Residente na cidade raiana de Elvas, Manuel Carpinteiro desloca-se habitualmente a Badajoz, a cerca de 14 quilómetros, para abastecer a sua viatura e, num dos postos de combustível da cidade espanhola, disse à agência Lusa que o COVID-19 “não o preocupa”, uma vez que tem de “morrer um dia”.

David Manteigas, camionista que com frequência efetua serviços em Espanha, confessou à Lusa, também do outro lado da fronteira, que tem um pouco de “medo” da propagação do surto, mas “normalmente” limita-se a executar o seu serviço naquele país, esforçando-se para ter o menor contacto possível com outras pessoas.

Elvas, no distrito de Portalegre, recebe também diariamente centenas de espanhóis que procuram, principalmente, os restaurantes da cidade, sendo a marisqueira “El Cristo” um dos locais mais frequentados.

“Está igual [número de clientes], não vejo que haja diferença. Do meu ponto de vista não se passa nada, as pessoas estão a fazer um alarido. Os nossos clientes continuam a vir à mesma”, disse à Lusa Rui Sequeira, um dos responsáveis pela marisqueira.

Também o presidente da Associação Empresarial de Elvas, João Pires, considerou que a atividade comercial e a restauração da região se mantém de “forma natural”, afirmando que o momento “anormal” que o mundo está a viver tem de ser encarado com “normalidade”.

“Os casos de coronavírus já estão na Extremadura [região de Espanha onde se situa Badajoz], fala-se em 10/12 casos, mas a questão maior que se mete é se se instala o pânico e aí sim, o nosso comércio e a nossa restauração a depender tanto do país vizinho, aí sim, poderá ser um problema”, disse.

Embora já tenha encerrado equipamentos municipais e cancelado iniciativas, o presidente da Câmara de Elvas, Nuno Mocinha, recusa "alarmismos".

“Eu diria que ainda estamos num período completamente normal e é assim que queremos estar. Ainda continuamos a ter este fluxo normal de um lado e outro da fronteira, dado que é aquilo que aqui é diferente, a própria fronteira”, disse.

“Sem alarmismos, o que há é uma postura que eu acho que deve ser responsável. Todos nós sabemos que mais tarde ou mais cedo teremos casos mais perto, o que quer dizer que temos de nos preparar, sem grandes alarmismos”, acrescentou.

Na zona de Badajoz, há notícia de vários infetados com o surto de COVID-19, tendo esta quarta-feira se registado a primeira vítima mortal, uma mulher de 59 anos, residente em Arroyo de la Luz.

A epidemia de COVID-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.300 mortos em 28 países e territórios.

O número de infetados ultrapassou as 120 mil pessoas, com casos registados em 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 59 casos confirmados.

Face ao avanço da epidemia, vários países têm adotado medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto.

A Itália é o caso mais grave depois da China, com mais de 10.000 infetados e pelo menos 631 mortos, o que levou o Governo a decretar a quarentena em todo o país.

Em Portugal, a Direção Geral da Saúde (DGS) atualizou esta quarta-feira o número de infetados, que registou o maior aumento num dia (18), ao passar de 41 para 59.

As medidas já adotadas em Portugal para conter a epidemia incluem, entre outras, a suspensão das ligações aéreas com a Itália, a suspensão ou condicionamento de visitas a hospitais, lares e prisões, e a realização de jogos de futebol sem público.

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