No texto sobre o sofrimento que as pessoas com perturbações alimentares têm durante a quadra natalícia, foram enumeradas dicas para poderem superar a época com maior serenidade. No entanto, ultrapassar a quadra não significa ter a doença controlada. E, nesta altura de resoluções de novo ano, é importante manter o foco e ser realista quanto aos objetivos terapêuticos das pessoas que sofrem com estas perturbações.

Em primeiro lugar, é importante conhecer quais são as principais perturbações alimentares que, embora sejam mais prevalentes em mulheres jovens, afetam pessoas de ambos os sexos e de diversas faixas etárias.

Anorexia nervosa: obsessão extrema com perda de peso ou com exercícios. É caracterizada por uma distorção da imagem corporal, acompanhada de fome voluntária extrema ou de exercícios excessivos – está intimamente associada ao perfeccionismo e à depressão e é a perturbação psiquiátrica mais mortal. Os sinais comportamentais mais comuns de anorexia incluem dieta extrema, rituais alimentares obsessivos e comportamentos solitários e antissociais.

Bulimia nervosa: é caracterizada por ciclos frequentes de ingestão excessiva de alimentos por compulsão, seguidos de purgação. A purga, geralmente, é feita por vómito autoinduzido, mas, às vezes, pode incluir o uso de laxantes, diuréticos ou comportamentos compensatórios não purgativos, como o jejum ou exercícios físicos excessivos. Os sinais de bulimia incluem comportamentos alimentares incomuns, flutuação de peso, uso frequente da casa de banho e evitamento de eventos sociais.

Perturbação da Compulsão Alimentar Periódica: é caracterizada por episódios recorrentes de ingestão excessiva não acompanhados de comportamento compensatório. Como resultado, quem tem esta perturbação costuma estar acima do peso ou obesa(o). Pessoas com esta perturbação tendem a comer muito mais rapidamente do que o normal e não param até se sentirem desconfortavelmente saciadas. Consomem grandes quantidades de comida, mesmo quando não estão com fome, e fazem-no sozinhas, por vergonha.

Embora a anorexia, a bulimia e a perturbação da compulsão alimentar periódica sejam as mais conhecidas, existe uma série de outras condições, devidamente classificadas no DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais)

Como se tratam as perturbações alimentares?

O tratamento psicológico mais eficaz para estas perturbações centra-se ativamente na mudança de comportamento, havendo um foco na mudança de hábitos e no estabelecimento de metas, de forma que a pessoa desempenhe um papel ativo no desenvolvimento de uma relação mais saudável com a alimentação e consigo própria. A terapia cognitivo-comportamental pode ajudar, ensinando técnicas para reestruturar o pensamento e colocar menos ênfase na comida.

A recuperação de uma perturbação alimentar pode ser uma estrada longa e difícil, mas concretizável com apoio especializado. E, uma vez em recuperação, as pessoas devem continuar a observar e a adaptarem-se constantemente para evitar contratempos e recaídas. O tratamento psicológico pode fornecer as competências necessárias para isso.

A recuperação significa que uma pessoa não preenche mais aos critérios de diagnóstico para uma perturbação alimentar e essa experiência será diferente para todos, na medida em que o profissional desenvolve um plano personalizado para o tratamento, desde a mudança de hábitos alimentares, apoio social, autoconceito e autoestima, até às técnicas de enfrentamento.

É importante que esteja ciente:

  • Dos sintomas das perturbações alimentares e da sua gravidade, pois desta forma poderá ajudá-la(o) a determinar a utilidade da terapia.
  • Que a terapia cognitivo-comportamental pode ajudar a intervir em pensamentos e comportamentos alimentares desordenados para construir uma relação mais saudável com os alimentos e consigo própria(o).
  • Que a terapia pode ajudar a formular planos de exercícios ou de atividades substitutas dos comportamentos disfuncionais.
  • Que os psicólogos são treinados na prática baseada em evidências, o que significa que ajudam os clientes a aprenderem competências que a investigação mostra ser eficaz.
  • Que uma abordagem multidisciplinar (com nutricionista, médico de família, psiquiatra) pode ser muito mais vantajosa para a pessoa.

As perturbações alimentares são prevalentes na nossa sociedade, que parece valorizar a forma, o peso, a saúde e a boa forma física, acima de tudo. Uma vez que certos comportamentos prejudiciais parecem estar normalizados, sobretudo por influência das redes sociais, pode ser difícil descobrir se a pessoa padece de uma perturbação alimentar ou não.

Importa também consciencializar a família, para estarem atenta a mudanças de comportamentos alimentares de quem está próximo. Uma intervenção atempada pode ter efeitos benéficos e duradouros, enquanto uma perturbação já instituída há muito tempo pode demorar mais tempo a ser tratada. Uma coisa é certa: não deve passar por este processo sozinha(o). Procure ajuda especializada para ajudá-la(o) a tratar-se.

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.