Em 06 de agosto a comissão de inquérito da Ordem dos Médicos divulgou um relatório em que avaliou as circunstâncias clínicas do surto de COVID-19 num lar em Reguengos de Monsaraz, o qual foi esta semana alvo de críticas pelo presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP).

“Como diz o nosso povo: Cada macaco no seu galho. Não faz sentido que uma instituição qualquer - ainda que seja a Ordem dos Médicos, que não é uma instituição qualquer –, vá para dentro de um lar, onde não é obrigatório ter médicos, fazer uma auditoria”, disse esta semana à Lusa o presidente da UMP, Manuel Lemos.

Hoje, uma nota do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a COVID-19 diz que na sequência dos “factos e declarações” recentemente vindas a público, que não nomeia, sobre o surto ocorrido num lar de idosos em Reguengos de Monsaraz, a Ordem dos Médicos reafirma que “todas as medidas de fiscalização e auditorias externas que contribuam para a melhoria assistencial e a prevenção de acontecimentos nefastos devem ser aproveitadas para melhor combater o atual surto e situações futuras”.

A nota insiste na importância de lideranças na saúde que sejam “claras, fortes e independentes”, e na necessária adequação de meios para “uma resposta de qualidade a todos os doentes”.

O gabinete da ordem manifesta “todo o apoio e solidariedade para com a equipa de auditores da Ordem dos Médicos que contribuiu, de forma graciosa e oportuna, em apenas duas semanas, para apurar os factos numa matéria tão sensível, e que se centrou nos doentes e nas vítimas”.

Defende que é preciso “assegurar que os médicos portugueses vão continuar no terreno ao lado dos seus doentes, seja presencialmente nas urgências, nos internamentos, ou nos gabinetes de consulta, ou por videoconferência em reuniões científicas ou na comunicação social, ou na vigilância epidemiológica e implementação de medidas de controlo da pandemia, num esforço de conciliação acrescido nesta fase extraordinariamente difícil, mas que tem sido essencial para o conhecimento mais profundo da atual pandemia e do seu impacto nos doentes COVID e não COVID”.

O Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a COVID-19 alerta que continuará “a acompanhar a atual pandemia, zelando pelos direitos dos doentes, sobretudo dos mais frágeis, e sem abdicar do dever de denúncia e de recomendações construtivas”.

O surto de Reguengos de Monsaraz, detetado em 18 de junho, provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 pessoas (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).

O relatório da Ordem dos Médicos concluiu que o lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e apontou responsabilidades à administração, à Autoridade de Saúde Pública e à Administração Regional de saúde (ARS).

A Procuradoria-Geral da República instaurou um inquérito sobre o surto de COVID-19 neste lar e disse esta semana à Lusa que a investigação prossegue e que não há arguidos constituídos.

Portugal contabiliza pelo menos 1.788 mortos associados à COVID-19 em 54.992 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).