Amador, mas apaixonado pela corrida e por um estilo de vida que lhe permitiu mudar para a pessoa que é hoje, João Catalão revela que está apreensivo quando ao desenrolar da pandemia COVID-19 e que por isso mesmo pensa em deixar de treinar na rua.

"Até há pouco tempo corri na rua, procurando treinar nas horas de menor fluxo, de manhã bem cedo, ou à noite. Sobretudo à noite, sentia-me seguro, raramente via alguém e não tinha qualquer receio. Mas agora já não é bem assim e estou a ver se consigo uma passadeira para treinar dentro de casa", diz o osteopata, que sem a possibilidade de fazer teletrabalho está há uma semana em casa.

Com a corrida a ser cada vez mais difícil de fazer, João Catalão diz ter a sorte de ter material em casa e tem aproveitado para treinar outras vertentes.

"Em casa tenho-me dedicado ao treino funcional e de força. Há uns meses comprei material para as férias e veio a revelar-se muito útil nesta fase", sublinha em entrevista à Lusa, admitindo que se comprar uma passadeira é só por esta ser uma situação limite.

Mas "não é a mesma coisa, é superaborrecido” e para “encontrar motivação para correr na passadeira só mesmo com música", confessa, acrescentando que nesta altura treinar também não é o seu foco.

"O objetivo agora é manter-me saudável física e psicologicamente", diz, lamentando ter tido de colocar em pausa os planos de treino e a participação na Meia Maratona de Madrid e na Maratona de Londres, entretanto adiadas.

Na mesma situação está Hélio Fumo, atleta profissional e um dos nomes maiores do trail nacional. Com uma média de 200 quilómetros percorridos por semana, Hélio conta em entrevista à agência Lusa que optou por não sair à rua e, consequentemente, não treinar o desporto que o apaixona.

"Estou apreensivo com toda esta situação e a rezar para que tudo corra bem. A prioridade não é a parte desportiva, mas zelar pela minha saúde e da minha família, procurando cumprir o que nos pedem e que passa por ficar em casa. Por isso, como temos uma filha de dois meses, decidi ficar mesmo em casa e treinar aqui", afirma o atleta.

Apesar de ter deixado de correr, Hélio esclarece que tem aproveitado a oportunidade para "fazer outras coisas, um tipo de trabalho que usualmente não há tempo para fazer quando se está a treinar com mais volume".

Ao olhar para o calendário, aquele que foi o melhor português no último Mundial de Trail de 2019, na Serra da Lousã, confessa que já só pensa em 2021.

"As provas foram todas canceladas e só em novembro é que tenho uma prova em agenda a que poderei ir. Até lá, passando esta fase, espero voltar aos treinos e decidi não pensar em 2020 e sim em 2021. Mas não é isso o mais importante. Isto ultrapassa tudo e seria egoísta estar a pensar na minha atividade. Há coisas mais importantes nesta altura", termina.

A resolução do Conselho de Ministros que definiu os contornos do estado de emergência não proíbe a prática desportiva ao ar livre. No documento pode ler-se que estão autorizadas "deslocações de curta duração para efeitos de atividade física", desde que seja praticada individualmente ou, no máximo, por duas pessoas.

Pedro Rocha, coordenador do Programa Nacional de Marcha e Corrida da Federação Portuguesa de Atletismo, aconselha precaução ao usufruir desta possibilidade, mas reitera que pode ser importante para muitos corredores manterem-se "ativos".

"Correr faz parte dos hábitos diários de muitas pessoas e é natural que este impedimento, ou pelo menos maior limitação, tenha implicações no bem-estar físico e emocional das pessoas. Por isso, sugiro que possam aproveitar essa possibilidade, que serve também para espairecer e aliviar o stress que vivemos nestes dias", conclui.

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