O que é uma hipoglicemia e como pode acontecer?

Os nossos valores de açúcar no sangue são muito controlados porque necessitamos deste açúcar (glicose) como fonte de energia. Geralmente em jejum, os valores estão algures entre 75 e 110 mg/dL e 2 horas depois de comer geralmente os valores não ultrapassam os 140 mg/dL.

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Quando os valores do açúcar no sangue (glicemia) descem abaixo do valor normal para jejum referimos a existência de uma hipoglicemia. Estes valores são geralmente acompanhados por sintomas "anormais" e que desaparecem com a normalização da glicemia. As hipoglicemias são raras em pessoas sem diabetes e caso realmente existam devem ser investigadas em consulta médica, pelo que é muito importante que os doentes partilhem com o seu médico estas situações.

As pessoas com diabetes para atingirem um controlo adequado da sua situação, fazem geralmente atividade física, têm mais cuidados alimentares (por vezes com necessidade de reduzir o seu peso corporal), aliada a necessidade de efetuarem tratamentos com medicamentos orais ou injetáveis, como por exemplo insulina.

Se numa determinada situação houver um desequilíbrio entre estes três fatores (dieta, atividade física, medicação) podem surgir hipoglicemias. Por exemplo, num dia em que se come menos hidratos de carbono e/ou tem mais atividade física e/ou usou mais medicação, existe um risco aumentado de hipoglicemias.

Hipoglicemia

Em condições de saúde normais, o organismo mantém a concentração de açúcar no sangue dentro de uma margem bastante estreita (por volta de 70 a 110 mg/dl de sangue).

Na diabetes, os valores de açúcar no sangue tornam-se demasiado altos; na hipoglicemia, são demasiado baixos. A hipoglicemia acontece quando os níveis de glicose no sangue descem abaixo dos 70mg/dl.

Valores baixos de açúcar no sangue levam ao incorreto funcionamento de muitos dos sistemas orgânicos.

Quais os sintomas?

Os sintomas associados às hipoglicemias têm início geralmente súbito e podem variar entre  tremores, pulsação acelerada, transpiração desadequada, ansiedade sem razão aparente, fome intensa, irritabilidade. São ainda frequentes as dificuldades de concentração, alterações de comportamento (por exemplo agressividade, outros comportamentos desadequados), fraqueza, sonolência, alterações da visão (visão “nublada”), dificuldade em articular as palavras, dores de cabeça, tonturas, confusão.

Estes sintomas, se não devidamente reconhecidos e tratados, podem evoluir para situações de grande gravidade, podendo existir convulsões que podem evoluir para entrada em coma e eventualmente com risco de morte.

As hipoglicemias são mais perigosas em algum grupo populacional?

As hipoglicemias estão associadas aos riscos mencionados nas questões anteriores. Pode ser difícil reconhecer hipoglicemias em determinados grupos etários – por exemplo crianças e idosos por dificuldade em reconhecer os sintomas e estarem eventualmente dependentes de cuidadores para atuar corretamente. No caso da população mais idosa existem riscos acrescidos associados ao risco aumentado de quedas, à existência de outras doenças e de medicamentos que podem mascarar os sintomas.

Pode haver riscos acrescidos noutras idades, associados à atividade profissional (ex: pessoas com horários variáveis ou com dificuldade em monitorizar os níveis de glicemia) ou também à existência de outras doenças ou medicamentos que interfiram nesta regulação.

Pessoas com diabetes diagnosticada há mais anos e com grandes períodos de pior controlo podem ter hipoglicemias que não reconhecem – os sintomas não aparecem. Aumenta o risco de só serem reconhecidas já em fases de grande sonolência, convulsões ou coma.

As diferentes medicações utilizadas para a diabetes têm também riscos diferentes de hipoglicemia que devem ser conhecidos pelas pessoas com diabetes. As equipas de saúde têm a responsabilidade de transmitir também esse conhecimento pois pode haver o risco de as pessoas alterarem inadequadamente a sua medicação por risco de hipoglicemia.

Os diabéticos controlam bem as hipoglicemias?

As pessoas com diabetes devem ser treinadas em reconhecer, confirmar e tratar adequadamente as hipoglicemias.

Um estudo recente, desenvolvido na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, mostrou que numa semana cerca de 30% de pessoas com diabetes tipo 2 (a mais frequente) tratadas com insulina afirmam ter sintomas associados a hipoglicemias. No entanto, cerca de 50% tiveram episódios de hipoglicemia que não reconheceram.

João Filipe Raposo, médico e Diretor Clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal
João Filipe Raposo, médico e Diretor Clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal créditos: Direitos Reservados

Só 40% das pessoas trataram adequadamente estes episódios apesar de terem recebido informação sobre como as gerir da melhor forma.

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Os sintomas associados às hipoglicemias podem existir noutras situações e por isso podem não ser reconhecidos como tal. Algumas pessoas podem ter também estes sintomas tão frequentes que os desvalorizam e não atuam. Finalmente, temos os perigos associados às hipoglicemias não reconhecidas e que não originam nenhuma ação por parte das pessoas com diabetes e/ou cuidadores.

Como se evitam as hipoglicemias?

As hipoglicemias podem em grande parte ser evitadas se as pessoas com diabetes estiverem devidamente educadas em todos os aspetos relacionados com o controlo da sua diabetes. Assim poderão ajustar os aspetos associados à alimentação, atividade física e eventualmente à medicação a par das necessidades de monitorizar os valores de glicemia.

Os médicos, conhecendo os diferentes riscos de hipoglicemia dos diferentes medicamentos que utilizamos no tratamento das pessoas com diabetes, poderão ajustar também as escolhas das terapêuticas aos riscos associados às hipoglicemias.

Todos os profissionais de saúde têm um papel fundamental no acompanhamento das pessoas com diabetes e mantendo um processo de educação contínua relativo às hipoglicemias.

Os médicos estão alerta para o problema das hipoglicemias?

As equipas de saúde devidamente treinadas no acompanhamento das pessoas com diabetes estão alertas para os riscos das hipoglicemias e tentam transmitir os conhecimentos acerca dos sintomas e das necessárias ações em caso de hipoglicemia.

Os problemas podem surgir se este acompanhamento ou as alterações de terapêutica (farmacológica ou não) forem efetuadas por profissionais que não dominam todos os aspetos associados à diabetes.

A gestão de tempos de consulta e o pouco reconhecimento oficial das necessidades de educação das pessoas com diabetes e da necessária alocação de recursos para estes aspetos, podem condicionar também uma menor eficácia de correta atuação em caso de hipoglicemia.

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O que fazer em caso de hipoglicemia?

A APDP publicou recentemente, na sequência do reconhecimento do problema das hipoglicemias, um manual de educação para profissionais de saúde sobre o tratamento das hipoglicemias de modo a contribuir para a uniformização dos critérios de orientação nesta situação.

De um modo geral, as pessoas com diabetes ou os seus cuidadores devem, no caso de reconhecerem alguns dos sintomas associados, verificar os níveis de açúcar no sangue (se possível) e caso confirmem um valor baixo de glicemia, devem ingerir glicose (o açúcar mais simples e mais rapidamente absorvido). Se não houver glicose disponível podem ser utilizados pacotes de açúcar, bebidas açucaradas ou mel.

Enquanto não houver uma recuperação dos valores de glicemia, só devem ser ingeridos estes tipos de açúcar com intervalos de 10 minutos. Após recuperação dos valores as pessoas deverão comer hidratos de carbono mais complexos (pão, bolachas, etc.).

Deverão depois discutir estas situações com os profissionais de saúde para avaliar necessidade de algum ajustamento na terapêutica.