"Isto não é culpa de uma só pessoa, até porque as regras estavam definidas à partida, inclusive a questão dos nomes supletivos nas listas, consoante nós tirássemos cinco ou seis doses de cada ampola de vacinação”, disse à agência Lusa Ana Rita Cavaco.

Considerando que na vacinação contra a covid-19 houve “uma tremenda falta de fiscalização, a que o Governo não se pode alhear”, Ana Rita Cavaco reiterou que “não se pode culpar apenas o coordenador” da ‘task force’.

O coordenador da 'task force' para o Plano de Vacinação contra a Covid-19 em Portugal, Francisco Ramos, demitiu-se do cargo, anunciou hoje o Ministério da Saúde.

Em comunicado, o Ministério esclareceu que a demissão de Francisco Ramos decorre de “irregularidades detetadas pelo próprio no processo de seleção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente da comissão executiva”.

Numa declaração enviada às redações, Francisco Ramos acrescentou que as irregularidades diziam respeito ao processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde daquele hospital.

Ana Rita Cavaco admitiu que “poderá haver aqui uma tentativa de, nestas situações de vacinação indevida, culpar uma só pessoa”, referindo não compreender por que razão Francisco Ramos, sendo presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, “demite-se da ‘task force’ e, por outro lado, continua a presidir à instituição”.

A bastonária adiantou que “os casos de vacinação indevida têm sido denunciados à Ordem já há muitos dias”, que os tem “encaminhado oficialmente”.

“O volume de denúncias que temos recebido na Ordem demonstram-nos que estamos a falar de milhares de pessoas que foram vacinadas, em princípio indevidamente”, declarou, apontando “autarcas, provedores de santas casas, família, amigos, informáticos, pessoas em teletrabalho e muitas outras”.

Segundo a bastonária, a vacinação indevida tem ocorrido quando o país tem “ainda milhares de enfermeiros por vacinar”, assim como de idosos, incluindo os que residem em lares, bombeiros, forças de segurança e estudantes de Enfermagem que “estão fora de qualquer grupo prioritário e que têm ajudado os lares e que estão a receber ensino clínico” para o país poder ter enfermeiros.

“A Ordem ofereceu-se várias vezes para organizar os centros de vacinação, acabámos por escrever isso mesmo ao Presidente da República a semana passada, inclusive com trabalho ‘pro bono’ da nossa parte. Portanto, se isso tivesse acontecido connosco, não tinha havido estes casos de vacinação indevida”, acrescentou.

O Ministério da Saúde indicou que o funcionamento da `task force´ “mantém-se assegurado pelos restantes membros do núcleo de coordenação”, composto por elementos do Ministério da Defesa Nacional, Ministério da Administração Interna, Direção-Geral da Saúde e Autoridade Nacional do Medicamento.

A demissão ocorre numa altura em que são públicas diversas situações de vacinação indevida de várias pessoas em várias regiões do país e no dia em que arranca a vacinação em centros de saúde de idosos com 80 ou mais anos e de pessoas com mais de 50 anos com doenças associadas, numa fase que abrange cerca de 900 mil portugueses.