É membro da Associação de Empresários da China/Itália e responsável pela confederação dos comerciantes Confcommercio de Milão. Qual é o ambiente na comunidade ítalo-chinesa?

Houve dezenas de casos de ataques contra ítalo-chineses em todo o país nas últimas semanas. A comunidade da península, composta por cerca de 300.000 pessoas, sem contar os 30.000 estudantes e turistas, está a passar por uma situação muito difícil, tanto do ponto de vista económico tanto pela discriminação.

O problema já existia antes, mas hoje vivemos uma exacerbação. Este tipo de crise traz à tona o pior do ser humano. Os italianos hoje estão a ser discriminados no estrangeiro. E em Itália, pessoas que antes não se incomodavam com os chineses, de repente veem-nos como propagadores do vírus.

Os laços entre Itália e China ainda são muito fortes?

Gostaria de falar apresentando factos. Empresas e cidadãos ítalo-chineses, particularmente no norte da península, fazem parte do tecido económico italiano. O comércio entre os dois países ultrapassa os 40 mil milhões de euros. E os cidadãos chineses que vivem aqui, com ou sem nacionalidade italiana, gastam o seu dinheiro aqui, pagam o sseus impostos aqui e investem aqui. Eu moro aqui há 30 anos e sinto-me como um cidadão deste país.

Em Milão, a maioria dos comerciantes de “Chinatown” fechou as portas há alguns dias, quando a crise do coronavírus eclodiu.

Sim, as pessoas quiseram fechar. Estamos muito confusos, somos tão chineses quanto italianos. Estávamos divididos entre as medidas extremamente duras adotadas na China e as medidas mais flexíveis adotadas em Itália.

De qualquer forma, a situação não era economicamente sustentável, as lojas estavam desertas e a faturação entrou em colapso.

Com o anúncio das primeiras mortes em Itália, todos procuravam o paciente zero, que havia infectado os outros, e todos apontavam para um chinês.

No entanto, nenhum ítalo-chinês foi infectado. A comunidade tomou as suas precauções e evita ser instrumentalizada.

Muitos decidiram fechar as suas lojas por uma questão de responsabilidade e de solidariedade pelo momento difícil que Milão está a atravessar. Mas tudo ainda é muito confuso. Não sabemos quando abriremos novamente, será quando a situação melhorar.