Face à violência destes números que não param de aumentar, torna-se uma tarefa difícil gerir a estabilidade emocional. A intervenção psicológica à distância pode, por isso, representar uma enorme mais-valia para cada um de nós, independentemente de se tratar de casos de continuidade de apoio psicológico anteriores ao surto viral, ou de novos casos.

O isolamento, o medo da doença ou de perder quem se ama, a solidão, a incerteza do que virá a seguir ao COVID-19 ou do tempo que levará até que retomemos a normalidade são algumas das muitas preocupações que estão a levar as pessoas a procurar ajuda psicológica à distância para estabilizarem psicologicamente, tanto quanto possível, face à mudança abrupta das circunstâncias.

De facto, cada minuto sucede rápido e diferentemente do anterior, embora a desaceleração no quotidiano de milhões de pessoas e uma espécie de hibernação global insistam em mostrar o contrário. A vida de quase todos nós parece estar em stand by ou ter sido adiada, algures no tempo, e sem uma data prevista para retomarmos a normalidade.

É certo que a pandemia que vivemos é um inimigo sem rosto que irrompeu violenta e repentinamente e, que apesar do pensamento racional coletivo de que vivemos tempos que serão ultrapassados, os muitos receios e medos que o COVID-19 representa na saúde e na esfera familiar e socioeconómica teimam em deixar-nos muito ansiosos e desassossegados.

Dentro das próprias angústias as pessoas tendem facilmente a criar cenários assustadores e, mesmo, catastróficos, que não refletem a realidade.

Em situações desta magnitude é por demais importante o recurso ao apoio psicológico para nos ajudar a lidar não só com o nosso leque de emoções perturbadoras como também para adquirirmos resiliência, que de acordo com o psicólogo William James, é “a capacidade da pessoa para, perante uma adversidade, uma ameaça ou desafio, se adaptar psicológica, emocional e fisicamente razoavelmente bem e sem prejuízo duradouro para si, para o seu relacionamento com os outros ou para o seu próprio desenvolvimento como indivíduo”.

Os psicólogos são, portanto, fundamentais mobilizadores da adoção de comportamentos preventivos e protetores da saúde mental e física, face à situação de crise provocada pelo surto infecioso por COVID-19.

Considerando a atual pandemia e de acordo com as medidas de contingência e de segurança divulgadas pela Direção-Geral da Saúde (DGS), os psicólogos restringiram a sua prática profissional presencial e aderiram em uníssono ao modelo de intervenção à distância, o qual não sendo uma solução definitiva, é uma opção eficaz e efetiva.

Este modelo de intervenção psicológica não é emergente da recente imposição de isolamento social. Efetivamente, desde há alguns anos tem vindo a revelar-se como inegável recurso de ajuda psicológica de quem, por diversos motivos, não reúne condições para se deslocar ao gabinete de psicologia.

Presencial ou à distância, a intervenção psicológica é criteriosamente baseada na evidência científica e no cumprimento do Código Deontológico dos Psicólogos. Um elevado número de estudos científicos comprova os resultados positivos, com redução da sintomatologia e desenvolvimento de recursos necessários para as pessoas se manterem saudáveis. Sendo um ato psicológico é sempre realizada por um psicólogo.

O que é útil saber quando procurarmos a intervenção psicológica à distância?

Face a este modelo menos habitual de consulta psicológica à distância, e sabendo que podem surgir questões associadas, ficam aqui algumas dicas que podem ajudar na decisão de obter ajuda.

  1. Primeiro, é necessário decidir que profissional contactar. Um dos melhores métodos para procurarmos um psicólogo será por referências credíveis de alguém de confiança.
  2. No site da Ordem dos Psicólogos Portugueses, é possível consultar a lista de todos os psicólogos inscritos através do link: https://www.ordemdospsicologos.pt/pt/membros    
  3. O psicólogo garante, tal como na intervenção psicológica presencial, o anonimato da pessoa e a confidencialidade da informação que recebe.
  4. O principal objetivo da intervenção psicológica à distância (tal como na intervenção presencial) é o estabelecimento de uma relação de confiança com o psicólogo para que, em conjunto, possam encontrar as melhores estratégias de ajuda nas dificuldades e/ou sofrimento da pessoa, face à situação de pandemia.
  5. A adequada intervenção à distância, em condições de crise, caracterizada por um trabalho mais intensivo, curto e focado, e pela maior motivação de quem, inesperadamente, foi acometido pelo sofrimento, tem revelado ser mais efetivo do que na ausência de crises.

O que podemos esperar da intervenção psicológica nesta situação de crise?

Sendo que as consultas de psicologia à distância são uma ajuda valiosa em situações de isolamento e crise, como a que agora enfrentamos com os desafios da pandemia por COVID-19, a intervenção psicológica pode ser uma oportunidade única para aprendermos novas formas de lidar connosco e com os problemas, enquanto identificamos e desenvolvemos mecanismos de resiliência. 

Quais os benefícios que podemos ter com a intervenção psicológica à distância?

A intervenção à distância, dependendo de cada caso pessoa, necessidades e objetivos, pode envolver uma ou várias consultas. O principal benefício assenta na capacidade de estabilização emocional da pessoa, dotando-a de estratégias que reduzam a sua sintomatologia e que aumentem os recursos que tem para lidar com as contingências resultantes da pandemia por coronavírus. De modo sucinto, a intervenção psicológica à distância permite vários ganhos pessoais, entre os quais:

  1. As consultas podem ser realizadas com pessoas residentes em qualquer parte do mundo. 
  2. Maior capacidade para gerir estados emocionais negativos, nomeadamente, ansiedade, stress, irritabilidade ou medo.
  3. Capacidade de lidar com experiências difíceis, como a doença, a perda de alguém querido, desemprego, ou violência doméstica, entre outras. 
  4. Definição de estratégias para lidar com o isolamento social e com a solidão.
  5. Melhoria de competências de gestão e de relacionamento familiar.
  6. Aquisição de estratégias de autocontrolo.
  7. Redefinição de rotinas e objetivos pessoais, familiares e profissionais.
  8. Implementação de recursos que visam o bem-estar da pessoa e da sua família.

Considere que perante a absoluta necessidade de cuidados pró-saúde e pró-social, é fundamental que cuide bem de si! Por si e pelos seus, não adie.

As explicações são de Lina Raimundo, psicóloga clínica da MIND – Psicologia Clínica e Forense.