“Amor e luto, vínculo e perda são duas faces da mesma moeda. Não se pode ter uma sem ter a outra.

O luto é o custo do amor e a única maneira de evitar a dor do luto é evitar o amor. O entanto, a maioria de nós prefere pagar esse preço a viver uma vida sem afeto”.

Os animais de estimação são atualmente parte da família, sendo de certa forma personificados. Os animais estão em toda a parte desde os desenhos das crianças ao conceito de família de adolescentes, adultos e idosos. Aliás, são verdadeiros parceiros de aventura na infância e adolescência e companheiros de vida na idade adulta e na velhice. Têm a fenomenal capacidade de estimular a produção de ocitocina, a hormona do Amor, através do afeto e da sua companhia, melhorando deste modo a autoestima e o bem-estar físico, social e emocional dos seus donos.

Dependendo do vínculo criado com o animal de estimação, a sua morte pode levar à instalação de um processo de luto idêntico à morte de um familiar ou amigo.

O luto é o conjunto de reações pessoais a uma perda significativa, podendo algumas pessoas passar por fases de raiva, desesperado e negação que vão amenizando com o tempo. Trata-se assim de um processo que leva tempo e que é muito pessoal, não devendo apressá-lo.

Ter consciência de que os animais vão ter uma esperança média de vida menor do que a nossa parece ajudar a aceitar a morte como algo natural e a iniciar o processo de luto. Compreender e interiorizar este aspeto revela-se imprescindível desde que um animal de estimação entra na família.

Assistimos todos os anos ao roubo e ao desaparecimento de imensos animais de estimação que podem levar ao desenvolvimento de processos de luto igualmente dolorosos para os donos. Estes, mantêm a esperança do seu regresso e/ou devolução e imaginam o possível sofrimento do animal por não estar no seu espaço e por não ter carinho, o que dificulta a resolução do seu processo de luto.

No entanto, apesar da intensidade do processo de luto consequente da perda de um animal de estimação, este trata-se de um luto não reconhecido ou autorizado na nossa sociedade, uma vez que a morte do animal ainda é considerado um assunto trivial ou de pouca importância. Esta desvalorização acaba por intensificar as reações e sentimentos de tristeza, raiva, solidão, culpa ou angústia experimentados, sendo que a ausência de suporte e a não preparação para a morte do animal podem levar à instalação de um luto complicado.

O que fazer para ultrapassar a perda?

-Estar presente no momento da Eutanásia pode revelar-se imprescindível e promotor do início do processo de luto;

-Desculpabilizarmo-nos. A culpa é um sentimento muito frequente e associado à eutanásia, podendo ser essencial para refletir sobre o que levou à decisão de eutanasiar o animal;

-Respeite o seu processo de luto e a sua dor. Não compare a sua dor com a dos outros, cada pessoa sabe o significado que o animal teve na sua vida.

-Ajustar-se às mudanças e retomar as atividades quotidianas;

-Se tiver crianças em casa explique-lhes o que aconteceu e permita que se despeçam do animal com uma cerimónia de despedida;

-Partilhe as suas emoções e pensamentos;

-Cada animal é único e adotar outro animal imediatamente após a perda pode não ser o mais indicado. Adote outro animal só quando se sentir preparado e se esse for o seu desejo;

-Se necessário procure um psicólogo. Perdeu alguém importante para si e tal como tem o direito de estar feliz, também tem o direito de estar triste e de sentir esta perda.

Um artigo de Joana de Almeida, Psicóloga Clínica e da Saúde na Psicologias da Joana.