“Ele já pode voltar à escola, fazer atividades extracurriculares e ir a festas de aniversário. E eu já posso voltar a trabalhar”, disse Marina, a mãe deste pequeno guerreiro, numa conferência de imprensa dada pelo Hospital Sant Joan de Déu, em Barcelona, Espanha.

Marina foi acompanhada por Susana Rives, a hematologista que tratou Álvaro e por Miquel Pons, diretor médico do hospital.

Em Espanha, terapia CAR-T cura criança com leucemia
Marina, mãe do pequeno Álvaro, na conferência de imprensa do hospital. créditos: PIPOP

Hoje Álvaro tem 6 anos e foi a primeira criança com leucemia linfoblástica aguda do tipo B a ficar curada em Espanha graças ao inovador tratamento genético, também conhecido como terapia CAR-T, depois de não ter respondido aos tratamentos convencionais.

As terapias CAR-T, que começam agora a desenvolver-se a um ritmo acelerado, consistem em treinar o próprio sistema imunitário do paciente para que ele possa reconhecer, atacar e destruir as células cancerígenas de maneira direcionada.

Álvaro foi tratado com a terapia CAR-T- 19, desenvolvida pela farmacêutica Novartis, onde o sangue do paciente é removido por uma técnica que permite a separação dos componentes do sangue para os linfócitos T, umas das “células soldados” do sistema imunitário.

“Como os linfócitos T do paciente não são capazes de reconhecer as células malignas, nós procedemos à sua manipulação em laboratório e alterámos a sua informação genética; desta forma, eles aprendem a identificar, e destruir, o antigénio tumoral CD19, que é expresso nas leucemias e linfomas do tipo B”, explicou Susana Rives.

O processo em laboratório demora entre 3 e 4 semanas. Uma vez reprogramados, os linfócitos T são transferidos de novo para os pacientes, através de uma infusão de sangue.

Embora Álvaro seja a primeira criança a beneficiar desta terapia graças ao financiamento do Sistema Nacional de Saúde Espanhol, desde 2016 que o Hospital Sant Joan de Déu promove a participação na terapia com o Kimriah, um ensaio clínico internacional da Novartis com pacientes pediátricos.

Num grupo de 16 crianças, 80% responderam ao tratamento e 62% não apresentam qualquer vestígio da doença 2 anos após o estudo.

Ainda assim, Susana Rives garante que a terapia “ainda não é perfeita”; Álvaro, por exemplo, sofreu de complicações devido à toxicidade neurológica.

O que acontece é que, durante o tratamento, o sistema imunitário luta contra as células cancerígenas e, em 30% das vezes, alguns orgãos ficam inflamados; ainda assim, no Hospital Sant Joan de Déu, os profissionais foram treinados não só para desenvolver esta terapia, como também para lidar com os seus efeitos secundários.

Embora o nome leucemia linfoblástica aguda pareça estranho, este é cancro mais comum em crianças.

Em Espanha, terapia CAR-T cura criança com leucemia
créditos: PIPOP

Álvaro foi diagnosticado com 23 meses.

Cerca de 90% das crianças com leucemia linfoblástica aguda ficam curadas com quimioterapia ou com transplante de medula óssea, mas Álvaro fez parte dos outros 10% e, meses após o transplante, a doença recidivou.

A sua mãe, Marina, que nestes 4 anos leu “todos os estudos sobre tratamentos inovadores”, foi a primeira a falar com os oncologistas do seu filho sobre a terapia CAR-T; depois de alguns exames, a criança mostrou cumprir os requisitos para poder ser sujeita a esta imunoterapia financiada pelo governo espanhol.

Fonte: PIPOP