“É de pequenino que se começa a ir ao dentista” - o ditado pode não ser exatamente assim, no entanto a base é a mesma. A ideia de que as crianças não precisam de ir ao dentista ou de ter tantos cuidados, porque não têm tantos dentes ou porque são dentes de leite, está incorreta. Os hábitos para uma boa higiene oral devem ser praticados desde muito cedo, especialmente se tivermos em conta que estes terão um impacto positivo ao longo de toda a vida.

Problemas orais na infância, como cáries, halitose ou bruxismo, podem não só afetar a alimentação da criança, como fazer com que ela se sinta insegura e ansiosa. O rendimento escolar, a qualidade do sono ou a forma de interação com outras pessoas são alguns fatores inevitavelmente impactados pela saúde oral – para o bem, e para o mal -, e que, por sua vez, afetarão a própria vida adulta. Deve-se, portanto, assegurar que as crianças percecionam a saúde oral como essencial no seu dia a dia.

Porém, segundo o Barómetro da Saúde Oral de 2021, 73,4% dos menores de seis anos nunca visitaram o médico dentista, número que tem vindo a subir nos últimos anos. Então, o que devem fazer os pais e educadores para que este número comece a descer?

Apesar de em outubro se assinalar o dia mais assustador do ano, cuidar da saúde oral das crianças não precisa de criar terror no quotidiano, sendo que existem vários comportamentos que qualquer adulto pode adotar para garantir uma rotina vantajosa.

  • Explicar que se devem lavar os dentes pelo menos duas vezes ao dia. As crianças tendem a imitar os adultos, desde tenra idade, o que pode ser bastante pertinente nestas alturas. Os pais e os educadores podem criar momentos conjuntos com as crianças, onde ambos lavam os dentes ao mesmo tempo, de forma a potenciar esta rotina no quotidiano infantil.
  • Demonstrar os movimentos de escovagem. Para assegurar que a escovagem é bem feita, e que a criança levará esse comportamento até à sua vida adulta, os adultos devem explicar, de forma visual, os movimentos indicados. A escova deve estar inclinada entre os dentes e a gengiva, num ângulo de 45º, e os movimentos devem ser circulares. Além disso, a criança deve entender que os dentes devem ser lavados em pequenos grupos, e não todos ao mesmo tempo.
  • Ajudar as crianças a utilizarem o fio dentário. O adulto deve assegurar que a criança faz uma limpeza completa aos dentes, auxiliando-a no uso do fio dentário. Crianças até aos 8 anos requerem que sejam os pais ou os educadores a finalizar a rotina.
  • Assegurar que as gengivas não ficam magoadas. Quando a criança estiver a manusear o fio dentário, o adulto deve garantir que não é utilizada demasiada força. O sangramento da gengiva é um sinal de alerta e requer uma visita ao médico dentista.
  • Incentivar os legumes e a fruta na alimentação. Alimentos ácidos e açúcares são propensos ao surgimento de cáries e tártaro. Os adultos devem, então, reduzir ou evitar a ingestão destes alimentos na dieta da criança e incentivar o consumo de frutas e legumes, que previnem problemas orais e, em alguns casos, promovem a autolimpeza dos dentes – como a maçã ou a cenoura.
  • Normalizar as idas ao dentista. Quanto mais cedo começam a ir ao dentista, menos ansiedade as crianças sentem face a esse momento. As consultas devem começar a acontecer ainda antes do surgimento dos primeiros dentes, para prevenir e cuidar de algumas patologias que podem surgir com o tempo. Além de essenciais às crianças, estas consultas ajudam os pais a compreender melhor o seu papel no cuidado da higiene oral dos filhos.

No que toca à saúde das crianças, a higiene oral é muitas vezes descurada. Porém, quando potenciada de forma correta, as patologias dentárias nas crianças podem ser solucionadas com sucesso. Como em qualquer área da saúde, mais importante do que tratar, é prevenir, e estas pequenas dicas podem fazer com que a saúde oral dos mais pequenos esteja assegurada.

E não se esqueça: a imaginação pode ser o caminho. Porque não criar uma história e levar a criança numa viagem fantasiosa, criando um momento divertido na hora de cuidar dos dentes?

Um artigo da médica dentista Eliana Castro, da MALO CLINIC Coimbra.