Segundo a publicação chinesa Sixth Tone, em quase 20 cidades da China é agora obrigatório realizar um teste a cada 48 ou 72 horas para aceder a edifícios, fazer compras ou entrar nos transportes públicos. A estratégia visa manter a política de 'zero casos' de covid-19 sem recorrer a medidas de bloqueio total.  

 O isolamento de Xangai, a "capital" financeira do país, e de importantes cidades industriais como Changchun e Cantão, tiveram forte impacto nos setores serviços, manufatureiro e logístico durante o primeiro semestre do ano. 

 Mas a sustentabilidade do novo modelo é também alvo de debate, numa altura em que as medidas de bloqueio causaram já um forte abrandamento na economia da China, agravado por uma crise no setor imobiliário, que é uma das principais fontes de receita dos governos locais. 

 A corretora China Merchant Securities estimou que o custo com testes de ácido nucleico na cidade de Shenzhen, sudeste da China, entre 6 de abril e 5 de junho ascendeu a cerca de 3,16 mil milhões de yuans (mais de 450 milhões de euros). 

 "Do ponto de vista económico, o bloqueio de Xangai pode fazer com que a China perca pelo menos um bilião de yuans (140 mil milhões de euros) do PIB (Produto Interno Bruto) este ano", disse a empresa, numa pesquisa publicada no início deste mês. 

 "Se o custo com testes regulares de ácido nucleico em Shenzhen for significativamente menor do que as perdas económicas e sociais causadas pelos bloqueios de Xangai, os testes regulares de ácido nucleico devem ser promovidos em todo o país", apontou. 

 Tao Chuan, analista da Soochow Securities, empresa de serviços financeiros com sede no leste da China, estimou num relatório que se todas as cidades de primeiro e segundo nível do país, cuja população somada ascende a cerca de 505 milhões de habitantes, implementarem testes em massa durante um ano, a despesa ascenderá a 1,7 bilião de yuans (246 mil milhões de euros), o que representaria cerca de 1,5% do PIB da China em 2021, ou cerca de 8,7% da receita fiscal pública do ano passado. 

 Embora possa não ser a melhor solução para a China, testes regulares em massa são uma opção menos dispendiosa do que bloquear cidades inteiras, concluiu Tao. 

 Algumas cidades optaram por alargar o prazo dos testes, mas um único caso positivo do novo coronavírus pode desencadear novos testes em massa diários. 

 Hefei, a capital da província de Anhui, disse na segunda-feira que vai realizar testes em massa novamente ao longo desta semana, depois de diagnosticar um caso positivo, menos de sete dias depois de ter suspendido o seu programa semanal de testes. 

 Para atender à procura, as cidades estão a construir centenas de novos centros de teste.  

 O Governo central recomendou que as capitais de província e cidades com 10 milhões ou mais de pessoas disponibilizem pelo menos um local de teste, a uma distância de 15 minutos a pé para cada residente. 

 Este sistema obriga também à contratação de milhares de funcionários de saúde. A Comissão Nacional de Saúde da China estimou que cada funcionário trabalhe seis horas por dia e teste 60 pessoas por hora.  

 Segundo uma estimativa da Sixth Tone, as maiores cidades da China precisam de mais de 100.000 trabalhadores a tempo inteiro para a execução dos testes. Em média, isto corresponde a cerca de 30% de todos os médicos e enfermeiros disponíveis. 

 Segundo a plataforma de recrutamento Liepin, a maioria das cidades contratou dezenas de milhares de funcionários. O pagamento ascende a cerca de 200 yuans por hora (quase 30 euros). 

 A implementação de centros de teste permanentes inclui também gastos com materiais de construção, sistemas de filtragem de ar, câmaras frigoríficas, lâmpadas UV, telemóveis e computadores portáteis. 

 Existem dois tipos de locais de teste: quiosques cuja implementação custa entre 10.000 e 50.000 yuans (1.400 euros e 7.100 euros) e veículos de teste móveis que custam entre 100.000 e 250.000 yuans (14.250 euros e 35.600 euros), de acordo com a publicação.  

 A isto acrescem-se os custos com o reagente para a execução dos testes. A Sixth Tone estimou um gasto total de 90,48 milhões de yuans (quase 13 milhões de euros) por dia. 

 No conjunto, a soma da despesa com funcionários e reagente ascende a 231 milhões de yuan (33 milhões de euros) diários.   

 A agência de notação financeira Moody's prevê um défice orçamental significativo para os governos locais em 2022, sobretudo como resultado das medidas de prevenção epidémica.  

 "As despesas provavelmente permanecerão altas, como resultado de maiores gastos com a saúde e segurança social", apontou a agência, num relatório.