“A nova fábrica [do Instituto Butantan] está sendo construída e ficará pronta em cinco meses. A construção será iniciada em novembro até arço [de 2021] (…) Teremos uma fábrica de multipropósito, que vai produzir várias vacinas, entre elas a Coronavac, tendo a capacidade de produção de um milhão de doses de vacinas diariamente”, afirmou Jean Gorinchteyn, secretário de Estado da Saúde do estado brasileiro de São Paulo.

“A partir do momento em que nós recebermos a transferência de tecnologia, a receita do bolo, mais a construção da fábrica que será a grande cozinha para produzir o bolo, teremos sim a possibilidade de produção de um milhão de doses por dia”, acrescentou.

O Instituto Butantan, um dos principais órgãos de pesquisa e fabricação de vacinas do Brasil, subordinado à Secretaria de Saúde do governo regional de São Paulo, participa desde julho nos testes da Coronavac.

Este imunizante, ainda na fase 3 de desenvolvimento, foi criado pelo laboratório chinês Sinovac. No Brasil o laboratório firmou uma parceria com o Instituto Butantan, que incluiu testes em 13 mil voluntários, a compra de 60 milhões de doses e também a transferência da patente.

O medicamento, se conseguir comprovar cientificamente a sua eficácia e for aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), será distribuído no país sul-americano antes de a nova fábrica do Instituto Butantan iniciar as suas atividades, com o governo de São Paulo a esperae receber 46 milhões de doses da Coronavac até ao final deste ano, da China.

Deste total, seis milhões de doses já fabricadas tiveram autorização de importação pela Anvisa aprovada. Também foi autorizada a importação dos ingredientes para fabricar outros 40 milhões de doses da CoronaVac que serão concluídas e envasadas [colocadas nos frascos] no Brasil pelo Instituto Butantan.

O secretário de Saúde ‘paulista’ explicou que a transferência da tecnologia da Sinavac usada na formulação da Coronavac deve acontecer ainda em 2020.

Questionado sobre críticas que a Coronavac enfrenta por parte de apoiantes do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que apelidou o medicamento de “vacina chinesa do Doria”, referindo-se a João Doria, governador de São Paulo, e que também acusou este governante de politizar a vacina, o secretário de Saúde ‘paulista’ negou que o Governo regional explore politicamente o tema para se promover.

“De forma alguma (…). Hoje o governador [de São Paulo, Doria] entende que se nós não tivermos vacina o Brasil não voltará a ser o mesmo país. Nós já vemos vidas e sonhos serem destruídos agora. Ele entende como homem público, como líder, que neste momento que sem uma vacina nós não teremos a possibilidade de o mundo voltar ao normal, especialmente o Brasil”, declarou.

“Isto faz com que ele [Doria] lute pela necessidade não de uma vacina, mas de vacinas. Por outro lado, não é esta mesma forma que o seu interlocutor tem. Desta maneira cria-se esta aparência de jogo político”, acrescentou.

Inicialmente, as negociações da Coronavac envolveram o governo de São Paulo e a Sinovac, sem participação do Governo central, que por sua vez injetou recursos para a compra de outro imunizante contra o novo coronavírus, também em fase final de testes e que está a ser desenvolvido pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca.

Se a Coronavac for incorporada pelo Ministério da Saúde no plano nacional de imunização e enviada aos estados brasileiros ela será paga com recursos do Governo central. Caso contrário, o governador de São Paulo disse que pagará as doses já encomendadas junto a Sinovac.

O secretário de Saúde de São Paulo inicialmente não comentou a posição do Presidente Bolsonaro que cancelou publicamente as conversações entre o Butantan e o Ministério da Saúde do Brasil para incluir a Coronavac na campanha nacional de vacinação contra a covid-19.

“Todas as conversações se mantêm em níveis técnicos, portanto, nós vamos continuar com as conversações junto da Anvisa e do Ministério [da Saúde] de forma técnica, totalmente independente de qualquer bandeira partidária, política”, declarou Gorinchteyn.

Em outro momento, porém, Gorinchteyn disse acreditar que a vacina será incluída no programa nacional e confirmou que um dos caminhos estudados para fazer isto sem o consentimento do Presidente seria aprovar uma lei no Congresso para determinar que o Ministério da Saúde deve comprar qualquer imunizante disponível no país que tiver eficácia comprovada e a aprovação da agência de vigilância sanitária brasileira.

“Setenta e cinco por cento das vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunização [do Ministério da Saúde] são do Butantan, portanto, nós não entendemos e não achamos que isto vá acontecer de forma diferente com a Coronavac”, concluiu.