Nesta edição regressa também o Sangue Novo, concurso destinado a finalistas de cursos superiores de Design de Moda de escolas nacionais e internacionais e jovens ‘designers’ em início de carreira, que vai decorrer em formato digital.

“Pensámos se seria de fazer o Sangue Novo ou não, mas achámos que devíamos fazer porque todas as pessoas que estiveram a estudar nas escolas, em pandemia, precisavam de uma luz ao fundo do túnel, de uma ideia de esperança, de futuro”, partilhou a responsável.

Desta vez, “todas as fases do concurso foram digitais e o júri tem acompanhado os dez selecionados (entre cem projetos que concorreram) ‘online’ e a apresentação vai ser também digital”, com André Jorge, Andreia Reimão, Ari Paiva, Arndes, Benedita Formosinho, Bolota Studio, Feliciano, Fora de Jogo, Pilar do Rio e Rafael Ferreira a mostrarem as coleções em vídeo.

Além disso, aos prémios habitualmente atribuídos, junta-se um outro, “que resulta da votação do público”.

Embora as apresentações das coleções sejam acessíveis apenas por convite, algumas irão decorrer num espaço de livre acesso, o Resort, que vai funcionar no sábado e no domingo, entre as 11:00 e as 19:00, na parte do jardim mais próxima do Marquês de Pombal, com entrada pela praça.

O Resort, com uma lotação máxima de 350 pessoas, terá livre acesso, “mas as pessoas vão ter que se inscrever”, porque a organização da ModaLisboa tem “de ter o registo de toda a gente”.

Neste espaço, além das apresentações das coleções dos designers da Workstation, do Sangue Novo e de Olga Noronha, haverá dois debates, que serão transmitidos ‘online’, e a loja temporária Wonder Room, que terá também uma versão digital.

Além disso, será colocado no Resort um ecrã gigante onde o público poderá assistir em direto aos desfiles que decorrem nos outros jardins do Parque Eduardo VII.

Paralelamente a tudo o que vai acontecer no parque, a organização da ModaLisboa tem “estado a produzir uma série de conteúdos, que serão digitais”.

“As pessoas podem assistir, a partir de casa, não só àquilo que vamos fazer, mas também a uma série de conteúdos que preparámos e que só vão existir digitalmente”, referiu Eduarda Abbondanza, explicando que estará disponível uma ‘app’ para telemóveis e tablets, um microsite e uma ‘app’ TV da Meo.

Mas tudo o que está programado pode mudar.

“Temos as autorizações todas, mas sabemos que estamos a viver um tempo muito diferente, muito particular, [em que] cada dia é um dia”, afirmou Eduarda Abbondanza, partilhando que a organização tem um “plano B de fazer tudo digitalmente”.

A diretora da ModaLisboa lembra que “o combate ao 'bicho' passa por todos os normativos e por todo o comportamento da população, individualmente e em grupo, mas passa também por se continuar a tentar fazer aquilo que tem que se fazer, tomando todas as precauções”.

“Porque senão vamos acabar todos com uma depressão gigante. Nós representamos uma área [a Moda] e dar sinais de vitalidade, de esperança e de futuro, dentro desta área, é determinante, como nas outras todas”, disse.

A 55.ª edição da ModaLisboa começa na quarta-feira digitalmente e na quinta-feira em modo físico.