“A multidisciplinaridade foi fundamental para não cometer exageros após a decisão [de manter o suporte orgânico à grávida em morte cerebral]. Ventilar um corpo morto para levar a bom termo uma vida é uma decisão que, depois de tomada, não é definitiva, sob pena de se poder entrar na desproporcionalidade”, disse Filipe Almeida, presidente da Comissão de Ética do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), onde a grávida esteve internada durante 56 dias.

Segundo o responsável, que falava em conferência de imprensa depois de o bebé ter nascido esta quinta-feira pelas 04:32, era “necessário acompanhar a situação”, designadamente “do ponto de vista da evolução do feto”, pois “podia surgir a indicação clínica de uma doença que pudesse justificar interromper” o suporte orgânico de vida da mãe, de 26 anos, em morte cerebral desde as 12 semanas de gravidez.

Carlos Dias, diretor clínico do Hospital, explicou que a mãe esteve em morte cerebral entre 27 de dezembro e 28 de março, tendo dado entrada no ‘São João’ a 01 de fevereiro, com “24 semanas e uns dias” de gravidez.

“Esteve 56 dias internada em suporte orgânico no serviço de medicina intensiva”, acrescentou.

O responsável destacou também o envolvimento de vários profissionais da instituição e a “equipa multidisciplinar com as diversas especialidades envolvidas”.

De acordo com Carlos Alves, foram as “circunstâncias clínicas maternas” que levaram à opção por fazer, durante a madrugada desta quinta-feira, uma “cesariana urgente”, antecipando o parto previsto para sexta-feira e levando ao nascimento de Salvador, pelas 04:32.

Teresa Honrado, médica dos Cuidados Intensivos, destacou que a instituição “foi capaz de dar resposta a um processo complexo, sempre com muito acompanhamento do pai e da mãe da Catarina”, a praticante de canoagem que no fim de dezembro entrou em morte cerebral devido a uma crise aguda de asma.

A médica acrescentou que “a decisão” de manter a grávida em morte cerebral até que o bebé pudesse nascer “já vinha tomada” quando a jovem de 26 anos foi transferida do hospital de Gaia para o ‘São João’.

“A decisão foi sempre por um bem maior - o bem da vida”, afirmou.

Teresa Honrado afirmou que, durante os 56 dias de internamento, a grávida teve “problemas que o serviço de medicina intensiva foi capaz de resolver”.

Na madrugada desta quinta-feira, “deteriorações respiratórias e dificuldade em ventilar a mãe” levaram a equipa a optar pela cesariana, agendada para sexta-feira, quando o bebé completava 32 semanas de gestação.

O filho de uma grávida em morte cerebral mantida em suporte orgânico naquela unidade hospitalar nasceu esta quinta-feira às 04:32 e está internado no Serviço de Neonatologia.

A mãe da criança estava internada no CHUSJ “em morte cerebral, mantida em suporte orgânico até se atingirem as condições de maturidade fetal necessárias para a realização do parto”, informou na quarta-feira aquele hospital.

A unidade hospitalar indicava ainda que “a família tem sido informada do evoluir da situação e do plano previsto”, que previa que o parto acontecesse na sexta-feira.

Praticante de canoagem, a mãe da criança, de 26 anos, teve um ataque de asma e ficou em morte cerebral quando estava com 12 semanas de gravidez.

Este é o segundo bebé a nascer em Portugal com uma mãe em morte cerebral.