A estratégia 2021-2030 (atrasou-se devido à pandemia) foi hoje divulgada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e está desde quinta-feira em consulta pública.

Os seus objetivos são concretizados em função de quatro pilares: Prevenção, Deteção Precoce, Diagnóstico e Tratamento e Sobreviventes.

Em Portugal, as doenças oncológicas encontram-se entre as principais causas de morte, tendo sido responsáveis por cerca de 25% dos óbitos em 2019 (28.464), “apesar de uma relativa estabilidade na taxa de mortalidade”, entre 2002 e 2017.

“Na análise da evolução das taxas de mortalidade padronizada, verifica-se que as doenças oncológicas são, desde 2015, a principal causa de morte, ultrapassando as doenças cardiovasculares”, lê-se na proposta elaborada pelo Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da DGS.

Segundo o documento, esta inversão das duas principais causas de morte em Portugal é mais marcada nos homens por “diversos motivos”, como maior incidência de neoplasias no homem, distribuição relativa dos principais diagnósticos oncológicos e respetiva mortalidade específica, eficácia das estratégias de saúde pública de mitigação de risco para as doenças cardiovasculares e eficácia das intervenções terapêuticas na área cardiovascular.

O cancro também é a principal causa de anos de vida potencialmente perdidos em Portugal, principalmente os do pulmão (199), da mama (121) e do colón e reto (117).

Analisando os “anos de vida potenciais perdidos”, numa taxa padronizada por 100.000 habitantes, o cancro é responsável por 1.159 anos de vida potencialmente perdidos, seguido das doenças do aparelho circulatório (471), do aparelho digestivo (173) e do aparelho respiratório (107).

De entre os diferentes diagnósticos oncológicos, as principais causas de morte são os cancros do pulmão (17% do total de óbitos por cancro), do cólon (9%), do estômago (8%), da mama e da próstata (7% cada), e hematológicos (9%).

O documento salienta que os 50.151 novos casos de cancro diagnosticados em Portugal em 2018 corresponderam a um incremento de 3.427 novos casos relativamente a 2010.

De entre as 10 causas mais frequentes de cancro, três estão fortemente associadas ao consumo de tabaco e são responsáveis por um em cada seis diagnósticos (cancro do pulmão, da bexiga e do pâncreas), outras duas, apesar de disporem de programas de rastreio de base populacional são responsáveis por um em cada três novos diagnósticos anuais (cancro da mama e cancro do cólon e reto).

O documento refere que “o desenho de políticas públicas eficientes para a mitigação do cancro depende da compreensão dos seus determinantes modificáveis”, nomeadamente o consumo do tabaco, do álcool, o excesso de peso e a obesidade, o sedentarismo, a dieta inadequada e a elevada exposição a radiação ultravioleta.

Nos homens, exemplifica, a eliminação da exposição ao fumo do tabaco, permitiria alcançar uma redução de 81% no cancro do pulmão, 75% no da laringe, 51% no do esófago e 50% no cancro da cavidade oral e faringe.

No caso das mulheres, a eliminação da exposição ao tabaco possibilitaria alcançar uma redução de 62% no cancro da laringe e 58% no do pulmão, e consumir mais fruta permitiria uma redução de 42% no cancro da cavidade oral.

O documento defende que, “dada a relevância epidemiológica do cancro, o rápido desenvolvimento científico e tecnológico, na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças oncológicas, é imperativo capacitar Portugal para acompanhar esta evolução, a melhorar a qualidade da sua ação junto dos utentes em risco, dos doentes e dos sobreviventes, sem descurar o apoio aos cuidadores e familiares”.

“Será igualmente necessário promover políticas multissetoriais que fomentem a evolução para uma sociedade onde os determinantes modificáveis de cancro sejam cada vez menores, e assim reduzir a sua incidência”, salienta.

A Estratégia Nacional de Luta Contra o Cancro será integrada no Plano Nacional de Saúde com horizonte a 2030 e foi alinhada com o Plano Europeu de Luta contra o Cancro, centrada no cidadão, lê-se no documento.