“Nós vivemos numa situação muito aflitiva. Centenas de milhares de doentes deixaram de ir às consultas, deixaram de fazer tratamentos e estão enfiados em casa cheios de medo”, disse Isabel Saraiva na conferência de imprensa, em Lisboa, em que foi apresentado o movimento cívico #SOSSNS.

Para a presidente da Respira - Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e Outras Doenças Respiratórias Crónicas, que integra o #SOSSNS, é preciso ir aos hospitais, aos centros de saúde, explicar aos doentes que é seguro lá irem.

As pessoas “podem e devem” ir e “devem ter confiança nos seus profissionais de saúde” porque “há circuitos preparados para receber os doentes não covid-19”, defendeu.

No seu entender, “é urgente que isso seja feito sob pena de ser muito, muito tarde”.

“Nós vivemos uma calamidade dentro de outra calamidade”, sustentou Isabel Saraiva, exemplificando que no caso dos doentes respiratórios crónicos houve “uma série de situações que desapareceram completamente”, como a reabilitação respiratória.

Os doentes deixaram de ter prevenção, acabaram as consultas de cessação tabágica e cerca de 60% das vacinas deixaram de ser feitas.

Para resolver esta situação, defendeu Isabel Saraiva, é necessário “um envelope financeiro robusto que consiga pagar aos profissionais, consiga pagar o equipamento, o material e tudo o que é necessário para refazer a recuperação” e “uma decisão estratégica de recuperar a capacidade instalada em Portugal”.

Também presente na conferência, o presidente da Europacolon Portugal - Associação de Apoio aos doentes de cancro digestivo, Vítor Neves, alertou para o que está a acontecer com os doentes oncológicos.

A Europacolon está ligada a 17 mil casos de novos doentes oncológicos por ano, dos quais resultam mais de 10 mil mortes. “Portanto, esta é a situação que se está a viver ao lado da calamidade que é a pandemia”.

Vítor Neves sublinhou que o SNS teve que reagir e está a tentar resolver definitivamente “um problema grave em Portugal”, mas advertiu que estes doentes não podem ser secundarizados.

Estes doentes estão a “deixar de ser tratamento prioritário” com o adiamento de dezenas de milhares de consultas e tratamentos associados “ao medo, ansiedade e angústia que se instalou em casa dos pacientes e dos familiares”, disse, defendendo que o SNS tem de inverter esta posição.

“Estamos a deixar que se calhar as doenças não pandémicas causem maiores consequências financeiras e mortais à nossa população”, lamentou Vítor Neves.

O movimento cívico, que se diz apartidário e aberto a toda a gente e que conta com o apoio das ordens dos Médicos e Farmacêuticos, apresentou hoje um manifesto com “10 decisões urgentes na saúde em Portugal”.

“Esta é uma iniciativa dos cidadãos que estão a reunir-se e a debater algumas ideias importantes para o Serviço Nacional de Saúde porque esta situação de pandemia dá-nos uma grande lição e a maior lição que nós aprendemos foi que uma pequena variação na saúde pode ter um impacto brutal na economia”, disse o bastonário dos Médicos.

Miguel Guimarães advertiu que este impacto pode “perdurar vários anos” e tem reflexos em todas as áreas de intervenção social, o que coloca o desafio de dar resposta às necessidades dos portugueses hoje e no futuro.

“O desafio maior que esta pandemia nos traz é que temos que reforçar a capacidade de resposta do nosso Serviços Nacional de Saúde para em situações semelhantes não deixarmos ninguém para trás”, defendeu Miguel Guimarães.