Karl Lagerfeld morreu na manhã desta terça-feira no Hospital Americano de Paris. A Chanel emitiu um comunicado onde confirma a morte do seu diretor criativo: "É com grande tristeza que a maison Chanel anuncia o falecimento de Karl Lagerfeld".

O comunicado não avança, no entanto, detalhes sobre a hora ou a causa de morte do designer que tinha sido hospitalizado de emergência esta segunda-feira.

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"Uma mente prolífica, com uma imaginação infinita, Karl Lagerfeld explorou muitos horizontes artísticos, incluindo a fotografia e as curtas metragens. A casa Chanel benificiou do seu talento em todas as suas campanhas de branding relacionadas com a moda desde 1987. Finalmente, não podemos referir-nos a Karl Lagerfeld sem mencionar a sua capacidade de ter uma resposta pronta e de rir de si mesmo", diz o comunicado divulgado nas redes sociais.

A maison acrescentou ainda que Virginie Viard, diretora de estúdio da Chanel e colaboradora mais próxima de Lagerfeld há mais de 30 anos, foi encarregada pelo diretor executivo da Chanel, Alain Wertheimer, de continuar com o trabalho criativo para as coleções da marca, "para que o legado de Gabrielle Chanel e Karl Lagerfeld possam continuar a viver".

"Graças ao seu génio criativo, generosidade e intuição excepcional, Karl Lagerfeld estava à frente do seu tempo, o que contribuiu amplamente para o sucesso da Chanel em todo o mundo. Hoje, não perdi apenas um amigo, mas todos nós perdemos uma extraordinária mente criativa a quem dei carta branca no início da década de 1980 para reinventar a marca", afirmou Alain Wertheimer no comunicado.

A Fendi também reagiu no Instagram: "Obrigado Karl Lagerfeld pela mais bela viagem. Com todo o nosso amor, a tua família Fendi".

A marca Karl Lagerfeld também deixou uma mensagem ao seu criador: "Ele foi um dos estilistas mais influentes e celebrados do século XXI e um símbolo icónico e universal de estilo. Guiado por um fenomenal sentido de criatividade, Karl era apaixonado, poderoso e intensamente curioso. Ele deixa para trás um extraordinário legado como um dos maiores estilistas da nossa atualidade e não há palavras que descrevam o quanto vamos sentir a sua falta".

Em declarações à AFP, o diretor da LVMH, Bernard Arnault, disse estar "profundamente entristecido com a morte seu querido amigo".

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Recorde-se que Karl Lagerfeld não participou no desfile da Chanel, na semana da moda de alta-costura, realizado a 22 de janeiro, em Paris, porque se sentiu "cansado". O estilista não desfilou na passerelle, como de costume, para cumprimentar o público sob a abóbada envidraçada do Grand Palais. No seu lugar surgiu a sua diretora de estúdio, Virginie Viard.

A Dior foi uma das maisons a reagir à morte do estilista nas redes sociais: "Todos nós na maison Dior estamos profundamente entristecidos com as notícias do falecimento de Karl Lagerfeld. A sua ausência será grandemente sentida por todos no mundo da moda", escreverem no Instagram oficial.

Também Anna Wintour, editor-in-chief da revista Vogue e amiga do estilista, lamentou a sua morte num editorial publicado no site oficial da publicação de moda. "Hoje o mundo perdeu um gigante entre homens. O Karl era muito mais do que o nosso maior e mais prolífico designer - a sua genialidade criativa era de cortar a respiração e ser sua amiga era uma dádiva execional. O Karl era brilhante, fantástico, divertido, de uma generosidade imensurável e extremamente gentil. Vou sentir muito a sua falta", pode ler-se.

Estava à frente de três marcas - Chanel, Fendi e a sua marca em nome próprio - mas o seu nome estará para sempre ligado à Chanel, cujo códigos mudou constantemente, reinventando clássicos como os fatos de tweed e as malas acolchoadas.

Sempre em sintonia com os novos tempos, o estilista organizou desfiles com cenários surpreendentes e espetaculares, em supermercados, galerias de arte ou ao ar livre, fazendo a festa nas redes sociais.

No seu site oficial, a Vogue Paris prestou uma homenagem ao falecido estilista - conhecido no meio como o 'Kaiser' da moda - descrevendo-o como "um mestre autodidata".

"Vai estar para sempre associado à marca francesa Chanel, e foi aí que criou algumas das silhuetas mais icónicas dos nossos tempos. Os seus designs eram o epítome da elegância francesa - uma visão que partilhou com o mundo inteiro", refere a publicação de moda.

Durante muitos anos Largerfeld tornou-se conhecido pelo seu estilo inconfundível: andava sempre de rabo-de-cavalo, óculos escuros, fato preto e camisa branca, luvas sem dedos e leque.

Karl Otto Lagerfeld nasceu em Hamburgo, na Alemanha, em 1933, e com apenas 17 anos mudou-se sozinho para Paris onde estudou Desenho e História. Recorde-se que, em 2018, o estilista escolheu a sua cidade natal para a realização do desfile Métiers d'Art da Chanel.

Apesar de em tempos ter desejado ser cartoonista, depressa percebeu que o seu futuro passaria pela moda. “Sempre me interessei naquilo que as pessoas deveriam vestir e naquilo que eu deveria usar. Adorava roupa”, disse em entrevista ao site The Cut, em 2013.

Em 1954 ganhou um concurso organizado pela Sociedade Internacional da Lã, empatando com Yves Saint Laurent, com quem ele simpatizou antes de se tornarem grandes inimigos.

Foi contratado pelo estilista Pierre Balmain e passou três anos nesta maison. Jean Patou, Valentino e Chloé são algumas das marcas para quem trabalhou antes de entrar para a Fendi, em 1967, e para a Chanel, em 1983.

Encarou a sua entrada para a Chanel, onde se manteve durante 35 anos, como um desafio. “Toda a gente me disse ‘Não toques nela. Está acabada’".

Mundo da moda reage à morte de Karl Lagerfeld
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Era um grande defensor do papel, recusando-se a fazer os seus sketchs no computador ou no ipad. Em 2013 revelou que tinha o hábito de dormir com um sketchbook na mesa de cabeceira para poder desenhar quando a inspiração aparecesse.

Tinha contrato vitalício com a Fendi e a Chanel. “As minhas condições de trabalho são fabulosas e não existem em mais parte alguma”, adiantou à edição britânica da Vogue, em 2018.

Em entrevista à Net-a-Porter revelou qual o segredo do seu sucesso. “Não há segredo. O único segredo é trabalho. E organização. E levar uma vida decente: não beber, não fumar, não consumir drogas”.

Entre os diversos prémios e galardões que recebeu ao longo da sua vida destaca-se a Legion d’Honneur, uma distinção entregue por Nicolas Sarkozy em 2010 e considerada a mais alta condecoração francesa.

"Quem irá suceder a Karl Lagerfeld à frente da Chanel?" é a pergunta que está em aberto. De acordo com a revista Vogue em tempos o estilista alemão terá referido, e depois desmentido, o estilista colombiano Haider Ackermann como a pessoa ideal para o cargo.

Recorde aqui o último desfile de Alta-Costura da Chanel apresentado este ano em Paris.