“É completamente imprevisível, se formos infetados pelo vírus SARS-CoV-2, saber como vamos evoluir. Portanto, o objetivo é predizer cedo ao diagnóstico quem tem probabilidade de desenvolver a doença de forma severa e complicada”, afirmou hoje, Salomé Pinho, investigadora do i3S da Universidade do Porto.

O projeto, desenvolvido no âmbito da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) ‘RESEARCH 4 COVID-19’, envolve ainda o serviço de infecciologia do Centro Hospitalar do Porto (São António) e uma empresa croata.

Em declarações à Lusa, Salomé Pinho explicou que este “biomarcador promissor”, designado de glicoma (composição de açucares), já estava a ser usado pela equipa de investigadores do i3S para “prever o desenvolvimento e progressão de outras doenças inflamatórias”.

“Temos evidências que este biomarcador tem potencial clínico porque consegue predizer o desenvolvimento de outras patologias inflamatórias, se vão evoluir bem ou mal e até a relação com a resposta à terapia”, avançou.

Nesse sentido, a equipa de investigadores está já a recrutar 100 doentes do hospital de Santo António que testaram positivo para a covid-19, sendo que o objetivo passa por fazer a colheita de sangue destes indivíduos.

“Vamos analisar este biomarcador e em laboratório correlacionar este perfil com a capacidade efetora dos anticorpos. Depois, vamos relacionar o perfil deste biomarcador e o seguimento clínico aos sete e 14 dias após o diagnóstico. Tendo em conta que é uma doença de evolução rápida, temos esta janela de evolução temporal para saber se, nestes dias, o doente está a ter um mau ou bom curso da doença”, esclareceu.

Segundo Salomé Pinho, o projeto, ao usar este biomarcador como “potencial estratificador de risco” na covid-19, vai permitir uma melhor alocação e gestão dos recursos de saúde, nomeadamente, “a necessidade de terapia, cuidados intensivos e ventiladores”.

“A grande pergunta que permanece por responder é: quem vai evoluir mal? Sabemos que é uma doença extremamente seletiva, no sentido em que apenas algumas pessoas infetadas desenvolvem sintomatologia clínica”, concluiu a investigadora.

Com um financiamento de 30 mil euros, este é um dos 66 projetos financiados pela ‘RESEARCH 4 COVID-19’, que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Portugal contabiliza 989 mortos associados à covid-19 em 25.045 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia divulgado quarta-feira.