É verdade que a cama remete sobretudo para o sono e a intimidade, no entanto não faz sentido imaginar que só está garantida a proximidade do casal quando partilham a mesma cama ou sequer quando dormem muito agarradinhos. Seria quase como imaginar que uma relação só é saudável quando as pessoas “não se largam” durante o dia. Um total disparate. 

Os aspetos que pesam nesta decisão do casal vão desde as questões culturais, familiares e de saúde até às condições de habitação. Isto é, pode ser mais vantajoso que as pessoas durmam na mesma cama, em camas separadas ou até em quartos diferentes, dependendo da situação conjugal e familiar de cada um. 

Parece-lhe um absurdo? Pensemos então em casos concretos: um homem que se deita tarde e uma mulher muito matutina, uma pessoa friorenta e outra encalorada, alguém que ressona e uma com insónia (neste caso devem sempre procurar ajuda profissional, já que ressonar não é normal!)… Enfim, são muitos os casos em que dormir na mesma cama pode trazer mais problemas do que soluções para uma relação. Também é importante referir que muitas vezes estas decisões se podem alterar ao longo da vida, o que me parece uma atitude saudável de adaptação a cada fase do crescimento da relação.

Há uns tempos atendi um casal que vinha muito envergonhado com a decisão de dormirem em camas separadas no mesmo quarto. Foi muito a medo que partilharam comigo esta opção, pese embora estivesse a ter um excelente resultado para ambos. Desde então que dormiam muito melhor e por isso andavam muito mais bem-dispostos, tinham mais paciência um com o outro e estavam mais próximos do que nunca. Um contraste enorme com a situação anterior em que a tensão acumulava rapidamente entre os dois, de cada vez que insistiam em dormir na mesma cama, que na realidade significava não serem capazes de dormir quase nada (imaginem não pregar olho só de ouvir a respiração do outro demasiado próxima!). 

Ao contrário de outros casais, aqui tanto um como outro se sentiam felizes a dormir em camas separadas. É importante distinguir este caso de outras situações em que não existe acordo mútuo e em que uma das pessoas “foge” para outro sítio durante a noite (a cama dos filhos, o sofá, o escritório, etc.). Aí sim, podemos considerar esse comportamento como um sinal de alerta e até um risco para o casal. Dormir em camas separadas só será benéfico se corresponder a uma escolha conjunta, consciente e voluntária, trazendo claramente vantagens para o bem-estar de cada um e da própria relação amorosa.

Podemos resumir tudo isto dizendo que a distância física nada tem a ver com distância afetiva e que qualquer decisão pode ser boa para o casal, desde que haja consenso e que não se evitem os temas sensíveis da relação. 

Um artigo da psicóloga clínica Teresa Rebelo Pinto, certificada em Sono pela European Sleep Research Society. Fundadora da Clínica Teresa Rebelo Pinto – Psicologia & Sono, onde coordena uma equipa multidisciplinar.