“Estamos em diálogo com as autoridades russas para conhecer melhor a sua vacina candidata e já solicitamos os dados sobre a eficácia e segurança”, disse hoje a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan em conferência de imprensa.

“Sabemos que já passaram por alguns testes preliminares em humanos e que estão para entrar na fase 3 (de ensaios clínicos), aquela que poderá realmente demonstrar a sua eficácia”, afirmou.

Depois de ter testado em animas e, posteriormente, em algumas centenas de pessoas para descartar possíveis efeitos secundários graves, naquelas que se designam, respetivamente, de fases 1 e 2 de ensaios para uma vacina, a fase 3 implica que a vacina seja testada, idealmente, em pelo menos 30 mil voluntários em zonas onde o vírus circule ativamente.

Nesta terceira fase, metade dos participantes são injetados com um agente placebo (neutro) e os restantes com a vacina, com o objetivo de validar a eficácia do medicamento comparando os resultados dos dois grupos.

“Esperamos discutir com as autoridades russas, analisar os dados disponíveis e discutir sobre os requisitos e estudos complementares e sobre os estudos que possam ser necessários”, explicou Soumya Swaminathan.

O diretor do Centro de Microbiologia e Epidemiologia Gamaleya, Alexandr Ginzburg, anunciou na semana passada que a vacinação voluntária em massa na Rússia contra a COVID-19 deveria arrancar em setembro.

Atualmente, a OMS tem registadas 30 candidatas a vacina contra a COVID-19, em fases distintas dos ensaios clínicos.

Em maio, a organização publicou os requisitos daquilo que considerará uma vacina eficaz e segura que, segundo a OMS, deverá assegurar um mínimo de 30% de proteção.

Em termos de segurança, os estudos atuais avaliam os possíveis efeitos indesejados a curto prazo, mas Soumya Swaminathan esclareceu que qualquer vacina aprovada deverá ser avaliada a longo prado “porque há alguns efeitos secundários que só se podem verificar passado um determinado período de tempo”.

“Por isso, os ensaios têm de ser realizados de acordo com as normas e padrões existentes, para que os especialistas possam analisar os dados e para que se possa tomar uma decisão sobre se a vacina deve ou não ser aprovada”, sublinhou.

Na mesma conferência de imprensa, o assessor do diretor-geral da OMS, Bruce Aylward, recordou que a organização só avalia vacinas que tenham passado pelo seu processo de pré-qualificação de emergência e, até ao momento, a Rússia não solicitou que a sua vacina fosse avaliada nesse âmbito.

Entretanto, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, adiantou que a plataforma ‘COVAX’, criada para garantir o acesso global e igualitário à vacina ou vacinas que venham a ser desenvolvidas, já conta com 172 pedidos para participar.

Destes 172 países, apenas 80 têm capacidade de financiar a aquisição da vacina, estando os restantes dependentes de apoio financeiro.

“Os estudos indicam que a competição global por doses de vacinas pode fazer aumentar o seu preço de forma exponencial em comparação àquilo que seria um esforço de colaboração como a COVAX”, sublinhou Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O responsável também referiu que investir nessa plataforma, que já conta com nove vacinas no portfolio, é “o caminho mais rápido para travar esta pandemia”, uma vez que permitira assegurar que todos os países teriam igualmente acesso à vacina, assim que começasse a ser comercializada.

 A pandemia de COVID-19 já provocou pelo menos 809 mil mortos e infetou mais de 23,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.